Entrevista com Antônio Gomes, secretário-geral do PR
no Distrito Federal.
Os ex-governadores José Roberto Arruda (PR) e Joaquim
Roriz (PRTB) estarão juntos nas eleições de 2014 e já negociam apoio para a
formação de um amplo grupo político. Um dos mentores dessa estratégia é o
advogado Antônio Gomes, secretário-geral do PR, coordenador de campanha de
Arruda em 2006 e que ocupou vários cargos importantes na gestão de Roriz. Em
entrevista ao Correio, Antônio Gomes afirmou que “Arruda só não disputará a
eleição se o matarem ou se for impedido pela Justiça”.
O advogado, que é braço-direito de Arruda, garante
que os dois caciques enterraram as mágoas do passado em torno do projeto de
voltar ao Palácio do Buriti . “Eles esqueceram as diferenças por uma questão
pragmática e estão se juntando porque são
inteligentes, são líderes, e precisam
ganhar a eleição. E só vão chegar lá se fizerem isso juntos”, justifica Antônio
Gomes.
Roriz e Arruda se encontram com frequência em
Brasília e em São Paulo para definir a formação de uma frente de
centro-direita, que pode reunir partidos como DEM, PSDB e PPS. Mas com
problemas jurídicos que podem frustrar os planos da dupla, também não se furtam
a debater um plano B. “Eles vão estar juntos nas eleições de 2014, não tenho
dúvidas. Se um não puder ser candidato, o outro será. Arruda e Roriz têm esse
acordo”, garante Antônio Gomes.
O ex-governador José Roberto Arruda entrou no PR no
último dia do prazo para filiações. Ele será candidato ao governo?
Arruda é candidatíssimo. Ele só não disputará a
eleição se o matarem ou se for impedido pela Justiça. Ele quer voltar para
concluir as mais de duas mil obras que ele começou. O sentimento que ele tem é
que fizeram uma grande armação para tirá-lo do poder. E tiraram. Do contrário,
ele seria reeleito. Estava no auge da popularidade, com mais de 82% de
aprovação. E o Arruda será representante de um grupo político forte. Há um
bloco de partidos que vem conversando com ele e que é grupo de peso. Temos
PSDB, o PPS, que tem hoje a Eliana Pedrosa, uma companheira nossa de muitas
lutas, tem o DEM e outros vários partidos.
E se ele for considerado inelegível pela Justiça?
Nessa hipótese, ele apoiará um companheiro dentro de
sua base aliada. Há pelo menos uma meia dúzia de nomes conhecidos e capazes de
governar a cidade. A união com Roriz vem sendo trabalhada. Eles têm
muitas diferenças, mas estão esquecendo tudo, de maneira pragmática para juntos
ganharem a eleição.
Como estão as negociações entre Arruda e o
ex-governador Joaquim Roriz?
O Arruda tem conversado muito com o governador Roriz.
Eles se encontraram três vezes aqui em Brasília só no mês passado e vêm se
encontrando em São Paulo. E vão se reunir muito mais ainda porque estão
afinadíssimos. Arruda e Roriz vão estar juntos nas eleições de 2014, não tenho
dúvidas. Se um não puder ser candidato, o outro será. Eles têm um acordo.
A relação entre eles ficou muito estremecida porque o
Arruda imaginava que Roriz fosse o mentor da delação premiada do Durval
Barbosa. As mágoas ficaram no passado?
Eles esqueceram as diferenças por uma questão
pragmática e estão se juntando, porque são inteligentes, são líderes, e
precisam ganhar a eleição. E só vão chegar lá se fizerem isso juntos. Então,
eles esqueceram do passado e estão tratando dos interesses comuns. As mágoas
foram esquecidas, está prevalecendo o pragmatismo.
E se nenhum dos dois puder disputar?
Se nenhum dos dois puder, eles vão se sentar e
escolher um terceiro nome. Esse é o quadro. Se os dois puderem, como não pode
haver divisão, eles vão se sentar, trancar a porta, e ao fim da reunião dizer
habemus papa, ou melhor, habemus candidato.
O senhor já foi do Ministério Público e atualmente é
advogado. Como o senhor analisa a situação jurídica do Arruda, que foi cassado
por infidelidade partidária? Acha que ele vai conseguir registrar candidatura
na Justiça Eleitoral?
Hoje, ele não tem nenhum impedimento, está totalmente
livre para ser candidato. Caso seja impedido no futuro, veremos o que fazer. É
claro que a gente tem que pensar nisso, estamos atentos a todos os movimentos,
mas não acredito que isso vá acontecer. Há muitos processos que ele responde,
muitos deles por injustiça e perseguição política. É uma batalha judicial que
ele vai enfrentar mas os advogados estão muito preparados e otimistas.
Na sua avaliação, quem seria mais forte, Roriz ou
Arruda?
As pesquisas mostram hoje Arruda, em qualquer
cenário, está em primeiro lugar. Pertinho do Roriz, mas Arruda está na pole
position. Os dois estão muito bem em qualquer cenário. Roriz e Arruda têm a
consciência de que devem estar juntos para vencer. Todos nós temos essa
consciência, de que sozinhos não vamos a lugar nenhum. Hoje, há uma vontade
determinada desse bloco liderado por Roriz e por Arruda de estar junto.
O Paulo Octávio sempre foi alinhado com o seu grupo,
mas hoje está no PP, um partido ainda na base governista. Acha que poderão
estar juntos?
O Paulo Octávio é um homem desse grupo político e
estamos certos de que vamos estar juntos. Mas está muito longe da eleição e
ainda tem muita água para rolar. Acho que vai haver esse alinhamento e que o PP
virá se alinhar conosco. Cada dia que passa o cenário vai se descomplicando.
