O diagnóstico é de cientistas políticos
ouvidos pelo portal R7.
O
esquema de corrupção e desvio de, pelo menos, R$ 200 milhões da Secretaria de
Finanças de São Paulo durante a gestão de Gilberto Kassab arranhou a imagem do
PSD — partido criado pelo ex-prefeito — e deverá provocar prejuízos à possível
campanha dele ao governo do Estado de São Paulo em 2014 e aos futuros
candidatos do PSD à Câmara e ao Senado. ...
As
declarações do atual prefeito, Fernando Haddad (PT), na última quinta-feira
(31), de que podem existir mais pessoas envolvidas no esquema, além dos quatro
funcionários públicos presos anteontem, reforçam a mancha no ainda jovem
partido de
Kassab, explica Hilton Fernandes, professor da FESP (Fundação Escola
de Sociologia e Política) de São Paulo.
—
Esse escândalo dos auditores tem o poder de prejudicar o partido do Kassab da
mesma forma que a máfia dos fiscais prejudicou o Pitta e o Maluf no ano 2000,
levando à eleição da Marta. Tem um potencial muito grande de prejudicar o PSD.
Ainda mais porque o prefeito Haddad já declarou que tem mais coisa para
aparecer. Isso pode ser uma indicação de que essas coisas só sairão na hora
certa, ou seja, na eleição.
Ontem,
Haddad deu indícios de que os quatro funcionários que participavam do esquema
devem dar detalhes e “expandir a rede”. O petista disse ainda que vai “chamar
as empresas, porque elas têm que prestar esclarecimentos sobre as condições em
que se submeteram a essa prática”.
A
cientista política da USP (Universidade de São Paulo) Maria Tereza Sadeck
engrossa a tese do colega da FESP sobre os prejuízos nas urnas para o partido
de Gilberto Kassab. No entanto, ela reconhece ser necessário aguardar o
desenrolar das investigações para comprovar qualquer ligação entre o grupo
criminoso e pessoas próximas ao ex-prefeito.
—
Arranha a imagem, mas se é muito eu não sei. Depende dos desdobramentos desse
fato. O Kassab já disse que não foi ele quem contratou os envolvidos
estimulando que se investigue mais. Dependerá muito dos desdobramentos. [...] É
muito difícil fazer um prognóstico de tudo que vai acontecer nesse tempo. Muita
coisa pode aparecer ainda.
Entenda
o caso
No
início deste ano, com a criação da CGM (Controladoria Geral do Município), a
Prefeitura de São Paulo passou a fazer, por meio de um sistema informatizado, o
cruzamento de dados entre a declaração de bens de servidores do município e
seus rendimentos.
Foi
esse sistema que permitiu que as suspeitas de enriquecimento ilícito por parte
dos quatro servidores públicos fossem detectadas e desencadeassem a
investigação do Ministério Público — por meio do Gedec (Grupo de Atuação
Especial de Repressão ao Crime de Formação de Cartel e à Lavagem de Dinheiro e
de Recuperação de Ativos) e do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao
Crime Organizado) —, com o apoio da prefeitura e da Polícia Civil.
As
investigações apontaram o envolvimento de quatro servidores — todos concursados
— com o desvio de, pelo menos, R$ 200 milhões entre outubro de 2010 e janeiro
de 2013, quando três deles foram exonerados dos cargos comissionados que
possuíam, por indicação do ex-secretário de Finanças, Mauro Ricardo Costa. Se
levado em conta o período em que o grupo detido atuava, desde 2007, o rombo
pode alcançar os R$ 500 milhões, segundo o MP.
Em
depoimento ao MP nesta quinta-feira (31), o ex-agente de fiscalização Luis
Alexandre Cardoso Magalhães confessou o crime e disse que o esquema desviava
cerca de R$ 250 mil por semana. O promotor do Gedec, Roberto Bodini, explicou
detalhadamente como funcionava o esquema, de acordo com o que foi investigado
até aqui.
—
Ao final da obra, as incorporadoras submetem ao poder público as notas fiscais,
para que sejam feitos os eventuais cálculos do resíduo do ISS [Imposto Sobre
Serviços de Qualquer Natureza]. Essas notas fiscais eram recolhidas pelo
departamento da prefeitura, operado por esses investigados, e eles faziam um
cálculo, chegando a um número real ou irreal. Em cima desse número, eles
exigiam que a empresa, ao invés de pagar ou recolher 100% da guia para a
prefeitura, fizesse o pagamento de parte desse valor para uma empresa que foi
constituída em nome de um dos fiscais e sua esposa na época, e em nome da
prefeitura era recolhida uma ínfima quantia, perto do valor depositado para
essa empresa [do fiscal].
As
investigações continuam em andamento e não está descartado o envolvimento de
outros servidores públicos no esquema de corrupção.
Fonte: Portal R7
- 02/11/2013