Ex-banqueira e ex-secretária de Marcos Valério ficarão em presídio comum de Brasília. Diretora de unidade diz que não haverá privilégios
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Simone Vasconcelos e Kátia Rabelo (de chapéu claro) andam no 19 do Batalhão da Polícia Militar do DF, que é parte do complexo do presídio da Papuda (Daniel Vorley/Frame/Folhapress) |
As duas mulheres presas até agora no julgamento do
mensalão serão removidas nos próximos dias para o presídio feminino da Colmeia,
a 40 quilômetros
do centro de Brasília. Para Kátia Rabello, ex-presidente do Banco Rural, e
Simone Vasconcellos, ex-secretária de Marcos Valério, será o início definitivo
da vida como detentas e de uma mudança radical: há três semanas, elas
viviam em confortáveis apartamentos nos melhores bairros de Belo Horizonte
(MG).
Até agora, a dupla estava alocada no 19º Batalhão da Polícia Militar do Distrito Federal. A unidade fica na entrada do Complexo Penitenciário da Papuda, mas não parece um presídio: as cercas que ladeiam a área são simples, civis e militares transitam pelo pátio, não há muros e, durante o banho de sol diário, as mensaleiras conseguiam avistar a rua. Mas o privilégio vai acabar por ordem da Vara de Execuções Penais do Distrito Federal, que ordenou a transferência das duas para a Colmeia, longe do centro de
A ex-banqueira tem uma pena de 16 anos e 8 meses de prisão a cumprir. Simone foi sentenciada a 12 anos e 7 meses. Ambas terão pela frente uma habitação muito diversa à que estavam habituadas: Kátia vivia em um amplo apartamento no bairro do Sion, um dos mais valorizados de Belo Horizonte. Simone declarou morar em um prédio de luxo no bairro de Lourdes, também de elite. O imóvel de Simone tem cerca de
Na Colmeia, a dupla de mensaleiros terá de se habituar a situações-limite. Além da água fria para o banho e da umidade das celas, o presídio tem uma particularidade nada agradável: é indispensável a tolerância com as baratas que infestam o prédio e incomodam especialmente as detentas que dormem com colchão sobre o piso, por falta de espaço nas camas. Sabonete, xampu e absorvente íntimo precisam ser providenciados pelas próprias detentas – apenas o papel higiênico é fornecido regularmente pela direção do presídio. A comida é frequentemente alvo de críticas.
O prédio onde funciona a
penitenciária feminina foi não foi construído para funcionar como uma cadeia, o
que dificulta a organização das detentas. O local era uma unidade de internação
de menores infratores antes do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Além
disso, presos homens em situação psiquiátrica instável também ficam abrigados
em uma ala da Colmeia.
Crimes – A maioria das
detentas da unidade foi presa por tráfico de drogas. Apesar de o presídio
funcionar com cerca de 20% de superlotação, a ala das condenadas ao regime
fechado – onde ficarão Kátia e Simone – está praticamente livre do
problema. "Em princípio elas vão ficar sozinhas numa cela até a gente
perceber a situação da massa carcerária", explica a diretora do presídio,
Deuselita Martins. Mas, logo no primeiro dia, as mensaleiras participarão do
banho de sol ao lado das outras detentas. Será um teste.
Passado o período de adaptação, Kátia e Simone precisarão dividir uma cela
de nove metros quadrados com pelo menos outras dez mulheres. O banheiro de cada
cela tem um metro quadrado, um vaso sanitário e um cano que verte apenas água
fria e funciona como chuveiro. Deuselita admite que as baratas são um problema,
mas afirma que a situação melhorou após duas dedetizações. O excesso de pombos,
agora, é o que preocupa a direção da unidade.
Se quiserem trabalhar para reduzir a pena, as mensaleiras poderão, por exemplo,
ajudar na limpeza das alas ou se dedicar à costura. Quando ingressarem na
unidade, Kátia e Simone terão de usar apenas roupas brancas ou de cor azul
clara. Itens de marca estão proibidos, para evitar a cobiça das demais
presidiárias. "Aqui, elas serão tratadas exatamente como as outras
presas", afirma a diretora da Colmeia.
Direitos – Apesar do rigor da prisão, as detentas têm direito
a algumas pequenas regalias. Tendo bom comportamento, as presas podem
dispor de uma televisão na cela. Elas também têm direito a receber, de
familiares, 125 reais por mês para gastar em uma pequena venda que funciona
dentro do presídio. Lá, podem comprar produtos de alimentação e de higiene.
Apesar dos problemas, o presídio da Colmeia é considerado acima da média
nacional. Há salas de aula, horta, sala de costura e outros espaços que
permitem a interação entre as presidiárias. Kátia, conformada, até pensa
em dar aulas de inglês para as outras presas. Por isso, é possível que as duas
condenadas desistam de obter a transferência para Minas Gerais, como pediram à
Justiça. Outro fator conta: as cadeias do Distrito Federal são administradas
pelo petista Agnelo Queiroz, figura próxima ao ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva. Além de ser filiado ao PT – o que não é o caso do governador de
Minas, o tucano Antonio Anastasia –, Agnelo se esforça para demonstrar que, no
fim das contas, o sistema carcerário do Distrito Federal não padece dos
problemas do resto do país.
Fonte: Revista Veja