Como o senhor avalia os potenciais adversários?
A esquerda estará muito dividida, com três ou quatro
candidatos, o que nos favorece. Do lado de cá, nós vamos sair juntos. Com a
esquerda rachada, se estivermos unidos, vamos ganhar a eleição no primeiro
turno.
O Arruda está disposto a enfrentar uma campanha, em
que os escândalos de 2007 serão todos ressuscitados?
Ele foi para São Paulo, mas o domicílio eleitoral
continua aqui. Ele tem um sentimento muito forte de que ele foi apeado, abatido
do poder, de que fizeram um complô para derrubá-lo. Depois dessa fase grande de
sofrimento, ele está bem de saúde e psicologicamente, disposto a ir para o
enfrentamento. Será uma oportunidade para ele explicar o que aconteceu e
retomar um projeto que foi bruscamente interrompido. Ele tinha mais de 2 mil
obras em andamento, muitas delas aí precisando ser terminadas. O Estádio
Nacional, por exemplo, é um projeto do Arruda, a Torre Digital também. Muitas
dessas obras que o Agnelo concluiu eram do Arruda. E foi uma coisa importante,
porque eram obras para a cidade. O projeto foi interrompido e ele quer retomar
o trabalho. É sonho dele voltar e completar isso.
Depois de ameaças de rompimento, o PMDB decidiu
manter a aliança com o PT para 2014. Como o senhor avalia esse movimento?
Há três ou quatro meses, a gente ainda achava que o
Filippelli poderia sair e vir liderar esse grupo, mas não deu certo. Ele
externou o desejo dele, do partido dele, de renovar a aliança com o PT, com o
Agnelo. A decisão do Filippelli foi importante porque houve uma definição do
quadro político. Isso ajudou a dar uma clareada no cenário. A avaliação que a
gente tem é que isso foi bom, demarcou terreno e de certa forma ajudou os
entendimentos do nosso grupo. Mas foi caminho sem volta, agora ele não sai
mais. O Filippelli tomou o rumo dele, foi atitude correta, mas isso também fez
com que o nosso grupo se unisse mais ainda.
Quem será esse plano B? Muito se fala na deputada
Liliane Roriz, filha do ex-governador…
Teremos o Roriz e o Arruda juntos, esse é o
principal. Ela pode ser a vice, por exemplo. Tudo vai depender dos
entendimentos. Se o Roriz for candidato, o Arruda o apoiará. Mas se não for,
ele quer o apoio do Roriz. O acordo que eles estão tentando costurar é nesse
sentido.
No plano nacional, quem poderá ser o candidato desse
grupo? Aécio Neves?
O Arruda é amigo pessoal do Aécio, não estou vendo
dificuldades na união desses partidos que citei em torno da candidatura do
senador Aécio à presidência. É claro que o cenário nacional pode gerar uma
dificuldade aqui ou acolá, mas que será superada. Com isso, alguém do PSDB pode
ser candidato a vice ou ao Senado, as candidaturas majoritárias estão aí para
serem negociadas.
O senhor foi coordenador da campanha do Arruda em
2006. Será de novo? Ou pretende disputar as eleições também?
Eu também sou candidato, ainda estou examinando o
cenário para decidir se vou concorrer a deputado federal, distrital, ou
suplente de senador. A suplência do Senado é sonho antigo. Na eleição passada
postulei a suplência do Paulo Octávio, mas pelos entendimentos apoiamos o
Adelmir Santana. Agora, tenho dito que é minha vez e não vou abrir mão. Mas só
serei suplente se senador for um homem forte. Isso vai depender do
cenário, mas temos quadros para isso.
Entre os integrantes do PR, quem será candidato?
Além de da minha candidatura, temos hoje no nosso
partido um quadro de muitas pessoas com serviços prestados à cidade, como Bispo
Renato, o deputado Aylton Gomes, o Dr. Charles e Rogério Ulysses. Temos
coringas importantes como Jofran Frejat, que é homem respeitado na cidade e
pode ser candidato a tudo, a governador, senador, federal, ou vice, já que ele
tem uma folha enorme de serviços prestados a Brasília. O PR tem ainda o Laerte
Bessa, que tem muito voto e é líder na área de segurança pública, e o senador
Adelmir Santana, que também é uma reserva nossa. O PR está com uma nominata
muito boa.
Alguns integrantes do PR demonstraram insatisfação e
resistência à chegada de Arruda ao partido. Como lidaram com isso no diretório
regional?
A cúpula do partido nos deu toda liberdade para
fazermos as chapas e coligações que quisermos, sem patrulhamento, sem censura.
Houve casos isolados de resistência por causa de cenários regionais.
E os integrantes do PR que estão no governo, como
Bispo Renato, atual secretário de Trabalho? Isso gera constrangimento?
Ele resolveu isso com o governador Agnelo. Da nossa
parte, não tem constrangimento. Nosso partido é democrático, tem gente de todas
correntes.
A Flávia Arruda, mulher do ex-governador, será
candidata?
Ela está no partido, é jovem, muito preparada. É uma
moça inteligente, um quadro importante do partido como pré-candidata. Sou um
dos que defendem a candidatura da Flávia. Acho que ela seria uma belíssima
candidata a deputada distrital ou federal. Mas não sei se ela será candidata.
Como primeira-dama, ela ajudou muito o governador na parte social. Se quiser
ser candidata, terá todo o apoio do partido.
Fonte: Eixo Capital – Correio Braziliense