A oposição está se “servindo” e, na falta de coisa melhor para atazanar
o governo, insiste em qualificar de “pífio” o crescimento da economia no atual
período presidencial. Não adianta ficar triste: três anos de desconfianças e
incompreensões do setor privado e do longo aprendizado de parte do governo
produziram um resultado pobre.
Resultado pobre, mas em
relação a quê? Em relação àquilo que era razoável esperar, depois de
descontados os efeitos, aí sim, da pífia e medíocre expansão da economia
mundial: a) Um crescimento de 3% ao ano, ou seja, 9% no período, ante os 6%
realizados (dois terços do esperado); b) Uma taxa de inflação declinante, a
partir dos 5,9% de 2010, de 0,5% ao ano, para “entregar” a meta de 4,5%, em
2013–alguma coisa como 16% no período, diante dos 19% verificados (20% acima do
esperado); c) Um déficit em conta corrente de 2,7% do PIB, ante 1,8% do triênio
anterior, o que o aumentou de 127 bilhões de dólares para 187 bilhões de
dólares (47% acima do que havia ocorrido no triênio anterior, quando o PIB
cresceu 13%, ante o crescimento atual de 6%!).
O Brasil é um país
relativamente fechado do ponto de vista da economia mundial: as exportações
representam 13% e as importações 14% do PIB a preços de mercado.
Mesmo assim, a conjuntura
mundial tem influência sobre as variações do nosso PIB, por meio da flutuação
das exportações e importações físicas e da relação dos
seus preços relativos.
Temos maior facilidade para crescer um pouco mais com uma conjuntura mundial
favorável. ...
A relação é tênue, mas
talvez seja uma componente, juntamente com o pequeno declínio da relação de
troca, de parte da explicação da dramática redução do crescimento do PIB nos
últimos três anos. O resto é responsabilidade da nossa própria política
econômica.A queda de 80% do crescimento do setor industrial entre 2010 e 2013,
somada à redução da expansão da economia mundial, talvez seja responsável por
cerca de metade da redução de 2% da taxa de crescimento do PIB. Há seguramente
outras causas e podemos sofisticar à vontade a qualidade do diagnóstico.
No curto prazo, é muito
difícil deixar de aceitar o fato de que foi a brutal queda de demanda da
produção de manufaturados produzidos no Brasil, como consequência da combinação
mortal da supervalorização cambial acompanhada de paulatina desorganização do
sistema de tarifas efetivas e da ausência do “draw-back verde-amarelo” que um
dia tivemos.
O importante superávit de
139 bilhões de dólares, produzido pela correção cambial imposta pelo “mercado”
em 1999, foi transformado num déficit de 187 bilhões de dólares graças,
principalmente, à excessiva valorização cambial.
No período, a política
econômica “roubou” bilhões de dólares de demanda externa e interna da indústria
de manufaturados nacional. A carga tributária elevada, a maior taxa de juro
real do mundo e o câmbio sobrevalorizado – usado como instrumento de controle
da inflação – congelaram o “espírito animal” do empresário nacional, aumentando
os riscos dos novos investimentos.
Felizmente, o “mercado”,
de novo, impôs a correção do câmbio. A taxa de juros real (com suas idas e
vindas) é menor. Isso sugere que entre 12 e 18 meses a indústria de
manufaturados usará melhor os fatores de que dispõe, ajudando na recuperação do
crescimento.
Por outro lado, a clara
disposição do governo de manter a busca da “modicidade tarifária” com amigável
audiência e respeito aos limites do setor privado, aumentou a probabilidade de
sucesso dos leilões de concessão. Os primeiros resultados já são visíveis,
mostrando que o diálogo está restabelecendo a confiança. Ela será fundamental
para acelerar os investimentos em infraestrutura. Finalmente, a lenta
recuperação da economia mundial, agora com sinais mais fortes na economia
americana, talvez possa nos dar um pequeno alento adicional.
A dissipação da possível
“tempestade perfeita” que seria o acontecimento simultâneo da queda de 1 ponto
no rating soberano e o início (“tapering”) do afrouxo monetário dos EUA que
será, como sempre, desajeitado, depende apenas de uma ação firme e crível do governo
brasileiro. Isso reforça a esperança de termos um 2014 um pouco melhor do que
2013.
Fonte:
Delfim Netto-Revista Carta Capital - 12/01/2014