Por Jailton de Carvalho
Suspeito comprou sete
carros de uma vez numa concessionária. ...
O grupo que tentou desviar
R$ 73 milhões da Caixa forjando um bilhete de Mega-Sena premiado usou 200
contas para camuflar a origem do dinheiro roubado, segundo levantamento
preliminar da polícia. Mas, em alguns momentos, cometeu erros considerados
crassos. Dias depois do golpe, um dos suspeitos foi a uma concessionária em
Goiânia e comprou nada menos do que seis Corollas e uma caminhonete Hillux de
uma única vez. Para a polícia, esta foi, provavelmente, a maior venda desses
tipos de carro numa concessionária para um único cliente. Em geral, quem faz
compras desse tamanho são empresas.
A polícia se surpreendeu
com a simplicidade do golpe. Num mundo marcado pelo domínio da tecnologia, a
fraude teria se limitado à abertura de uma conta em nome de um correntista
fictício e à liberação do pagamento de R$ 73 milhões por um bilhete premiado
também inexistente. A Caixa informou que o gerente-geral da agência da Caixa em
Tocantinópolis (TO), Robson Pereira do Nascimento, um dos acusados, autorizou o
pagamento do falso prêmio sem a apresentação do bilhete. Nascimento está preso
desde o mês passado, quando se tornou um dos principais suspeitos da fraude.
A Caixa não explicou, no
entanto, quais são os mecanismos de controle interno usados para coibir
pagamentos indevidos da Mega-Sena. Nem como um gerente de uma agência tem
autonomia a ponto de autorizar um pagamento de R$ 73 milhões sem a checagem
prévia da validade, ou mesmo da existência do bilhete premiado.
Grupo tentou disfarçar
movimentação
A polícia descobriu também
que o grupo tentou disfarçar a movimentação dos recursos com um depósito de R$
42 milhões na conta de uma empresa de transportes de São Luís. A polícia pediu
o bloqueio do dinheiro e a prisão do representante da empresa, que seria de São
Paulo. O empresário golpista é um dos acusados de envolvimento no caso que
estão foragidos. Até agora, a polícia prendeu dois suspeitos: Robson Nascimento
e Ernesto Vieira.
Outras três pessoas
envolvidas no esquema tiveram prisão preventiva decretada e também são
consideradas foragidas. Uma delas, segundo a PF, recebeu parte do dinheiro do
golpe. Outra estava com Ernesto Vieira no dia da abertura da conta, e o
terceiro envolvido é um corretor, que diz ter recebido R$ 150 mil como comissão
na venda de uma fazenda.
O golpe foi aplicado na
conta de pagamento de prêmios da Mega-Sena. No último dia 5 de dezembro,
Nascimento autorizou a abertura de uma conta e usou sua senha para transferir
R$ 73 milhões a um suposto ganhador. Depois, foram feitas transferências de R$
40 milhões para uma conta em São Paulo e R$ 33 milhões para outra em Goiás.
A partir destas duas
transações, centenas de transferências de valores mais baixos foram feitas,
para facilitar saques, segundo a PF. Cerca de 70% do dinheiro já foram
recuperados. A Caixa, que classificou o golpe como o maior já ocorrido na
instituição, acionou a Polícia Federal cerca de seis dias depois de constatar que
não havia bilhete premiado.
O suplente de deputado
federal Ernesto Vieira Carvalho Neto (PMDB-MA), prestou depoimento, sábado, à
Polícia Federal, em Araguaína, Tocantins, mas permaneceu em silêncio. Vieira
está preso na Casa de Detenção Provisória de Araguaína (TO). A polícia suspeita
que ele recebeu pelo menos R$ 13 milhões de todo o montante desviado. Entre os
bens apreendidos na Operação Eskhara (referência à escara, ferida que não
cura), está um avião Minuano, que seria de Vieira.
- Ele se negou a falar.
Uma procuradora da República estava junto, e foi proposta a delação premiada.
Mesmo assim, permaneceu em silêncio. Ele não terá outra chance, mesmo se mudar
de ideia. Agora, só falará em juízo - afirmou, neste domingo, o delegado da
Polícia Federal em Araguaína, Omar Pepow, que comandou as investigações.
Número de prisões pode
aumentar
A PF esperava, com o
depoimento do suplente de deputado, chegar a outros nomes de envolvidos na
fraude. O próximo passo, segundo o delegado, será investigar a empresa
administrada por Carvalho Neto, que teve R$ 13 milhões depositados em conta
corrente. Há suspeita de que a empresa pertença ao peemedebista.
- Vamos investigar também
outras contas bancárias que receberam valores menores. Uma conta no Ceará, por
exemplo, teve depósito de R$ 3,5 milhões. Dependendo do rumo das investigações,
o número de pedidos de prisões pode aumentar - diz o delegado Pepow.
Fonte:
Jornal O globo - 20/01/2014