terça-feira, 28 de maio de 2013

O PT não amarelou

O PT resolveu topar a parada, quer dizer, não ceder à pressão do governador Sérgio Cabral e do PMDB para que o senador Lindbergh Farias desista  de concorrer  ao governo do Rio de Janeiro.  Pelo contrário, o partido dos companheiros dispõe-se a blindar o candidato, poupando-o do confronto direto com o governador, mas reafirmando sua disposição de disputar o palácio Guanabara. A decisão adotada pelo presidente do PT, Rui Falcão, certamente teve o apoio de Dilma e do  Lula, que em nenhum momento vão ceder às ameaças de Cabral, mesmo se ele vier   a bandear-se para a campanha de Aécio Neves, abandonando a reeleição da atual presidente. ...

Caso tivesse amarelado, o PT correria o risco de a moda fluminense pegar, ou seja, de outros governadores do PMDB exigirem a retirada de candidatos petistas ao governos locais. Tudo indica que em muitos estados serão montados  dois palanques, ou até
três ou mais, porque partidos da base oficial, como PSB, PTB e PDT também pretendem lançar seus candidatos.

A pergunta que se faz é o quanto esses embates poderão prejudicar a reeleição. A resposta por enquanto surge nebulosa, tendo em vista que a maioria do eleitorado  inclina-se pelo segundo mandato de Dilma Rousseff sem maiores considerações com as disputas estaduais. O clima, no entanto, pode mudar.

FALTA UMA EXPLICAÇÃO

Continua a Caixa Econômica Federal sem responder à indagação maior no episódio da falsa  extinção do bolsa-família: como irrigou 150 milhões de reais em suas agencias em todo o país  na sexta-feira, 17, se os boatos que atingiram o benefício apenas começaram no sábado, 18? Já sabiam da lambança, antes?

Há perguntas suplementares: sem estímulo, as redes sociais e os telefones celulares teriam mobilizado quase um milhão de beneficiados, temerosos de não mais receber o benefício? Que empresa de telemarketing  encarregou-se de espalhar o boato? Quem a contratou?

Enquanto a Polícia Federal não deslindar o caso, ficam as responsabilidades em aberto. Ao governo não interessava a confusão. Às oposições, também não. Mas grupos descontentes de um lado e de outro bem que poderiam ficar felizes com a crise…

SEMANA MURCHA

O feriado da quinta-feira não resultará apenas na eliminação da sexta como dia de trabalho no Congresso. Supõe-se que hoje, terça-feira, será bem menor o fluxo de deputados e senadores a Brasília, porque amanhã, quarta, teriam de retornar a seus estados. Por conta disso ou por coincidência, nenhum projeto de vulto estará em pauta na Câmara e no Senado. As comissões técnicas vão funcionar de mentirinha,  assim como os plenários.

RESPALDO NAS URNAS?

Quando  o hoje falecido Raul Alfonsín disputou a presidência da República, na Argentina, sua mensagem principal nos palanques era de que, se eleito, enviaria ao Congresso projeto  modificando a Lei de Anistia aprovada pela ditadura militar, isentando de punição torturadores e assassinos, ou seja, eles mesmo.  Dito e feito, a população em peso votou em Alfonsín, que na Casa Rosada promoveu intensa responsabilização dos culpados. Generais-presidentes foram parar na cadeia, até  uma junta militar inteira viu o sol nascer quadrado, bem como esbirros de toda ordem.

Entre nós,   prevalece a Lei da Anistia que livrou de punição tanto os agentes do estado travestidos de assassinos e torturadores quanto os terroristas do outro lado, igualmente criminosos. Apesar de amarga, a solução ensejou a passagem quase pacífica para o regime democrático, tendo o Supremo Tribunal Federal confirmado efeitos e consequências da solução adotada pelo Congresso.

Agora, integrantes da Comissão da Verdade, mas não todos, querem a revisão da Lei da Anistia para que a Justiça possa punir os culpados pelos execráveis abusos de certos detentores do poder de exceção. Passaram-se 34 anos, a maioria dos algozes morreu ou envelheceu. Levá-los ao banco dos réus, apenas através de um movimento popular como o argentino, com um  Raul Alfonsin caboclo. Algum dos candidatos já falados para as eleições do ano que vem se disporia a  discurso igual? Nem Dilma, nem Aécio, nem Marina nem Eduardo Campos. Sequer Fernando Gabeira…

Por Carlos Chagas
Fonte: Tribuna da Imprensa - 28/05/2013