Em
mais uma leva de conversas gravadas pela Polícia Federal e vazadas para a
imprensa, o bicheiroCarlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira,
aparece agora cobrando do ex-presidente do Detran de Goiás Edivaldo Cardoso o
apoio à eleição do governador Marconi Perillo (PSDB). A verba seria destinada
ao jornal O Estado de Goiás que,
após a divulgação do escândalo, tem a sua circulação semanal ameaçada.
– Essa história tá quebrando
meio mundo aqui em Goiás. Quem não conhece o Carlinhos Cachoeira aqui
em Anápolis – reclama o diretor do jornal, Carlos Nogueira.
No diálogo, gravado com
autorização judicial, o bicheiro e
o homem de confiança do governador tucano discutem a quem leva quanto da verba
publicitária destinada ao Detran. De acordo com Edivaldo Cardoso, o valor total
era de R$ 1,6 milhão. Cachoeira lembra
da participação que teve na campanha de Perillo e exige a maior fatia do bolo.
– Quem lutou e pôs o Marconi
lá fomos nós – cobra Cachoeira.
A conversa foi gravada por um
programa de escutas da PF em 2 de março do ano passado, logo no início do
governo de Marconi Perillo, quandoCachoeira descobriu que um jornal de Anápolis,
de oposição ao governador, receberia uma verba mais expressiva do que aquela
guardada para o jornal dele, que, segundo a Operação Monte Carlo, está em nome de um laranja do
bicheiro. Contrariado, Cachoeira diz
que a partilha não está correta e deve ser revisada.
– Aquele jornal foi contra o
Marconi – reclama o contraventor.
Na discussão, Cachoeira fala especificamente do Canal 5 de Anápolis, contratado para
transmitir as sessões da Câmara Municipal e que tem como diretor Carlos
Nogueira, o Butina, diretor da emissora.
– Posso provar que o jornal é
meu, posso mandar todos os documentos agora – afirma Nogueira.
O bicheiro, no entanto, tido
como o proprietário informal do jornal O Estado de Goiás, sai
em defesa de seus investimentos:
— O jornal O Anápolis vai
ganhar do Detran? Aquele jornal foi contra o Marconi o tempo inteiro. O Butina
falou que viu (o documento) na mão do cara (do governo) — contesta Cachoeira.
Mas Cardoso nega que a
informação seja verdadeira:
— Não viu, não. Eu fechei
isso ontem. Tinha televisões (e outros jornais). Eu pedi para incluir o seu
(jornal) lá — disse Edivaldo.
O então diretor do Detran
complementa o diálogo, afirmando que o jornal de Cachoeira terá uma “atenção
especial”. Ainda assim, de acordo com o diálogo gravado em 3’15″, o bicheiro
cobra do ex-dirigente a fatia do leão sobre as cotas de publicidade e diz que a
concorrência precisa ser contida.
– O nosso tem que ser muito
mais. Quem lutou e pôs o Marconi lá fomos nós! – esbraveja Cachoeira.
Edivaldo Cardoso cede diante
da pressão do contraventor e concorda com ele que a distribuição de verbas
públicas de publicidade para os veículos da oposição “não se justifica”. Nesse
momento, Cachoeira volta a cobrar o apoio ao governo goiano, durante a
campanha.
– Parceiro só para conversa,
não tem jeito. Você tem que nos mostrar em números – conclui o contraventor.