quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Os tucanos fazem reuniões para definir candidato e discurso para 2014


O PSDB inicia 2013 fazendo reuniões. Animados pelo mau momento do governo Dilma, os tucanos se debruçam sobre três questões centrais. Qual o melhor candidato, qual o melhor discurso e como evitar os erros do passado



Até o apagar das luzes de 2012, a oposição ao governo federal tinha poucos motivos para se empolgar. Ainda abatidos pela derrota de José Serra na disputa pela prefeitura de São Paulo, os tucanos eram a imagem do desânimo. O revés eleitoral na maior cidade do país significava, segundo os mais pessimistas no partido, que Lula e Dilma seguiriam imbatíveis até 2014. Nem todos, porém, pensavam da mesma maneira. Num encontro de prefeitos tucanos, no início de dezembro, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso surpreendeu ao lançar o senador Aécio Neves como candidato do partido ao Planalto em 2014. “Aécio é hoje o candidato que o PSDB tem para a Presidência da República”, disse na
ocasião o presidente do partido, Sérgio Guerra, endossando Fernando Henrique.
VAI QUE É TUA
Aécio Neves e Fernando Henrique Cardoso. O ex-presidente lançou o senador para 2014 (Foto: Wilson Pedrosa/Estadão Conteúdo)

O ano de 2013 amanheceu com farfalhar de penas no ninho tucano. Integrantes do partido promoveram várias reuniões tendo como tema a análise do cenário atual. Parte dessas reuniões se deu no apartamento que o senador mineiro Aécio Neves mantém no Rio de Janeiro, onde se juntaram vários ex-integrantes do primeiro escalão do governo de Fernando Henrique – entre eles o ex-ministro da Fazenda Pedro Malan, o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga e o economista Edmar Bacha, da equipe do Plano Real. Uma das razões da animação do PSDB foi o mau início de ano do governo Dilma – os ecos do “pibinho” de 2012, a projeção para a inflação acima da meta do governo e as especulações sobre uma possível crise energética. Os tucanos viram o que consideram uma “janela de oportunidade”.

(Fotos: Luiz Carlos Murauskas/Folhapress,
Alan Marques/Folhapress
e Omar Freire/divulgação)
Um dos temas das conversas é a montagem de uma estratégia que evite os erros das disputas presidenciais de 2002, 2006 e 2010(leia o quadro ao lado). Essa estratégia terá dois focos. O primeiro: se o partido deve, ou não, antecipar o lançamento do candidato. O segundo: o partido precisa definir claramente seu discurso, que em eleições anteriores não conseguiu se diferenciar da concorrência nem empolgar o eleitorado.
O CANDIDATO
Logo depois de ser sagrado postulante à Presidência por Fernando Henrique, Aécio disse: “Vou cumprir um papel, seja ele qual for. Só não vou antecipar etapas”. Mas seus artigos publicados em jornais desde então assumiram um tom inequívoco de candidato oposicionista. Na semana passada, o senador mineiro acusou o governo federal de “maquiar” a prestação de contas relativa a 2012 e criticou a gestão de Dilma na área da energia. O Planalto sentiu o golpe, e o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, foi escalado para dizer que Aécio joga no time do “quanto pior, melhor”. Ponto para o senador mineiro, que começa a ser percebido como oposição real.
Fernando Henrique e outros líderes tucanos defendem a tese de que o candidato do PSDB precisa ser apresentado ao eleitor com antecedência, diferentemente do ocorrido em 2002, 2006 e 2010. O argumento é que, ao protelar o anúncio do candidato para a última hora, as campanhas acabaram contaminadas pelas mágoas dos processos de escolha. Na semana passada, Guerra jantou com Geraldo Alckmin em São Paulo. O presidente do PSDB disse que Aécio gostaria de conversar com o governador paulista ainda neste mês. Ficou acertado um encontro entre eles na última semana de janeiro. “Aécio quer saber se o Geraldo pretende disputar a Presidência novamente”, disse um dos assessores do governador.
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Até agora, Alckmin tem afirmado que é cedo para escolher o presidenciável tucano. A cautela tem como objetivo não desagradar aJosé Serra, seu antigo aliado. O viés de baixa do governo Dilma motivou um pequeno grupo que ainda acredita ser possível uma nova candidatura de Serra a presidente, a terceira. O que Serra tem dito a seus soldados fiéis é que não aceita ser “escanteado” dentro do próprio partido. Ele quer papel de destaque na nova direção, a ser escolhida em maio, e a garantia de que poderá, pelo menos, concorrer ao Senado por São Paulo. Caso contrário, um de seus aliados diz que ele poderá até sair do PSDB e ser candidato a presidente pelo PSD, de Gilberto Kassab. Ou mesmo pelo PPS de Roberto Freire.
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Aécio – que passará 2013 viajando pelo país – sabe que precisa da ala paulista do partido. Ele é acusado pelos tucanos de São Paulo de ter feito corpo mole nas eleições de 2006 e 2010 e de não ter ajudado Alckmin e Serra, respectivamente, em suas campanhas para a Presidência. Ambos perderam por enorme diferença em Minas Gerais. Se o cenário da antecipação da candidatura não se concretizar, pode haver prévias. Se elas acontecerem, uma nova luta fratricida pode se desenhar no horizonte, com a possibilidade de engendrar uma nova candidatura contaminada pelas mágoas.
O DISCURSO
Na única vez em que esteve na Presidência da República – com Fernando Henrique Cardoso, entre 1994 e 2002 –, o PSDB implantou uma estratégia bem-sucedida de combate à inflação, o Plano Real, criou a Lei de Responsabilidade Fiscal e formatou os programas sociais que, mais tarde, floresceriam durante o governo Lula. Nas eleições posteriores, no entanto, não conseguiu transformar essas iniciativas bem-sucedidas em marcas do partido. Na avaliação dos próprios tucanos, o PSDB “perdeu o discurso”. A raiz disso, segundo integrantes do PSDB, está na campanha presidencial de 2002, quando o candidato José Serra, para se descolar do desgaste do governo do antecessor, deixou FHC em segundo plano em sua campanha. A ordem agora é a oposta. Para recuperar o discurso, o partido fará a defesa do legado da gestão tucana no Planalto (1995-2002). “O FHC definiu a marca dele. E cada dia ela será mais reconhecida como positiva”, diz Sérgio Guerra.
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A eficiência na gestão pública deve ser outra das teclas em que o partido deve bater mais insistentemente. Pesquisas internas do partido mostrariam que a população vê o PSDB como um partido que governa bem. O alardeado choque de gestão implementado por Aécio em seu primeiro governo em Minas, entre 2003 e 2006, e propostas ligadas à meritocracia no serviço público devem ganhar destaque num possível programa. Por último, o partido deve fazer oposição de forma mais veemente e aposta que o mau momento de Dilma pode perdurar. “Com o andar da carruagem, difícil será saber onde não bater”, diz Guerra. Talvez os tucanos devessem adotar um pouco de cautela. Em eleições anteriores, momentos ruins dos adversários – como o mensalão petista, que eclodiu em 2005 – não foram aproveitados pelo PSDB. O partido acabou derrotado, em parte, pelos próprios erros. Um candidato forte e um discurso claro é que farão diferença. 


Fonte: Revista Época