O PSDB inicia 2013 fazendo reuniões.
Animados pelo mau momento do governo Dilma, os tucanos se debruçam sobre três
questões centrais. Qual o melhor candidato, qual o melhor discurso e como
evitar os erros do passado
Até o apagar das luzes de 2012, a oposição ao governo
federal tinha poucos motivos para se empolgar. Ainda abatidos pela derrota de José Serra na disputa pela prefeitura de São
Paulo, os tucanos eram a imagem do desânimo. O revés eleitoral na maior cidade
do país significava, segundo os mais pessimistas no partido, que Lula e Dilma seguiriam imbatíveis até 2014. Nem
todos, porém, pensavam da mesma maneira. Num encontro de prefeitos tucanos, no
início de dezembro, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso surpreendeu ao
lançar o senador Aécio
Neves como
candidato do partido ao Planalto em 2014. “Aécio é hoje o candidato que o PSDB
tem para a Presidência da República”, disse na
ocasião o presidente do partido,
Sérgio Guerra, endossando Fernando Henrique.![]() |
VAI QUE É TUA Aécio Neves e Fernando Henrique Cardoso. O ex-presidente lançou o senador para 2014 (Foto: Wilson Pedrosa/Estadão Conteúdo) |
O ano de 2013
amanheceu com farfalhar de penas no ninho tucano. Integrantes do partido
promoveram várias reuniões tendo como tema a análise do cenário atual. Parte
dessas reuniões se deu no apartamento que o senador mineiro Aécio Neves mantém
no Rio de
Janeiro, onde se juntaram vários ex-integrantes do primeiro
escalão do governo de Fernando Henrique – entre eles o ex-ministro da Fazenda
Pedro Malan, o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga e o economista
Edmar Bacha, da equipe do Plano Real. Uma das razões da animação do PSDB foi o
mau início de ano do governo Dilma – os ecos do “pibinho” de 2012, a projeção para a
inflação acima da meta do governo e as especulações sobre uma possível crise
energética. Os tucanos viram o que consideram uma “janela de oportunidade”.
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(Fotos: Luiz Carlos Murauskas/Folhapress, Alan Marques/Folhapress e Omar Freire/divulgação) |
Um dos temas
das conversas é a montagem de uma estratégia que evite os erros das disputas
presidenciais de 2002, 2006 e 2010(leia o quadro ao lado). Essa estratégia terá dois focos. O
primeiro: se o partido deve, ou não, antecipar o lançamento do candidato. O
segundo: o partido precisa definir claramente seu discurso, que em eleições
anteriores não conseguiu se diferenciar da concorrência nem empolgar o
eleitorado.
O CANDIDATO
Logo depois de ser sagrado postulante à Presidência por Fernando Henrique, Aécio disse: “Vou cumprir um papel, seja ele qual for. Só não vou antecipar etapas”. Mas seus artigos publicados em jornais desde então assumiram um tom inequívoco de candidato oposicionista. Na semana passada, o senador mineiro acusou o governo federal de “maquiar” a prestação de contas relativa a 2012 e criticou a gestão de Dilma na área da energia. O Planalto sentiu o golpe, e o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, foi escalado para dizer que Aécio joga no time do “quanto pior, melhor”. Ponto para o senador mineiro, que começa a ser percebido como oposição real.
Logo depois de ser sagrado postulante à Presidência por Fernando Henrique, Aécio disse: “Vou cumprir um papel, seja ele qual for. Só não vou antecipar etapas”. Mas seus artigos publicados em jornais desde então assumiram um tom inequívoco de candidato oposicionista. Na semana passada, o senador mineiro acusou o governo federal de “maquiar” a prestação de contas relativa a 2012 e criticou a gestão de Dilma na área da energia. O Planalto sentiu o golpe, e o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, foi escalado para dizer que Aécio joga no time do “quanto pior, melhor”. Ponto para o senador mineiro, que começa a ser percebido como oposição real.
Fernando
Henrique e outros líderes tucanos defendem a tese de que o candidato do PSDB
precisa ser apresentado ao eleitor com antecedência, diferentemente do ocorrido
em 2002, 2006 e 2010. O argumento é que, ao protelar o anúncio do candidato
para a última hora, as campanhas acabaram contaminadas pelas mágoas dos
processos de escolha. Na semana passada, Guerra jantou com Geraldo
Alckmin em São Paulo. O
presidente do PSDB disse que Aécio gostaria de conversar com o governador
paulista ainda neste mês. Ficou acertado um encontro entre eles na última
semana de janeiro. “Aécio quer saber se o Geraldo pretende disputar a
Presidência novamente”, disse um dos assessores do governador.
