um instante em que alguns
senadores ainda alimentavam a vã expectativa de que Renan Calheiros pudesse
correr da disputa pela presidência do Senado, o favorito do PMDB retornou a
Brasília para ocorrer. No seu primeiro compromisso após as férias –um almoço na
casa de José Sarney—, Renan exibiu frieza e desenvoltura incomuns para alguém
que acaba de ser denunciado no STF pela Procuradoria da República.
Manteve-se
inabalável mesmo ao receber uma má notícia de Alvaro Dias. O líder do PSDB
informou-lhe que, em reunião marcada para esta
quinta-feira (31), a bancada de
senadores tucanos deve formalizar o apoio a Pedro Taques, do PDT. Renan e
Alvaro conversavam a sós. Não tardou a juntar gente. Renan socializou as más novas:
o Alvaro me disse que o PSDB agirá assim e assado, ele esmiuçou. ...
Uma
testemunha conta que Sarney, voltando-se para Alvaro, disse que o PSDB deveria
desistir de Taques e respeitar a “proporcionalidade”. O que é
proporcionalidade? Consiste em dividir os cargos do Congresso –da presidência
até o comando das comissões— conforme o tamanho das bancadas.
Por
esse critério, o PMDB, dono da maior bancada (21 senadores) teria o direito de
indicar o presidente. O problema é que a regra da proporção é mera tradição,
não um imperativo legal. A Constituição roça o tema no seu artigo 58.
Anota:
“na constituição das Mesas e de cada comissão, é assegurada, tanto quanto possível,
a representação proporcional dos partidos ou dos blocos parlamentares que
participam da respectiva Casa” legislativa. Repare que o texto
constitucional usa a expressão “tanto quanto possível”.
Por
vezes, o acordo revela-se impossível. Alvaro recordou a Sarney que o petista
Tião Viana, hoje governador do Acre, o desafiara em plenário. Antes, o próprio
Renan chegara à presidência numa disputa contra José Agripino Maia, do ex-PFL,
hoje DEM. Quer dizer: a candidatura do desafiante Taques não representa uma
anomalia.
Renan
disse que tentaria demover os tucanos. Procuraria, entre outros, o senador
Aécio Neves, presidenciável do PSDB. Foi informado de que Aécio é um dos que
passaram a defender a oficialização do apoio a Taques. Renan se manteve
impassível durante o almoço porque a novidade não lhe tira o favoritismo. Muito
menos o sono.
Num
colegiado de 81 senadores, o morubixaba do PMDB espera beliscar entre 58 e 63
votos. As duas contas incluem tucanos. O PSDB soma 11 bicos (eram dez, mas
nesta quarta-feira o segundo suplente Ruben Figueiró, tucano do Mato Grosso do
Sul, assume no Senado a cadeira do colega adoentado Antonio Russo, do PR). Como
a votação é secreta, a coreografia pró-Taques não assegura 100% de fidelidade.
Desgarrado
do conglomerado governista, Taques frequenta a disputa como um candidato sui generis. Dispõe
de trombone. Mas falta-lhe o sopro dos votos. Se as contas de Renan estiverem
certas, ele terá entre 18 e 23 votos. Sabendo-se vencido, Taques prepara um
discurso no qual enaltecerá o valor da derrota num Senado que, rendido à
apatia, já não debate nada nem se assombra com coisa nenhuma.
Embora
estrelado por Renan, o repasto na casa de Sarney fora organizado a pretexto de homenagear o petista Marco Maia, que deixará a
presidência da Câmara em seis dias. A menos que ocorra um terremoto em
Brasília, Maia será substituído pelo deputado Henrique Eduardo Alves, outro
favorito do PMDB. Se confirmado, o apoio do PSDB do Senado a Taques deixará o
tucanato da Câmara com cara de tacho.
Ali,
o apoio dos tucanos a Henrique Alves é escorado no argumento de que não se pode
subverter a regra da “proporcionalidade”. Algo esquisito, já que é o PT, não o
PMDB, o partido que dispõe da maior bancada de deputados federais. De resto, os
senadores tucanos estão prestes a mandar o mesmo pretexto para as calendas.
Fonte:
Blog do Josias - 30/01/2013