Com a popularidade em baixa e diante da conflagração
de sua base de sustentação no Legislativo, a presidente Dilma Rousseff retorna
nesta quarta-feira, 18, da Base Naval de Aratu, na Bahia - onde passou o
feriado de carnaval -, em busca de uma estratégia para tentar reverter a agenda
negativa que ameaça ser agravada com novas derrotas políticas nos próximos
dias.
O primeiro embate do Palácio do Planalto deve
ocorrer na próxima terça-feira, 24, quando deputados e senadores se reúnem em
sessão do Congresso. Na pauta, está prevista a análise de vetos presidenciais e
a votação do
Orçamento de 2015. Dos vetos, o que de fato acende o alerta no
governo é o que reajusta em 6,5% a tabela do Imposto de Renda para a pessoa
física. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), anunciou na semana
passada, após reunião com sindicalistas, que esse veto seria apreciado nessa
sessão.
O índice foi aprovado por deputados e referendado
por senadores em dezembro, menos de dois meses após Dilma conquistar a
reeleição, derrotando o candidato do PSDB, Aécio Neves, no 2 º turno da eleição
presidencial. A aprovação do reajuste da tabela do imposto foi um sinal de
descontentamento da base aliada com os rumos que a montagem da equipe do
segundo mandato tomava.
Preocupado com o impacto nas contas públicas que o
índice vai acarretar em um ano de ajuste fiscal, o Palácio do Planalto trabalha
para evitar a anulação do veto em troca de uma correção menor, de 4,5%. Mas
mesmo os aliados da petista são céticos em relação à possibilidade de sucesso.
Até lá, há duas estratégias em curso. A primeira é
que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva entre de fato em campo em
Brasília para liderar a rearticulação da base aliada. Na agenda, encontros com
integrantes do PT e do PMDB. Sua ida a Brasília estava prevista para a
quinta-feira, 19, mas ainda não estava confirmada.
Uma segunda estratégia é apostar no adiamento da
sessão, contando, para tanto, com o apoio da própria base. Isso porque o
relator do Orçamento, senador Romero Jucá (PMDB-RR), deu prazo até
segunda-feira, 23, para que novos parlamentares apresentassem suas emendas
individuais. O prazo pode inviabilizar no dia seguinte a votação da lei
orçamentária, o que demandaria o adiamento da sessão.
Em outra frente, a presidente precisa acelerar as
negociações com o Congresso para evitar o "afrouxamento" do pacote da
equipe econômica que endureceu o acesso a benefícios trabalhistas, como o
seguro-desemprego e o abono salarial. Aliados, inclusive do PT, apresentaram
centenas de emendas às duas medidas provisórias que tratam do tema propondo alterações
menos duras.
Também na terça, os líderes da base na Câmara se
reúnem em almoço com os ministros Nelson Barbosa (Planejamento), Pepe Vargas
(Relações Institucionais), Miguel Rossetto (Secretaria-Geral), Manoel Dias
(Trabalho) e Carlos Gabas (Previdência). No encontro, eles argumentarão que a
essência do pacote é corrigir distorções e preservar benefícios sociais, mas
internamente o governo já admite ceder em alguns pontos, como o tempo de
carência exigido para o pagamento do seguro-desemprego.
Diálogo
Diante da crise política que se instalou em
Brasília, com a base "rachada" e o PT isolado de postos estratégicos
na Câmara, Dilma quer sinalizar mais uma vez que está disposta ao diálogo. O
líder do governo na Casa, deputado José Guimarães (PT-CE), procurou as
lideranças partidárias nos últimos dias para comunicar que a presidente
pretende realizar encontros mensais com eles.
O aceno, no entanto, é visto com ressalvas no
Congresso, já que a petista prometeu estabelecer um calendário regular de
encontros com os parlamentares em ocasiões anteriores, mas abandonou a ideia.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: Estadao Conteudo