Presidente
estimula ato em defesa do governo marcado para 26 de maio, tenta pressionar o
Congresso Nacional e flerta com autoritarismo
À
medida que os dias passam, fica mais clara a estratégia traçada pelo presidente
Jair Bolsonaro (PSL) para tentar mudar a legislação do país e implantar suas
ideias no governo. Avesso às negociações com o Congresso, ele conta com o apoio
da faixa mais radical dos eleitores que o escolheram para o Palácio do
Planalto.
Pelo
visto até agora, pode-se dizer que Bolsonaro optou pelo caminho do populismo
para tentar contornar as resistências do Congresso às suas propostas. Sem
sintonia com os parlamentares, ele busca um atalho fora das amarras do
Legislativo.
Nessa
segunda-feira (20/05/2019), o presidente acenou na direção da plateia ao fazer
uma referência positiva à manifestação em favor do governo marcada para o
próximo domingo (26/05/2019). “Nesse movimento espontâneo previsto para o dia
26, [os manifestantes] querem agilidade”, afirmou o presidente durante discurso
na Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan).
A
decisão de realizar a manifestação dividiu os apoiadores do Planalto. Aliada de
peso, a deputada estadual Janaina Paschoal (PSL-SP), por exemplo,
critica a convocação do atoe entrou em atrito com o partido em decorrência
dessa iniciativa.
Os
defensores das manifestações tratam o próximo domingo com uma espécie de “Dia
B” de Bolsonaro. Confiam no sucesso da mobilização para dar suporte ao governo
no embate com o Congresso. Dirigem as críticas, sobretudo, ao Centrão, ala de deputados e
senadores que constitui maioria nos plenários e exige vantagens para votar os
projetos.
Nesse
rumo, o “movimento espontâneo” estimulado por Bolsonaro tem a pretensão de
pressionar o Parlamento pela aprovação das propostas do governo. No primeiro
momento, foca no pacote anticrime e nas reformas administrativa e da
Previdência. Em seguida, se a estratégia funcionar, pauta os projetos
conservadores.
O
presidente demonstra disposição de enfrentar o Congresso desde a semana
passada. Na sexta-feira (17/05/2019), ele distribuiu nas redes sociais o texto
de um internauta com impressões sobre a política brasileira e a afirmação de
que o país é “ingovernável” sem “conchavos” no Legislativo.
Ao
jogar parte população contra o Parlamento, o presidente procura criar condições
para impor sua agenda ao país, sem intermediação dos políticos. Sob a ótica da
democracia, essa é uma postura temerária.
No
regime republicano, os Três Poderes devem manter convivência harmônica e
equipotente. Esse mecanismo estabelece freios e contrafreios destinados a
regular o funcionamento do Estado e coibir eventuais excessos das autoridades
constituídas.
Quando
recorre ao contato direto com a população para suplantar o Legislativo, o chefe
do Executivo atua contra os pilares da democracia reforçados pela Constituição
de 1988. Confronta-se com a autonomia do Parlamento e sobe um degrau na direção
do autoritarismo.
Dois cenários para o “Dia B”
Caso os organizadores confirmem a manifestação de domingo (26/05/2019), pode-se imaginar dois cenários. Em um deles, os apoiadores de Bolsonaro lotarão as ruas de centenas de cidades, darão fôlego para seus instintos arbitrários e aumentarão a polarização política no país.
Em
outra perspectiva, o “Dia B” fracassará e o presidente ficará ainda mais
isolado. Nenhuma das duas hipóteses parece razoável para o Brasil retomar o
rumo da tranquilidade política, necessária para a construção de acordos que
unam a população.
Se a
opção for pela radicalização, certamente a solução para os problemas econômicos
e sociais estará mais distante. Nesse caso, como sempre, os mais fracos serão
os primeiros prejudicados.
Fonte:
Metrópoles