“Porque defendo a prisão domiciliar para José Genoino”
A insensibilidade
humana não é das características elogiáveis em um povo, nação ou ser humano.
Quando esta se manifesta, algo se perdeu. Em cada um. Em todos. ...
José Genoino é um homem de
67 anos. Doente, cardíaco e frágil.
Também é um corruptor
condenado cumprindo pena.
A sociedade – e o Estado
de Direito – tem que saber em nome da civilidade, unir estas pontas soltas que
a vida de Genoino deixou acontecer.
Não bastaria que o nome de
José Genoino esteja para sempre lançado no rol dos culpados? Que esta anotação
(biográfica e penal) seja eterna? Pelo que fez?
Genoino – é importante que
se diga – sabia, sim, das armações mensaleiras de Dirceu e Valério. Ninguém
ousaria apor a assinatura duplamente, como
presidente de partido e em nome
pessoal como avalista, em um contrato creditício que não se sustentava.
Sem razão de ser, sem
garantias e sem a menor possibilidade de ser pago. Este foi o crime de Genoino.
Ser conivente e cúmplice.
São fartas as provas e a
lógica do agir criminoso. Genoino sempre soube do que se tratava. De que era um
empréstimo para não ser pago. Qualquer execução – era avalista – levaria à
ruína ele próprio e a família. Tinha a certeza da farsa impune.
Isto justifica deixar em
risco um homem de 67 anos em uma cadeia? As cadeias no Brasil são
monstruosidades? Sim, são. E por isso se justifica virar as costas à realidade?
A verdade é que Genoino é
um homem doente. Perdeu a saúde e com ela, até a independência que sempre teve.
Depende de médicos, amparo e decisões de terceiros.
Não está apto a ser
deputado, vereador ou síndico de prédio. Mas sempre será um ser humano.
Defendi uma junta médica
para analisar o caso de Genoino. Foi feita e comprovou o pior. Infelizmente é
um homem em risco de morte.
Que seja dado a Genoino o
direito de cumprir a prisão em sua residência, perto dos seus e distante – o
quanto puder – de intercorrências que possam abreviar-lhe a vida.
Ele foi condenado à prisão.
Não à morte.
A pena maior que qualquer
ser humano pode ter estará sempre, até o último dia de Genoino, sendo cumprida.
O nome no rol dos culpados. De onde não sairá.
A sociedade que deseja
vingança perdeu a noção de justiça.
Não advogo o mesmo modus
operandi (do qual já fui vítima) de meus adversários (que acabaram – alguns –
por ser inimigos) como padrão ético. Seria nojento se assim fosse. O mesmo nojo
que sinto pelos desejos de morte a colunistas que têm “bolotas na cabeça” ou a
mim, que pretendem “urinar no meu túmulo brevemente”.
Assim, sei do que falo.
Espero e defendo a prisão
domiciliar para José Genoino.
Sem nunca desculpar os
crimes que cometeu e pelos quais foi justamente condenado.
Que cumpra a pena, dentro das
regras do Estado de Direito.
Não desejo e nem preciso,
para ver minha esperança renascer, de assassinar um idoso doente.
Ao perder a sensibilidade
e moral, não creio que reste muito a um homem.
Não perderei.
Fonte:
Blog do Reynaldo-BH-Coluna do Ricardo Setti-Revista Veja - 23/11/2013