domingo, 19 de maio de 2013

As contradições de Freud


Ex-assessor de Lula não convence a PF e delegados suspeitam que um depósito de R$ 150 mil em dinheiro possa ter sido feito com dinheiro público

SIGILO QUEBRADO
Freud não explica a origem de R$ 150 mil e suas
contas serão rastreadas pela PF
Depois de aproximadamente dois meses de investigações, a Polícia Federal em Minas Gerais concentra em Freud Godoy as apurações sobre um eventual uso de dinheiro do mensalão para o pagamento de despesas pessoais do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A acusação foi feita pelo publicitário Marcos Valério ao procurador-geral da República em setembro do ano passado e deu origem a um novo inquérito. Freud, ex-assessor especial de Lula, é a pista mais
relevante apresentada à Procuradoria. Além de um cheque de R$ 98,5 mil que a SMP&B, agência de Valério e principal duto dos recursos do mensalão, encaminhou para a Caso Sistemas de Segurança, empresa que pertence a Freud e a sua mulher, Simone Godoy, em janeiro de 2003, Freud recebeu, em março de 2004, um depósito de R$ 150 mil em dinheiro. A polícia aposta agora na quebra dos sigilos bancário e fiscal para tentar rastrear a origem e o destino desses recursos. Também vai submeter à perícia documentos que Freud venha a apresentar, como os contratos com o PT e com fornecedores da Caso Sistemas de Segurança. ...

Com relação ao cheque depositado pela empresa de Valério, Freud tem dito em diversos depoimentos que o dinheiro se refere a pagamentos de despesas efetuadas por sua empresa, que teria sido contratada pelo PT para organizar comícios e festas durante a campanha eleitoral de 2002. As respostas, no entanto, não convenceram os delegados que conduzem as investigações. Quando depôs pela primeira vez, ainda no inquérito do mensalão, Freud disse que o dinheiro da SMP&B pagou despesas de campanha, mas que não se recordava se havia ou não contabilizado os recursos. Afirmou também que, enquanto esteve a serviço do ex-presidente, a administração da empresa era feita por sua mulher e sócia. No último depoimento, prestado em São Paulo, na quarta-feira 8, o ex-assessor de Lula afirmou que os recursos foram contabilizados. “O senhor abre os sigilos fiscais e bancários?”, perguntou o delegado. “Sim”, respondeu Freud. Na mesma tarde, a mulher de Freud também prestou depoimento. Simone disse que não tinha detalhes a fornecer sobre os recursos da SMP&B, pois no fim de 2002 e início de 2003, quando foi feito o depósito, encontrava-se afastada da empresa, em repouso absoluto devido a uma gravidez.
 
O ACUSADOR
Marcos Valério, operador do mensalão,
assegura que Lula foi favorecido pelo esquema
Na verdade, o que a Polícia Federal deseja com a quebra dos sigilos de Freud e de sua empresa é mais do que rastrear os R$ 98,5 mil da SMP&B. Sobre esse pagamento, os delegados acreditam que Freud não encontrará dificuldades para sustentar sua versão, apesar de algumas contradições. Esse caminho, entendem os policiais, poderá levar no máximo a uma sonegação fiscal. O empenho maior será o de rastrear os R$ 150 mil, depositados em março de 2004, quando o ex-assessor de Lula já ocupava formalmente um posto no Palácio do Planalto. Durante as três horas de depoimento na quarta-feira 8, Freud disse que o dinheiro era o resultado da venda de um lote em um condomínio localizado em São Bernardo do Campo. Ele, no entanto, segundo um policial que participou do depoimento, não revelou o nome do comprador do imóvel nem apresentou documento que comprovasse a transação.

Além das quebras dos sigilos bancários e fiscais, a Polícia Federal vai analisar os contratos que as empresas de Freud possam ter feito com órgãos da administração direta ou indireta entre 2003 e 2006. O objetivo é saber se os R$ 150 mil não saíram de alguma empresa pública.

Fotos: JF DIORIO/ESTADãO CONTEúDO/AE; ROBERTO CASTRO/Ag. Istoé
Fonte: Revista ISTOÉ - N° Edição: 2270 - 18/05/2013