Peritos
concluem que universitária não sofreu violência no pescoço, como sustenta a
família dela. Machucados no corpo foram provocados por galhos, pois ele ficou
submerso por 20 horas
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Nathália morreu durante um churrasco com amigos, em um clube militar(foto: Arquivo pessoal ) |
Dez dias após a morte de Natália Ribeiro dos Santos Costa, 19 anos, o mistério sobre o caso começa a ser desfeito. O laudo cadavérico produzido por peritos do Instituto de Medicina Legal (IML) aponta que a universitária foi vítima de asfixia por afogamento e não estrangulada, como sustentado pela família dela. O jovem que estava com ela no Lago Paranoá não deve ser indiciado por homicídio. Contudo, pode responder processo por omissão de socorro.
O resultado da autópsia da estudante indica que
as lesões no corpo dela aconteceram após a morte. Eles foram provocados por
galhos, pois o corpo ficou submerso por 20 horas, até ser encontrado, na tarde
de 1º de abril, uma segunda-feira. A área onde ela se afogou tem três metros de
profundidade. A principal teoria é a de que os jovens foram surpreendidos e,
mesmo sabendo nadar, tiveram dificuldades para reagir em função do consumo de
álcool.
Diferentemente do alegado por parentes de
Natália, o laudo confirma que ela não teve o nariz quebrado ou sofreu qualquer
tipo de agressão anterior ao afogamento, física ou sexual. Ela teria morrido
por volta das 18h de 31 de março, um domingo. A jovem participava de um
churrasco com amigos no Clube Almirante Alexandrino (Caalex), no Setor de
Clubes Norte, administrado pela Marinha.
A 5ª Delegacia de Polícia (Área Central)
continua a investigar o caso. Os agentes aguardam o complemento da autópsia
(como o exame toxicológico), os relatórios do laudo do local da morte e a
liberação do vídeo da câmera de segurança do Grupamento de Fuzileiros Navais,
vizinho ao Caalex. O laudo da mordida no braço do jovem de 19 anos, indicado
como suspeito de um possível crime, também deve ser liberado junto.
Caso
delicado
O delegado Alexandre Godinho disse ontem que
não daria mais informações sobre o caso. De acordo com ele, a ocorrência é
“delicada” e resultou pré-julgamentos do jovem investigado. O morador da
Asa Norte foi detido na tarde de 1º de abril. Ele compareceu espontaneamente na
6ª Delegacia de Polícia (Paranoá), onde foi registrado o boletim por
desaparecimento de Natália. Mas, durante o depoimento dele, bombeiros
encontraram o corpo da garota.
O registro do caso mudou para afogamento e o estudante
de curso técnico foi encaminhado ao IML. Na área especializada, ele passou por
exame de corpo de delito, em decorrência da mordida no braço dele — a qual
disse ter sido realizada por Natália, visando causar ciúmes na namorada dele,
presente no churrasco. Em seguida, o suspeito prestou um segundo depoimento, na
5ªDP, onde chegou algemado e descalço.
A primeira versão do jovem à polícia foi
colocada em xeque, pois, a princípio, ele afirmou desconhecer a vítima. Porém,
as imagens das câmeras de vigilância mostram o casal correndo junto para o Lago
Paranoá, onde Natália foi vista com vida pela última vez.
Advogada da família da vítima, Juliana Porcaro
afirmou que nunca duvidou que a causa da morte fosse afogamento. “Mas, o que
contestamos, é o que ocasionou isso. A Natália sabia nadar”, ressaltou. Ela
alegou que se posicionará oficialmente sobre todos os detalhes do laudo do IML
quando tiver acesso ao material.
“Bêbado”
Segundo o defensor público Carlos André
Praxedes, responsável por acompanhar o jovem investigado, ambos se afogaram no
Lago Paranoá. Ele estava muito bêbado, como disse em depoimento à polícia e foi
confirmado por testemunhas, que incluem as meninas que estavam com Natália no
churrasco”, explica.
Praxedes também nega que o cliente e a
universitária se conheciam. “Trata-se de uma narrativa exagerada, usada para
justificar uma acusação de feminicídio. Diante da lei, considera-se um
assassinato em razão do gênero feminino quando o crime é praticado no ambiente
de violência doméstica e familiar. E ex-companheiros entram nesta análise”,
ponderou o defensor.
Ele diz que o fato de o jovem não ter ajudado
Natália enquanto ela se afogava não pode ser considerado omissão de socorro.
“Ele entrou no lago embriagado, com a Natália. Ali, ambos se depararam com um
declive e o meu cliente conseguiu nadar e voltar a parte rasa. Ele saiu e
olhou, tentando entender o que aconteceu, pois estava em um estado de confusão
mental. Acho fundamental frisar o estado de alcoolismo em que ele se
encontrava.”
Fonte: Correio Braziliense