Negociação tenta
assegurar maioria leal ao Buriti e controla os postos-chave
Agora
que a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Arapongagem ameaça mesmo sair,
como afirmam os deputados distritais, a ordem do Buriti é manter tudo sob
controle. Como a tentativa de minar a CPI foi por água abaixo, a articulação do
governo com os parlamentares da base aliada se pautará por compor a comissão
com o máximo de deputados em sintonia com o GDF e colocar os mais confiáveis nos
cargos estratégicos, como relatoria e presidência. Durante almoço com o governador
Agnelo Queiroz, na última quarta-feira, os deputados foram avisados de que não
era interessante para o governo dar andamento a uma CPI, qualquer que fosse, na
Câmara Legislativa. No entanto, os parlamentares também avisaram ao governador
que, naquele momento, também não era conveniente para a Câmara voltar atrás na
aprovação pela investigação, feita um dia antes. Sepultar as investigações
significaria, para parte dos deputados, desgastar ainda mais a imagem da Casa.
MONITORAMENTO
Distritais
como Doutor Michel, do PSL, e Benedito Domingos, do PP, chegaram a dizer que,
se o governador pedisse, voltariam atrás, mas a maioria preferiu não sofrer
este desgaste. “Expusemos a dificuldade que isso representava, pois tínhamos
acabado de dizer que haveria CPI e, assim, não dava para voltar”, contou um
distrital. No impasse, a solução encontrada e levantada pelos parlamentares
teria sido, justamente, o “monitoramento”. “Se um governo que tem 21 dos 24 dos
deputados não puder controlar uma CPI, não tem como. Vamos investir no controle
dos cargos, principalmente da relatoria e da presidência”, revelou o distrital.
SAIBA +
A previsão é de que a próxima
terça-feira seja agitada na Câmara Legislativa.
Além
da leitura do texto da CPI da Arapongagem, já devem ser escolhidos os
membros
(devem ser cinco deputados, assim como nas últimas CPIs instaladas na Casa), o presidente
e o relator da comissão. O prazo será de 180 dias, podendo ser prorrogado por
mais 90 dias.
Escolhas feitas com
cautela
Um
nome, pelo menos, já foi indicado para compor a CPI. Aylton Gomes, do PR, é o
deputado escolhido pelo bloco PTB-PP-PR-DEM. Segundo o líder, deputado Dr. Charles,
do PTB, Paulo Roriz, do DEM, também chegou a manifestar interesse, mas devido
ao andamento da comissão, a escolha foi por Aylton. “Ele pediu ao bloco, pois
queria participar. O Paulo falou sobre o assunto, mas foi há um tempo e depois
declinou”, explicou. Rôney Nemer, do PMDB, líder do blocão composto pelos
deputados de PMDB, PSL, PTC, PTdoB e PSC, afirmou que o grupo ainda não se reuniu
para tratar do assunto. “Vamos discutir isso na segunda-feira. Nosso bloco é
muito homogêneo e qualquer um pode ser o indicado”, explicou. O líder do bloco
PPS-PSB-PDT, deputado Israel Batista, do PDT, avisou que o grupo também não se reuniu
ainda e que o assunto não foi tratado nem informalmente. Eliana Pedrosa, do
PSD, líder da oposição, poderá indicar os nomes na segunda-feira. Entretanto,
já corre pelos corredores da Casa que a representante da bancada seria Celina
Leão,
do PSD, com suplência da Liliane Roriz ou da própria Eliana. “O objetivo é
fazer uma coisa séria, ou então que não se faça. Mas sei que o governo tem
número suficiente de deputados na Casa para fazer o que quiser. Só espero que
não queiram fazer um jogo de faz de conta”, avaliou a distrital. Pelo bloco
PT-PRB, a possibilidade é de que o nome do próprio líder, o petista Chico
Vigilante, seja levado à votação. Outra petista que também deve entrar na
investigação é Arlete Sampaio. A distrital seria um nome forte para a
presidência.
TUDO EM PIZZA
A
CPI da Arapongagem investigará a informação divulgada pela Revista Veja, no
último final de semana, de que dois sargentos subordinados à Casa Militar
acessaram dados pessoais de mais de vinte pessoas por meio do sistema do
Ministério
da Justiça, o Infoseg. Ele guarda informações sobre cada cidadão brasileiro.
Entre os monitorados estariam o deputado federal Fernando Francischini
(PSDB-PR), o promotor Wilton Queiroz e o vice-governador do DF, Tadeu Filippelli
(PMDB), além de jornalistas e simples cidadãos. “É uma CPI que já começa em pizza”,
avalia o cientista político David Fleischer, da Universidade de Brasília (UnB).
Para ele, a escolha dos nomes se dará por meio de barganhas, com trocas de
cargos e visibilidade no governo, sem desfecho garantido. “O problema dessa CPI
é que nas próximas semanas a crise pode se agravar. Se houver a cada dia mais
gravações dos grampos e sobre Carlinhos Cachoeira, a CPI ficará fora de
controle. Só não sabemos quando vai acontecer exatamente”, observa Fleischer
Fonte: Jornal de Brasilia 20/04/2012