A
Defesa Civil interditou residências em quase todos os dias de abril, o mais
chuvoso dos últimos 10 anos na capital. No DF, há 41 áreas que preocupam mais
as autoridades, por causa do perigo de desmoronamento e colapso
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Maria convive com mofo na cobertura da varanda da residência(foto: Ed Alves/CB/D.A Press ) |
As fortes chuvas que atingiram o Distrito
Federal nos últimos dias causaram estragos e acenderam alertas. Moradores de
algumas áreas sofreram com a enxurrada. Os problemas de anos se acumularam e
provocaram infiltrações, goteiras e alagamentos. O Instituto Nacional de
Meteorologia (Inmet) considerou este abril o segundo mais chuvoso na história
da capital. O volume de água registrado até ontem foi 133,7% maior do que o
esperado para todo o mês.
Na Quadra Sul do Riacho Fundo 2, a dona de casa
Maria Lemos Rodrigues, 50 anos, percebeu mofo na cobertura da varanda, cinco
meses atrás. O teto, com cerca de 3 metros quadrados, está descascando e
apresenta pontos pretos em várias partes. “Tem sido uma dor de cabeça, porque,
além de ficar esteticamente feio, o cheiro incomoda muito. Uma das minhas
filhas tem alergia e, agora, volta e meia tem coceiras na garganta”, lamenta.
A brasiliense está no mesmo endereço há sete
anos. Antes, a família morava em Samambaia, em uma casa na qual as paredes dos
quartos e da cozinha eram reféns de bolor e umidade. “Era só vir as chuvas que
as preocupações surgiam. Ficamos apreensivos, pois é comum relatos de muros e
casas que desmoronam devido à enxurrada”, completa Maria.
Problemas com infiltrações causadas por
goteiras e rachaduras fazem parte da rotina de Valmir Rodrigues, 54, há meses.
O comerciante tem uma mercearia na Rua 10 de Vicente Pires há nove anos. Por
causa das chuvas, ele enfrenta um transtorno visível na estrutura da loja. “A
umidade nas paredes e forros deixam manchas nas pinturas. Moro aqui há 15 anos,
então chuva é sempre sinônimo de sufoco. Além da lama e dos buracos nas ruas,
ficamos preocupados com o que pode acontecer as casas”, ressalta Valmir.
Análises
A Defesa Civil interditou casas em quase todos
os dias de abril. No DF, há 41 áreas de risco e 18 cidades que surgiram nas últimas
décadas sem planejamento e sem sistema de drenagem pluvial. Vicente Pires,
Arniqueiras e Sol Nascente foram as mais atendidas pelo órgão neste mês, com
casos de inundações, alagamentos, invasão de água em residências e queda de
muros.
Para evitar casos como o último, o
subsecretário da Defesa Civil, coronel Sérgio Bezerra, ressalta a importância
da construção de muros de arrimo em vez de paredes de alvenaria sem suporte na
base ou ferro na estrutura. “Também é importante observar o surgimento de trincas,
fissuras, rachaduras. Tudo isso pode indicar risco de desabamento e muitos
casos podem ser evitados com limpeza das calhas, o que impede a infiltração de
água na laje ou em vigas”, destaca Bezerra.
Ele acrescenta que o órgão faz inspeções
preventivas e atua diante de problemas iminentes. Análises mais aprofundadas
não cabem à Defesa Civil e devem ser requisitadas pelo dono do imóvel ou
responsável pela edificação. “Trincas e fissuras denunciam problemas de
infraestrutura. Às vezes, não está caindo, mas é necessária uma investigação,
feita por um engenheiro qualificado. O órgão não faz esses exames
complementares. Vamos ao local, observamos os primeiros sinais e
recomendamos os reparos”, explica o subsecretário.
Professor da Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade de Brasília (FAU/UnB), Daniel Richard Sant’Ana
destaca a necessidade de verificar a fonte do defeito. “Para evitar se chegar a
um ponto extremo, como o desmoronamento, o morador deve acionar algum mestre de
obras para verificar se o problema não se trata de algo que vem de dentro da
casa, como um cano vazando água.”
O especialista compõe um grupo de pesquisa que
busca promover a sustentabilidade. A equipe propõe métodos inovadores para a
drenagem da água. No momento, o grupo pratica simulações para verificar as
melhores opções. Daniel lembra que o principal responsável pela drenagem urbana
é o Governo do Distrito Federal. “Se a rede atual está defasada, cabe aos
órgãos responsáveis implementarem medidas inteligentes que solucionem o
problema. O que não dá é para ficarmos reféns de enchentes e alagamentos”,
critica o arquiteto.
O professor Dickran Berberian ministra um curso
gratuito de problemas e patologias de edificações no Sindicato da Indústria da
Construção Civil (Sinduscon-DF). As aulas ocorrem às segundas-feiras, a partir
das 18h15, na sede da entidade. Apesar de ter iniciado, a programação inclui
temas diferentes a cada encontro. Local: Setor de Indústria e Abastecimento
(SIA), Trecho 2/3, Lote 1.125, 2º andar Inscrições: infrasolocursos@gmail.com.
Mais informações: 3363-8610.
Indícios
Indícios
Confira os principais sinais de que um prédio
ou casa apresentam quando há problemas estruturais:
» Mofo
» Estalos
» Infiltrações
» Vazamentos nas calhas
» Deterioração do concreto
» Bolhas nas paredes ou no teto
» Massas cinzentas na cerâmica
» Trincas nas paredes, na laje e/ou no
reboco
Fonte: Correio Braziliense