Ex-assessor
de Lula não convence a PF e delegados suspeitam que um depósito de R$ 150 mil
em dinheiro possa ter sido feito com dinheiro público
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Depois
de aproximadamente dois meses de investigações, a Polícia Federal em Minas
Gerais concentra em Freud Godoy as apurações sobre um eventual uso de dinheiro
do mensalão para o pagamento de despesas pessoais do ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva. A acusação foi feita pelo publicitário Marcos Valério ao
procurador-geral da República em setembro do ano passado e deu origem a um novo
inquérito. Freud, ex-assessor especial de Lula, é a pista mais
relevante
apresentada à Procuradoria. Além de um cheque de R$ 98,5 mil que a SMP&B,
agência de Valério e principal duto dos recursos do mensalão, encaminhou para a
Caso Sistemas de Segurança, empresa que pertence a Freud e a sua mulher, Simone
Godoy, em janeiro de 2003, Freud recebeu, em março de 2004, um depósito de R$
150 mil em dinheiro. A polícia aposta agora na quebra dos sigilos bancário e
fiscal para tentar rastrear a origem e o destino desses recursos. Também vai
submeter à perícia documentos que Freud venha a apresentar, como os contratos
com o PT e com fornecedores da Caso Sistemas de Segurança. ...
Com
relação ao cheque depositado pela empresa de Valério, Freud tem dito em
diversos depoimentos que o dinheiro se refere a pagamentos de despesas
efetuadas por sua empresa, que teria sido contratada pelo PT para organizar
comícios e festas durante a campanha eleitoral de 2002. As respostas, no
entanto, não convenceram os delegados que conduzem as investigações. Quando
depôs pela primeira vez, ainda no inquérito do mensalão, Freud disse que o
dinheiro da SMP&B pagou despesas de campanha, mas que não se recordava se
havia ou não contabilizado os recursos. Afirmou também que, enquanto esteve a
serviço do ex-presidente, a administração da empresa era feita por sua mulher e
sócia. No último depoimento, prestado em São Paulo, na quarta-feira 8, o
ex-assessor de Lula afirmou que os recursos foram contabilizados. “O senhor
abre os sigilos fiscais e bancários?”, perguntou o delegado. “Sim”, respondeu
Freud. Na mesma tarde, a mulher de Freud também prestou depoimento. Simone
disse que não tinha detalhes a fornecer sobre os recursos da SMP&B, pois no
fim de 2002 e início de 2003, quando foi feito o depósito, encontrava-se
afastada da empresa, em repouso absoluto devido a uma gravidez.
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Na
verdade, o que a Polícia Federal deseja com a quebra dos sigilos de Freud e de
sua empresa é mais do que rastrear os R$ 98,5 mil da SMP&B. Sobre esse
pagamento, os delegados acreditam que Freud não encontrará dificuldades para
sustentar sua versão, apesar de algumas contradições. Esse caminho, entendem os
policiais, poderá levar no máximo a uma sonegação fiscal. O empenho maior será
o de rastrear os R$ 150 mil, depositados em março de 2004, quando o ex-assessor
de Lula já ocupava formalmente um posto no Palácio do Planalto. Durante as três
horas de depoimento na quarta-feira 8, Freud disse que o dinheiro era o
resultado da venda de um lote em um condomínio localizado em São Bernardo do
Campo. Ele, no entanto, segundo um policial que participou do depoimento, não
revelou o nome do comprador do imóvel nem apresentou documento que comprovasse
a transação.
Além
das quebras dos sigilos bancários e fiscais, a Polícia Federal vai analisar os
contratos que as empresas de Freud possam ter feito com órgãos da administração
direta ou indireta entre 2003 e 2006. O objetivo é saber se os R$ 150 mil não
saíram de alguma empresa pública.
Fotos: JF DIORIO/ESTADãO CONTEúDO/AE; ROBERTO CASTRO/Ag. Istoé
Fotos: JF DIORIO/ESTADãO CONTEúDO/AE; ROBERTO CASTRO/Ag. Istoé
Fonte: Revista ISTOÉ - N° Edição: 2270 - 18/05/2013