domingo, 22 de fevereiro de 2015

No DF: Câmara no limite da responsabilidade

Celina Leão diz que a reestruturação de carreiras da Casa é inviável

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A Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) amenizou a expectativa de alta nos gastos com pessoal durante os últimos quatro meses do ano passado, mas a folha salarial da Casa ainda cresce em índices superiores à Receita Corrente Líquida (RCL) do DF e demanda prudência nas contas durante todo o ano. ...

Somente a folha salarial do Legislativo local — de R$ 280,9 milhões, em 2014 — consumiu 90% do limite máximo permitido pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Pela norma, as despesas com pagamento de salários na Casa
não podem ultrapassar 1,7% da RCL do DF, mas o Legislativo alcançou, por dois quadrimestres consecutivos, 90% desse patamar, ou seja, 1,53% da receita corrente.

Diante de uma realidade de arrocho nas contas do GDF, o quadro é ainda mais desfavorável porque, além da série histórica de três anos com alta na folha em patamares superiores à RCL, a partir de janeiro deste ano, todos os cerca de 720 servidores e 1,1 mil cargos comissionados disponíveis passaram a receber 6% de aumento aprovados em lei no ano passado, o que acrescenta cerca de R$ 1,2 milhão à folha mensal. Entre 2012 e 2014, a RCL do DF cresceu 22,3%, saindo de R$ 14,3 bilhões para R$ 17,5 bilhões; enquanto a folha do Legislativo subiu 27,1%, saltando de R$ 211,2 milhões para R$ 268,6 milhões. Segundo a presidente da Casa, Celina Leão (PDT), a evolução é monitorada.

“Vamos conter as despesas para manter equilibrada a relação entre o gasto com pessoal e a evolução da receita do DF”, afirma. Sobre o pleito de uma parcela dos servidores de reestruturar as carreiras da Casa, o que deve implicar aumento de despesas em efeito cascata, Celina aponta para a impossibilidade de arcar com novos gastos. “É difícil encaminhar um projeto como esse diante de um quadro econômico desfavorável para o DF e de uma divisão interna entre os servidores, na qual um grupo defende que a medida não traria impacto financeiro, mas outro aponta para aumento nos custos. Com essas situações, como seria possível encaminhar novo projeto de reestruturação das carreiras?”, questiona.

Os R$ 280,9 milhões com despesas de pessoal representaram 79,6% do total de R$ 352,9 milhões gastos pela CLDF em 2014. Despesas com manutenção e custeio da Casa totalizaram R$ 63,3 milhões (17,9%); e investimentos em obras e aquisição de novas máquinas e equipamentos somaram $ 8,7 milhões (2,5% do total). Caso a expectativa de crescimento dos gastos com pessoal não seja contida, a CLDF poderá ultrapassar o limite prudencial da LRF em breve. Se isso ocorrer, a Casa fica impedida de reajustar salários, criar cargos ou funções, alterar a estrutura de carreira dos servidores, contratar pessoal ou pagar horas extras. A situação ocorreu em três oportunidades entre 2007 e 2010 e provocou sérias consequências aos trabalhos administrativos do Legislativo.

Para o professor de economia da Universidade de Brasília (UnB) José Carlos Oliveira, a LRF é importante, pois torna transparentes as metas fiscais a serem atingidas em cada ano. “A LRF permite antecipar metas e estabelecer uma política econômica específica, diante da realidade de gastos e dívidas em relação ao PIB”, explica.

Terceirizados
No mesmo período, entre 2011 e 2014, três dos principais gastos com empresas terceirizadas também sofreram consideráveis reajustes. O custo da vigilância da sede do Legislativo, por exemplo, subiu 118%, saindo de R$ 1,4 milhão para R$ 3,2 milhões. Serviços de limpeza e conservação, que custaram R$ 887 mil há quatro anos atrás, hoje consomem 71,2% a mais, com R$ 1,5 milhão por ano. Já o serviço de socorro e salvamento feito pelos brigadistas da Casa aumentou 125,5%, de R$ 648 mil para R$ 1,4 milhão. Gastos com água e esgoto, energia elétrica e manutenção e conservação de bens, veículos e máquinas também registraram, na média geral, variações superiores a 240%. (AP)

R$ 280,9 milhões
Gasto com a folha salarial da CLDF em 2014


Fonte: Correio Braziliense. Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press