sexta-feira, 20 de abril de 2012

Uma CPI bem mansinha na CLDF


Negociação tenta assegurar maioria leal ao Buriti e controla os postos-chave


Agora que a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Arapongagem ameaça mesmo sair, como afirmam os deputados distritais, a ordem do Buriti é manter tudo sob controle. Como a tentativa de minar a CPI foi por água abaixo, a articulação do governo com os parlamentares da base aliada se pautará por compor a comissão com o máximo de deputados em sintonia com o GDF e colocar os mais confiáveis nos cargos estratégicos, como relatoria e presidência. Durante almoço com o governador Agnelo Queiroz, na última quarta-feira, os deputados foram avisados de que não era interessante para o governo dar andamento a uma CPI, qualquer que fosse, na Câmara Legislativa. No entanto, os parlamentares também avisaram ao governador que, naquele momento, também não era conveniente para a Câmara voltar atrás na aprovação pela investigação, feita um dia antes. Sepultar as investigações significaria, para parte dos deputados, desgastar ainda mais a imagem da Casa.

MONITORAMENTO

Distritais como Doutor Michel, do PSL, e Benedito Domingos, do PP, chegaram a dizer que, se o governador pedisse, voltariam atrás, mas a maioria preferiu não sofrer este desgaste. “Expusemos a dificuldade que isso representava, pois tínhamos acabado de dizer que haveria CPI e, assim, não dava para voltar”, contou um distrital. No impasse, a solução encontrada e levantada pelos parlamentares teria sido, justamente, o “monitoramento”. “Se um governo que tem 21 dos 24 dos deputados não puder controlar uma CPI, não tem como. Vamos investir no controle dos cargos, principalmente da relatoria e da presidência”, revelou o distrital.

SAIBA +

A previsão é de que a próxima terça-feira seja agitada na Câmara Legislativa.

Além da leitura do texto da CPI da Arapongagem, já devem ser escolhidos os
membros (devem ser cinco deputados, assim como nas últimas CPIs instaladas na Casa), o presidente e o relator da comissão. O prazo será de 180 dias, podendo ser prorrogado por mais 90 dias.

Escolhas feitas com cautela

Um nome, pelo menos, já foi indicado para compor a CPI. Aylton Gomes, do PR, é o deputado escolhido pelo bloco PTB-PP-PR-DEM. Segundo o líder, deputado Dr. Charles, do PTB, Paulo Roriz, do DEM, também chegou a manifestar interesse, mas devido ao andamento da comissão, a escolha foi por Aylton. “Ele pediu ao bloco, pois queria participar. O Paulo falou sobre o assunto, mas foi há um tempo e depois declinou”, explicou. Rôney Nemer, do PMDB, líder do blocão composto pelos deputados de PMDB, PSL, PTC, PTdoB e PSC, afirmou que o grupo ainda não se reuniu para tratar do assunto. “Vamos discutir isso na segunda-feira. Nosso bloco é muito homogêneo e qualquer um pode ser o indicado”, explicou. O líder do bloco PPS-PSB-PDT, deputado Israel Batista, do PDT, avisou que o grupo também não se reuniu ainda e que o assunto não foi tratado nem informalmente. Eliana Pedrosa, do PSD, líder da oposição, poderá indicar os nomes na segunda-feira. Entretanto, já corre pelos corredores da Casa que a representante da bancada seria Celina
Leão, do PSD, com suplência da Liliane Roriz ou da própria Eliana. “O objetivo é fazer uma coisa séria, ou então que não se faça. Mas sei que o governo tem número suficiente de deputados na Casa para fazer o que quiser. Só espero que não queiram fazer um jogo de faz de conta”, avaliou a distrital. Pelo bloco PT-PRB, a possibilidade é de que o nome do próprio líder, o petista Chico Vigilante, seja levado à votação. Outra petista que também deve entrar na investigação é Arlete Sampaio. A distrital seria um nome forte para a presidência.

TUDO EM PIZZA

A CPI da Arapongagem investigará a informação divulgada pela Revista Veja, no último final de semana, de que dois sargentos subordinados à Casa Militar acessaram dados pessoais de mais de vinte pessoas por meio do sistema do
Ministério da Justiça, o Infoseg. Ele guarda informações sobre cada cidadão brasileiro. Entre os monitorados estariam o deputado federal Fernando Francischini (PSDB-PR), o promotor Wilton Queiroz e o vice-governador do DF, Tadeu Filippelli (PMDB), além de jornalistas e simples cidadãos. “É uma CPI que já começa em pizza”, avalia o cientista político David Fleischer, da Universidade de Brasília (UnB). Para ele, a escolha dos nomes se dará por meio de barganhas, com trocas de cargos e visibilidade no governo, sem desfecho garantido. “O problema dessa CPI é que nas próximas semanas a crise pode se agravar. Se houver a cada dia mais gravações dos grampos e sobre Carlinhos Cachoeira, a CPI ficará fora de controle. Só não sabemos quando vai acontecer exatamente”, observa Fleischer


Fonte: Jornal de Brasilia 20/04/2012