domingo, 24 de novembro de 2013

(OPNIÃO) “Espero e defendo a prisão domiciliar para José Genoino

“Porque defendo a prisão domiciliar para José Genoino”

 A insensibilidade humana não é das características elogiáveis em um povo, nação ou ser humano. Quando esta se manifesta, algo se perdeu. Em cada um. Em todos. ...

José Genoino é um homem de 67 anos. Doente, cardíaco e frágil.

Também é um corruptor condenado cumprindo pena.

A sociedade – e o Estado de Direito – tem que saber em nome da civilidade, unir estas pontas soltas que a vida de Genoino deixou acontecer.

Não bastaria que o nome de José Genoino esteja para sempre lançado no rol dos culpados? Que esta anotação (biográfica e penal) seja eterna? Pelo que fez?

Genoino – é importante que se diga – sabia, sim, das armações mensaleiras de Dirceu e Valério. Ninguém ousaria apor a assinatura duplamente, como
presidente de partido e em nome pessoal como avalista, em um contrato creditício que não se sustentava.

Sem razão de ser, sem garantias e sem a menor possibilidade de ser pago. Este foi o crime de Genoino. Ser conivente e cúmplice.

São fartas as provas e a lógica do agir criminoso. Genoino sempre soube do que se tratava. De que era um empréstimo para não ser pago. Qualquer execução – era avalista – levaria à ruína ele próprio e a família. Tinha a certeza da farsa impune.

Isto justifica deixar em risco um homem de 67 anos em uma cadeia? As cadeias no Brasil são monstruosidades? Sim, são. E por isso se justifica virar as costas à realidade?

A verdade é que Genoino é um homem doente. Perdeu a saúde e com ela, até a independência que sempre teve. Depende de médicos, amparo e decisões de terceiros.

Não está apto a ser deputado, vereador ou síndico de prédio. Mas sempre será um ser humano.

Defendi uma junta médica para analisar o caso de Genoino. Foi feita e comprovou o pior. Infelizmente é um homem em risco de morte.

Que seja dado a Genoino o direito de cumprir a prisão em sua residência, perto dos seus e distante – o quanto puder – de intercorrências que possam abreviar-lhe a vida.

Ele foi condenado à prisão. Não à morte.

A pena maior que qualquer ser humano pode ter estará sempre, até o último dia de Genoino, sendo cumprida. O nome no rol dos culpados. De onde não sairá.

A sociedade que deseja vingança perdeu a noção de justiça.

Não advogo o mesmo modus operandi (do qual já fui vítima) de meus adversários (que acabaram – alguns – por ser inimigos) como padrão ético. Seria nojento se assim fosse. O mesmo nojo que sinto pelos desejos de morte a colunistas que têm “bolotas na cabeça” ou a mim, que pretendem “urinar no meu túmulo brevemente”.

Assim, sei do que falo.

Espero e defendo a prisão domiciliar para José Genoino.

Sem nunca desculpar os crimes que cometeu e pelos quais foi justamente condenado.

Que cumpra a pena, dentro das regras do Estado de Direito.

Não desejo e nem preciso, para ver minha esperança renascer, de assassinar um idoso doente.

Ao perder a sensibilidade e moral, não creio que reste muito a um homem.

Não perderei.

Fonte: Blog do Reynaldo-BH-Coluna do Ricardo Setti-Revista Veja - 23/11/2013