Queda
de 4,59% nos recursos do Executivo aparece no projeto de Lei de Diretrizes
Orçamentárias (LDO) enviado ontem para a Câmara Legislativa. Mesmo assim, o
governo local acredita em melhora de cenário a partir de setembro
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Além da diminuição da receita, o Palácio do Buriti trabalha com o risco de perder R$ 700 milhões anuais na arrecadação por causa de decisão do TCU(foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press ) |
As receitas do GDF devem cair 4,59% no próximo
ano, e as despesas públicas da capital federal terão de sofrer cortes na mesma
proporção. As informações constam no projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias
(LDO), enviado ontem pelo governo à Câmara Legislativa. De acordo com o texto
elaborado pelo Executivo local, as receitas devem cair de R$ 26,22 bilhões para
R$ 25 bilhões. Somado ao Fundo Constitucional do Distrito Federal, o Orçamento
para o ano que vem deve alcançar R$ 40 bilhões. Diante das dificuldades de
caixa, não há previsão de pagamento de reajustes ou novas contratações em 2020.
Mas o governo ainda aposta em uma melhoria do cenário até setembro, quando será
finalizado o projeto de Lei Orçamentária Anual (LOA) (leia Para saber mais).
O texto da proposta foi entregue no fim da
tarde de ontem ao presidente da Câmara Legislativa, Rafael Prudente (MDB). Os
distritais vão começar a analisar a proposta, que orienta a elaboração do
Orçamento para 2020. O secretário de Fazenda, Planejamento, Orçamento e Gestão
do DF, André Clemente, apresentou os pontos principais do texto ao chefe do
Legislativo.
Além da crise econômica, a queda de recursos
previstos reflete, segundo Clemente, uma determinação do GDF de acabar com a
recorrente superestimativa de receitas. O problema chegou a ser apontado pelo
Tribunal de Contas do DF, que cobrou do GDF uma adequação do Orçamento à
realidade. “O planejamento deixou de ser uma peça de ficção”, argumenta o
secretário da pasta.
A LDO prevê a redução do deficit fiscal de R$ 799
milhões para R$ 343,6 milhões em 2020. “O estreitamento da meta fiscal proposto
propicia uma melhoria da imagem do Distrito Federal no cenário econômico de
curto e longo prazo, ao evidenciar que o Estado está diligente com a liquidez
do caixa e com o saneamento das contas públicas”, defendeu André Clemente, na
exposição de motivos que acompanha o projeto.
Sobre aumentos salariais e nomeações, o
secretário explicou que as medidas serão adotadas “no mínimo possível”. Segundo
ele, a determinação do governo é de seguir uma postura de “conservadorismo”.
“Na finalização da LOA, em 15 de setembro, esperamos um cenário melhor”,
argumentou. O anexo de pessoal só será entregue com a LOA, em setembro, como o
governo federal tem feito desde 2005.
Riscos
A LDO detalha os principais riscos fiscais para
o Distrito Federal. Entre eles está a possibilidade de o governo perder R$ 700
milhões por ano. No começo de maio, o Supremo Tribunal Federal (STF) derrubou
uma decisão do TCU que obrigava o Distrito Federal a devolver R$ 10 bilhões aos
cofres do governo federal. Os valores se referem ao total de Imposto de Renda
que ficou retido na fonte dos salários de policiais e bombeiros do DF pagos com
dinheiro do Fundo Constitucional. A liminar concedida pelo ministro Marco Aurélio
Mello atendeu a um pedido apresentado pelo governador Ibaneis Rocha. Mas, como
não houve decisão definitiva da Corte, o Palácio do Buriti avalia o tema como
risco fiscal.
O GDF também aguarda uma decisão do STF com
relação a outra questão importante: o pagamento da terceira parcela do reajuste
salarial a 32 categorias. O governo quer saber o posicionamento da Corte sobre
a legalidade dos aumentos, que teriam sido concedidos em contrariedade à Lei de
Responsabilidade Fiscal. Se o STF impuser o pagamento, o governo pretende fazer
um cronograma para tentar quitar o débito, sem deixar de atender as demais
despesas do GDF.
A LDO praticamente não prevê aumento de despesa
de pessoal do GDF. Essa rubrica passará de R$ 14,72 bilhões para R$ 14,74
bilhões. Somadas aos gastos de pessoal pagos com recursos do Fundo
Constitucional do DF, as despesas com folha de servidores total passará de R$
20,94 bilhões para R$ 21,35 bilhões.
Reações
A provável exclusão de aumentos salariais para
servidores da previsão orçamentária para o ano que vem provocou reações
negativas dos sindicatos. “Com isso, o governador vai gerar uma frustração
gigante na classe trabalhadora do DF e, sem dúvida, haverá algum tipo de
reação”, avalia a diretora do Sindicato dos Professores (Sinpro) Rosilene
Corrêa Lima. “É insustentável esperarmos mais um ano sem nenhum ganho”,
complementa. Na visão de Rosilene, o GDF precisa buscar outro caminho e
dialogar com as categorias. “O governo precisa, sim, olhar a realidade, mas
também sentar para debater conosco com a perspectiva de algum ganho para os
servidores”, acrescenta.
“O fato de a LDO não trazer nenhuma previsão de
reajuste é uma sinalização de que o compromisso feito com os servidores não
será honrado”, avalia o presidente do Sindicato dos Servidores Públicos Civis
(Sindireta-DF), Ibrahim Yusef Mahmud Ali. Para ele, a notícia negativa vai
gerar embate entre as categorias e o governo. “Alguns setores começaram a
pressionar o GDF. Nós tivemos reunião nas bases nos últimos dias, e os
servidores estavam pressionando para cobrarmos mais. Agora, com certeza, haverá
uma posição mais firme”, prevê.
A presidente do Sindicato dos Empregados em
Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Distrito Federal (SindiSaúde-DF),
Marli Rodrigues, também lamenta a decisão do governo e diz que a categoria
avaliará a questão. “É uma péssima notícia. Acabamos de saber, mas vamos
discutir isso em assembleia no próximo dia 4”, adiantou.
R$ 40.014.382.330
Orçamento previsto para o DF em 2020
R$ 25.018.599.502
Receita do GDF prevista para o próximo ano
4,59%
Previsão de queda da receita em 2020, em comparação com 2019
Orçamento previsto para o DF em 2020
R$ 25.018.599.502
Receita do GDF prevista para o próximo ano
4,59%
Previsão de queda da receita em 2020, em comparação com 2019
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'Na finalização da LOA, em 15 de setembro, esperamos um cenário melhor,' diz André Clemente, secretário de Fazenda, Planejamento, Orçamento e Gestão do DF(foto: Marilia Lima/Esp. CB/D.A Press ) |
Diferenças
entre PPA, LDO e LOA
A Constituição Federal estabelece um modelo
orçamentário para gestão do dinheiro público no Brasil que consiste na produção
de três documentos: o Plano Plurianual (PPA), a Lei de Diretrizes Orçamentárias
(LDO) e a Lei Orçamentária Anual (LOA). O PPA faz uma previsão a médio prazo
das necessidades financeiras. A LDO prevê as prioridades para o ano seguinte,
numa espécie de revisão do que se estabeleceu com o PPA. Por último, a LOA é o
Orçamento propriamente dito, com o detalhamento de todos os gastos previstos
pelo governo para o próximo ano.
Fonte: Correio Braziliense