Por Artur Benevides
Ave, Ave todos aqueles que “por ignorância e
má-fé” lutam para defender a cidade de um mal maior. A eles todo o meu respeito
e admiração.
A entrevista do governador Agnelo
Queiróz, exibida na televisão, em 05/01/2014nos
trouxe dados e acusações lamentáveis, especialmente se considerarmos a figura
de homem público e de autoridade que representa. Dentre os vários assuntos
tratados, o governador afirmou que todos aqueles que criticam o Plano de
Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília – PPCUB, arquitetos, urbanistas
e grande parte da sociedade, agem por “ignorância ou por má-fé”. Como
assim, governador?
Má-fé é omitir as propostas do PPCUB, enganando a população!
Todas as Audiências Públicas primaram pela superficialidade na análise dessa
caixa-preta. Mais grave se considerarmos que novas propostas foram colocadas na
versão encaminhada à
Câmara Legislativa para aprovação que sequer foram levadas
às Audiências Públicas.E nós é que agimos de má-fé?
Como membro do Conselho Comunitário da Asa Sul,
sinto-me honrada por estar lado a lado de tantas outras instituições e
entidades como o Instituto dos Arquitetos/DF, Conselho de Arquitetura e
Urbanismo, Faculdade de Arquitetura da UnB, Faculdade de Arquitetura da
Universidade Católica de Brasília, Instituto Histórico e Geográfico/DF,
Urbanistas por Brasília, Comitê Brasileiro do Conselho Internacional de
Monumentos e Sítios – ICOMOS, Sindicato dos Arquitetos do DF, Centro Acadêmico
da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo -FAU, Associação Civil Rodas da Paz,
Movimento Amigos da Paz, Prefeitura do Setor de Diversões Sul – Conic, Conselho
Comunitário da Asa Norte, Conselho Comunitário do Sudoeste e Associação
Parque Ecológico das Sucupiras.
Ter ajudado a abortar a intenção do GDF em ver o
PPCUB aprovado pela Câmara Legislativa, a toque de caixa, em dezembro passado
foi a nossa contribuição a uma cidade cuja gestão tem sido temerária. Seria um
golpe sem precedentes entregar milhares de metros quadrados de áreas públicas
para a livre especulação imobiliária. Nunca ninguém ousou tanto.
O governador afirma agora que há SOMENTE 5 pontos
divergentes no PPCUB e que eles serão NEGOCIADOS. Depois de se
comprometer a “Retirar os pontos polêmicos“, agora afirma que serão negociados?
Como assim, governador? Enganar de novo a sociedade é mais uma atitude de
má-fé! Com quem seria essa negociação? É bom lembrar que os problemas do PPCUB
vão muito além dos tais 5 pontos divergentes, pontos estes, vale ressaltar, que
consideramos INEGOCIÁVEIS.
Se após vários anos sendo elaborado, o PPCUB ainda
apresenta tantas propostas divergentes e polêmicas, algo está errado. Faltou
discussão? Pressões da especulação imobiliária? Ou apostaram na falta de
informação da população para aprovar as propostas?
Certamente, o governador não analisou os mais de 200 artigos e 70 planilhas constantes do
Certamente, o governador não analisou os mais de 200 artigos e 70 planilhas constantes do
PL e jamais poderia imaginar que alguém se dispusesse
a fazê-lo. Falhou na imaginação. Revela que a cidade nunca teve um plano de
preservação e mostra-se orgulhoso pois seu governo o faz exatamente para
impedir o adensamento desenfreado, desordenado, a anarquia, a ilegalidade.
Acho que ele desconhece que muitas das propostas
ferem frontalmente o plano urbanístico de Lucio Costa, o tombamento e as
recomendações da UNESCO e, ainda, que trarão o adensamento, o que ele
afirma querer evitar, só que agora com o aval do GDF e de quem mais vier a
aprová-las. Será mais uma marca negativa do seu governo nessa cidade.
Afirma também que não há quem mais deseje preservar
essa cidade do que ele, visto que“INAUGUROU” o Catetinho, o Panteão da Pátria,
o Cine Brasília, o Planetário, e vai inaugurar o Teatro Nacional. Ah, inaugurou
também a Torre Digital. É verdade. Mas o teria feito não fosse o apelo pessoal
e contundente do arquiteto Oscar Niemeyer, para que não deixasse inacabada a
obra iniciada pelo governo Arruda? Acho que o governador precisa se
informar também sobre a diferença entre o inaugurar e o reinaugurar após
reformas.
Com relação aos outros assuntos, disse o governador
que agora começa a colher os resultados dos “investimentos gigantescos” na
saúde, transporte, ciclovias, meio-ambiente, obras, segurança,
policiamento inteligente, monitoramento 24 hs nas cidades, já em implantação, e
integração das polícias.
Que em 50 anos não conseguiram resolver todos esses
problemas e ele está fazendo isso. Fez ainda muitas promessas a serem
concretizadas até o final de seu governo. Resumindo, acredita que está salvando
Brasília do caos em que se encontrava.
Diante de tudo que vi e ouvi,ficou patente na
entrevista que o governador desconhece a realidade dos fatos e parece viver em
outra cidade que não a nossa. O olhar de espanto do entrevistador deixava
transparecer, em alguns momentos, esse mesmo sentimento.
Fonte: Blog do Radio Corredor