O PT resolveu topar a
parada, quer dizer, não ceder à pressão do governador Sérgio Cabral e do PMDB
para que o senador Lindbergh Farias desista de concorrer ao governo
do Rio de Janeiro. Pelo contrário, o partido dos companheiros dispõe-se a
blindar o candidato, poupando-o do confronto direto com o governador, mas
reafirmando sua disposição de disputar o palácio Guanabara. A decisão adotada
pelo presidente do PT, Rui Falcão, certamente teve o apoio de Dilma e do
Lula, que em nenhum momento vão ceder às ameaças de Cabral, mesmo se ele
vier a bandear-se para a campanha de Aécio Neves, abandonando a
reeleição da atual presidente. ...
Caso tivesse amarelado, o PT correria o risco de a moda fluminense pegar, ou seja, de outros governadores do PMDB exigirem a retirada de candidatos petistas ao governos locais. Tudo indica que em muitos estados serão montados dois palanques, ou até
três ou mais, porque partidos da base oficial, como PSB, PTB
e PDT também pretendem lançar seus candidatos.Caso tivesse amarelado, o PT correria o risco de a moda fluminense pegar, ou seja, de outros governadores do PMDB exigirem a retirada de candidatos petistas ao governos locais. Tudo indica que em muitos estados serão montados dois palanques, ou até
A pergunta que se faz é o quanto esses embates poderão prejudicar a reeleição. A resposta por enquanto surge nebulosa, tendo em vista que a maioria do eleitorado inclina-se pelo segundo mandato de Dilma Rousseff sem maiores considerações com as disputas estaduais. O clima, no entanto, pode mudar.
FALTA UMA EXPLICAÇÃO
Continua a Caixa Econômica Federal sem responder à indagação maior no episódio da falsa extinção do bolsa-família: como irrigou 150 milhões de reais em suas agencias em todo o país na sexta-feira, 17, se os boatos que atingiram o benefício apenas começaram no sábado, 18? Já sabiam da lambança, antes?
Há perguntas suplementares: sem estímulo, as redes sociais e os telefones celulares teriam mobilizado quase um milhão de beneficiados, temerosos de não mais receber o benefício? Que empresa de telemarketing encarregou-se de espalhar o boato? Quem a contratou?
Enquanto a Polícia Federal não deslindar o caso, ficam as responsabilidades em aberto. Ao governo não interessava a confusão. Às oposições, também não. Mas grupos descontentes de um lado e de outro bem que poderiam ficar felizes com a crise…
SEMANA MURCHA
O feriado da quinta-feira não resultará apenas na eliminação da sexta como dia de trabalho no Congresso. Supõe-se que hoje, terça-feira, será bem menor o fluxo de deputados e senadores a Brasília, porque amanhã, quarta, teriam de retornar a seus estados. Por conta disso ou por coincidência, nenhum projeto de vulto estará em pauta na Câmara e no Senado. As comissões técnicas vão funcionar de mentirinha, assim como os plenários.
RESPALDO NAS URNAS?
Quando o hoje falecido Raul Alfonsín disputou a presidência da República, na Argentina, sua mensagem principal nos palanques era de que, se eleito, enviaria ao Congresso projeto modificando a Lei de Anistia aprovada pela ditadura militar, isentando de punição torturadores e assassinos, ou seja, eles mesmo. Dito e feito, a população em peso votou em Alfonsín, que na Casa Rosada promoveu intensa responsabilização dos culpados. Generais-presidentes foram parar na cadeia, até uma junta militar inteira viu o sol nascer quadrado, bem como esbirros de toda ordem.
Entre nós, prevalece a Lei da Anistia que livrou de punição tanto os agentes do estado travestidos de assassinos e torturadores quanto os terroristas do outro lado, igualmente criminosos. Apesar de amarga, a solução ensejou a passagem quase pacífica para o regime democrático, tendo o Supremo Tribunal Federal confirmado efeitos e consequências da solução adotada pelo Congresso.
Agora, integrantes da Comissão da Verdade, mas não todos, querem a revisão da Lei da Anistia para que a Justiça possa punir os culpados pelos execráveis abusos de certos detentores do poder de exceção. Passaram-se 34 anos, a maioria dos algozes morreu ou envelheceu. Levá-los ao banco dos réus, apenas através de um movimento popular como o argentino, com um Raul Alfonsin caboclo. Algum dos candidatos já falados para as eleições do ano que vem se disporia a discurso igual? Nem Dilma, nem Aécio, nem Marina nem Eduardo Campos. Sequer Fernando Gabeira…
Por Carlos Chagas
Fonte:
Tribuna da Imprensa - 28/05/2013