>> Aécio
Neves e Eduardo Campos saem fortalecidos do 1º turno
Até agora, Alckmin tem afirmado que é cedo para escolher o presidenciável tucano. A cautela tem como objetivo não desagradar aJosé Serra, seu antigo aliado. O viés de baixa do governo Dilma motivou um pequeno grupo que ainda acredita ser possível uma nova candidatura de Serra a presidente, a terceira. O que Serra tem dito a seus soldados fiéis é que não aceita ser “escanteado” dentro do próprio partido. Ele quer papel de destaque na nova direção, a ser escolhida em maio, e a garantia de que poderá, pelo menos, concorrer ao Senado por São Paulo. Caso contrário, um de seus aliados diz que ele poderá até sair do PSDB e ser candidato a presidente pelo PSD, de Gilberto Kassab. Ou mesmo pelo PPS de Roberto Freire.
Até agora, Alckmin tem afirmado que é cedo para escolher o presidenciável tucano. A cautela tem como objetivo não desagradar aJosé Serra, seu antigo aliado. O viés de baixa do governo Dilma motivou um pequeno grupo que ainda acredita ser possível uma nova candidatura de Serra a presidente, a terceira. O que Serra tem dito a seus soldados fiéis é que não aceita ser “escanteado” dentro do próprio partido. Ele quer papel de destaque na nova direção, a ser escolhida em maio, e a garantia de que poderá, pelo menos, concorrer ao Senado por São Paulo. Caso contrário, um de seus aliados diz que ele poderá até sair do PSDB e ser candidato a presidente pelo PSD, de Gilberto Kassab. Ou mesmo pelo PPS de Roberto Freire.
>> Opção
para futuro de Serra enfrenta resistência dentro do PSDB
Aécio – que passará 2013 viajando pelo país – sabe que precisa da ala paulista do partido. Ele é acusado pelos tucanos de São Paulo de ter feito corpo mole nas eleições de 2006 e 2010 e de não ter ajudado Alckmin e Serra, respectivamente, em suas campanhas para a Presidência. Ambos perderam por enorme diferença em Minas Gerais. Se o cenário da antecipação da candidatura não se concretizar, pode haver prévias. Se elas acontecerem, uma nova luta fratricida pode se desenhar no horizonte, com a possibilidade de engendrar uma nova candidatura contaminada pelas mágoas.
Aécio – que passará 2013 viajando pelo país – sabe que precisa da ala paulista do partido. Ele é acusado pelos tucanos de São Paulo de ter feito corpo mole nas eleições de 2006 e 2010 e de não ter ajudado Alckmin e Serra, respectivamente, em suas campanhas para a Presidência. Ambos perderam por enorme diferença em Minas Gerais. Se o cenário da antecipação da candidatura não se concretizar, pode haver prévias. Se elas acontecerem, uma nova luta fratricida pode se desenhar no horizonte, com a possibilidade de engendrar uma nova candidatura contaminada pelas mágoas.
O DISCURSO
Na única vez em que esteve na Presidência da República – com Fernando Henrique Cardoso, entre 1994 e 2002 –, o PSDB implantou uma estratégia bem-sucedida de combate à inflação, o Plano Real, criou a Lei de Responsabilidade Fiscal e formatou os programas sociais que, mais tarde, floresceriam durante o governo Lula. Nas eleições posteriores, no entanto, não conseguiu transformar essas iniciativas bem-sucedidas em marcas do partido. Na avaliação dos próprios tucanos, o PSDB “perdeu o discurso”. A raiz disso, segundo integrantes do PSDB, está na campanha presidencial de 2002, quando o candidato José Serra, para se descolar do desgaste do governo do antecessor, deixou FHC em segundo plano em sua campanha. A ordem agora é a oposta. Para recuperar o discurso, o partido fará a defesa do legado da gestão tucana no Planalto (1995-2002). “O FHC definiu a marca dele. E cada dia ela será mais reconhecida como positiva”, diz Sérgio Guerra.
Na única vez em que esteve na Presidência da República – com Fernando Henrique Cardoso, entre 1994 e 2002 –, o PSDB implantou uma estratégia bem-sucedida de combate à inflação, o Plano Real, criou a Lei de Responsabilidade Fiscal e formatou os programas sociais que, mais tarde, floresceriam durante o governo Lula. Nas eleições posteriores, no entanto, não conseguiu transformar essas iniciativas bem-sucedidas em marcas do partido. Na avaliação dos próprios tucanos, o PSDB “perdeu o discurso”. A raiz disso, segundo integrantes do PSDB, está na campanha presidencial de 2002, quando o candidato José Serra, para se descolar do desgaste do governo do antecessor, deixou FHC em segundo plano em sua campanha. A ordem agora é a oposta. Para recuperar o discurso, o partido fará a defesa do legado da gestão tucana no Planalto (1995-2002). “O FHC definiu a marca dele. E cada dia ela será mais reconhecida como positiva”, diz Sérgio Guerra.
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Fonte: Revista Época