Agnelo Queiroz começou o
terceiro ano à frente da administração do governo do Distrito Federal com duas
novidades na área de transporte públicos. Novidades que, diga-se de passagem,
poderiam ter sido implementadas na segunda semana de governo. Há dois anos,
portanto. ...
A
primeira é a re-introdução no sistema de transporte coletivo de ônibus
executivos, apelidados na década de 1970, quando começaram a ser utilizados nas
grandes cidades brasileiras de “frescões”, pois eram dotados de ar condicionado
a bordo. Não dá para identificar a razão pela qual no governo Agnelo as coisas
são feitas tardiamente e de forma incompleta. Por que estas novas linhas,
operadas pela TCB, já não estão
operando há meses e por que elas não nasceram
interligadas ao metrô e ao ônibus executivo que liga o Aeroporto ao centro da
cidade? Dizem que isso vai ser feito mais tarde, num futuro que não se sabe bem
quando.
A
segunda é implantação de 476 abrigos – número cabalístico – nas paradas de
ônibus do Distrito Federal. Em termos estéticos, os novos abrigos de ônibus
estão longe dos que foram projetados por Oscar Niemeyer, feitos originalmente
em alumínio e vidro blindex, dotados de iluminação interna e painéis
publicitários. Em governos anteriores, só as áreas nobres, como o Plano Piloto
tiveram direito a estes modelos mais sofisticados. Também em nada se assemelham
aos abrigos tradicionais – e tombados junto com o Plano Piloto – com acabamento
em pastilhas de cerâmica instalados na vias W. 3 e L.2 e também nos Eixinhos.
Para
o povão que pega ônibus, uns quatro por dia, coube uma estrutura em concreto
pré-moldado, sem iluminação interna, sem bancos anatômicos – como nos abrigos
em metal do Plano Piloto- e o pior de tudo: segundo os usuários, o formato dos
novos abrigos impede a visualização dos ônibus que estão a chegar. A lateral
esquerda deles impede a visibilidade da rua e até da circulação das pessoas.
Afinal, em tempos de seqüestro relâmpago, é sempre bom ver de longe quem está
chegando.
Os
preços oficiais dos abrigos de ônibus variam de R$ 12.844,48 a R$
14.085,11. Algumas localidades requerem abrigo duplo. Para visualizar se o
ônibus está chegando, é necessário ficar de pé ou de fora da casinhola. Foto:
Lula Lopes (Agência Brasília)
Detalhe:
apesar da simplicidade estrutural e da ausência de acabamento, o valor médio de
cada abrigo desses é de R$ 13.447,00. Na verdade, existem quatro modelos, cujos
preços variam de R$ 12.844,48
a R$ 14.085,11. Os mais caros serão dotados de um espaço
para abrigar uma mini biblioteca e adaptações para conferir acessibilidade a
cadeirantes. No meu entender, todos os pontos de ônibus do Distrito Federal
deveriam ser acessíveis aos portadores de necessidades especiais.
Em
alguns locais, onde houver uma concentração maior de passageiros, poderão ser
colocados dois módulos justo-postos, duplicando o preço para perto de R$ 27 mil
ou mais por parada. Neste programa, que vai instalar 476 casinholas em pontos
de ônibus, o GDF, via o DFTrans vai gastar R$ 6,2 milhões, até o fim do ano.
Minha Casa, Minha Vida
O
valor unitário já salta aos olhos, devido à simplicidade dos abrigos, sem
qualquer item ou equipamento que pudesse acrescentar algum diferencial de
conforto aos usuários de ônibus ou que justificasse custo tão elevado. Não há
iluminação interna. Espaço para fixação de informes de rotas e horários dos
ônibus não foi previsto. Grosso modo, poder-se-ia dizer que o abrigo é feito
pela montagem de seis peças de concreto: duas laterais, o teto e três travessas
horizontais que formam a parede dos fundos. O banco, que deve abrigar umas seis
pessoas, é um pranchão também em concreto.
Causa
estranheza maior ainda, quando se compara o valor destes abrigos com as casas
do programa federal Minha Casa
minha Vida. Até o ano passado, o
governo Dilma estava produzindo moradias a um custo mínimo de R$ 42 mil. Neste
ano, já subiu para cerca de R$ 56 mil, mas R$ 9 mil deste total se destinam à
aquisição do lote onde será erguida a casa popular.
Segundo
a cartilha da Caixa Econômica Federal, estas moradias devem ser erguidas sobre
fundação, possuir um mínimo de 32 metros quadrados
de área útil e contar com, pelo menos, sala, cozinha, banheiro, corredor de
circulação, dois dormitórios e área externa com tanque de lavar roupa. A casa
deve contar com laje de concreto ou forro de madeira ou PVC, sendo que a
cobertura do telhado terá que ser com telha cerâmica sobre estrutura de madeira
ou metálica.
O
piso interno tem que ser de cerâmica na cozinha e banheiro, Nas demais áreas
pode ser apenas cimentado. As paredes têm que ser em alvenaria e revestidas. No
caso da cozinha e do banheiro, o revestimento é obrigatoriamente em azulejo no
box do banho com altura mínima de 1,50m. Sobre as pias e tanque pode ser
aplicado o que os técnicos chamam de barrado impermeável. As outras paredes
internas contam com reboco e devem ser pintadas com tinta tipo PVA. Pintura acrílica
ou textura impermeável é exigida na parte externa.
As
janelas devem contar com esquadrias de ferro, madeira ou em alumínio, portas
internas em madeira e externas em metal. Os imóveis são entregues equipados com
as instalações hidráulicas e elétricas necessárias – algumas podem contar até
com sistema de aquecimento solar d’água. Do lado de fora, o morador terá uma
calçada de meio metro de largura circundando toda a sua moradia.
Por
tudo isso, o governo Dilma pagava até o ano passado cerca de R$ 42 mil e, a
partir de 2013, deverá pagar próximo a R$ 46 mil, já descontado o valor do
terreno. O preço pode ser até mais baixo. No município capixaba de Serra, a
prefeitura local construiu 500 residências investindo R$ 14 milhões: ou seja,
R$ 28 mil por unidade.
Três paradas de ônibus de Agnelo compra uma casa da Dilma
Os
abrigos de ônibus de Agnelo não possuem iluminação, água, banheiro, quarto, pia
ou chuveiro. Não tem cerâmica no chão, nem são revestidos em azulejos.
Externamente, não são pintados com tinta acrílica ou textura, nem contam com
forro ou esquadrias. Mesmo assim, cada casinhola de Agnelo – daquele modelo
mais simples e mais barato, sem biblioteca e sem acessibilidade para cadeirantes
-, custa, aproximadamente, um terço de cada casa de Dilma. Ou seja, com o
dinheiro que se compra três paradas de ônibus dessas do DFTrans, se compraria
uma casa da Dilma – se fosse em Serra – ES, bastaria a verba de dois abrigos -,
onde pode morar uma família inteira com um mínimo de dignidade.
Dignidade,
me parece, é a palavra chave nestes abrigos de ônibus. Por que o usuário de
ônibus do Plano Piloto conta com parada confortável, banco anatômico,
iluminação interna, protegida por vidro blindex, enfim com o tratamento que um
cidadão deve ter e os moradores das demais cidades do DF devem ficar numa
casinhola que não lhe permite nem ver se o ônibus está chegando ou não?
Por
que uma estrutura tão simplória, fabricada em grande quantidade, custa, assim,
tão caro? Não há uma disparidade grande entre as residências de Dilma e as
casinholas de Agnelo?
Com
a palavra o governador.
Fonte: Gama Livre - 20/01/2013

