Sujeira dos bichos começa a espalhar odor fétido na cidade
Brasília
começou a afundar nesta terça-feira 24 em mais uma crise política. Entrou em
cartaz o remake do filme que o País inteiro assistiu há dois anos, quando a
abertura da Caixa de Pandora expôs a lama do então governador José Roberto
Arruda. Agora o lixo captado em escutas telefônicas começa a cheirar mal, com o
odor fétido sendo empurrado em direção ao Palácio do Buriti.
O roteiro da nova crise foi inspirado na torrente de água suja da cachoeira da
contravenção. E o vilão, sob os olhos do Buriti, é o deputado Patrício (PT),
presidente da Câmara Legislativa. A Comissão Parlamentar de Inquérito da
Arapongagem, oficializada no meio da tarde, recebeu 11 assinaturas. Patrício
foi o único petista a assinar. ...
Chico Vigilante, líder da bancada do PT, reagiu com virulência. Ele ocupou a
tribuna para defender processo de expulsão de Patrício, por contrariar a
orientação da legenda. “Esse fogo amigo precisa ser apagado e quem estimula a
divergência deve ser alijado sumariamente do processo político”, esbravejou.
O gesto do presidente da Câmara serviu de estímulo a outros deputados da base
governista. Distritais que Agnelo Queiroz acreditava manter em rédeas curtas
surpreenderam e assinaram o requerimento. Viraram persona non grata Luzia de
Paula e Cláudio Abrantes, do PPS; Joe Valle (PSB), Professor Israel (PDT),
Aylton Gomes (PR) e até Robério Negreiros, do aliadíssimo PMDB.
As outras assinaturas são do PSD, que sempre se postou como oposição a Agnelo.
O surgimento dos seus nomes (Celina Leão, Eliana Pedrosa, Liliane Roriz e
Washington Mesquita) não foi novidade.
O requerimento poderia ter ao menos outras três assinaturas, mas o fisiologismo
falou mais alto. Paulo Roriz, do DEM, parece ter fraturado a mão, pois se disse
sem condições de assinar nada. Outros dois deputados preferiram se alijar das
discussões. Um é Siqueira Campos (PMDB), que está na Câmara como suplente. O
outro, Agaciel Maia (PTC) quer ficar bem na fita com o papel de conciliador,
porque sonha contar com o apoio de Agnelo na disputa pela sucessão de Patrício.
Israel e Joe assinaram depois de muita pressão dos seus partidos. O primeiro
chegou a dizer que seguirá fiel ao PDT comandado pelo senador Cristovam
Buarque. O professor anunciou que está entregando as dezenas de cargos ocupados
por seus apadrinhados. Já Joe, mesmo assinando, está reticente. Não sabe se
obedece a orientação do senador Rodrigo Rollemberg, estrela maior do PSB na
capital da República, ou se mantém o apoio incondicional a Agnelo.
Novas cenas do filme são esperadas para a quinta-feira 26. O PPS vai se reunir
para decidir que rumos tomar. O deputado Roberto Freire, presidente nacional da
legenda, já anunciou que se o partido não abandonar o barco de Agnelo Queiroz,
a executiva regional enfrentará uma longa, desgastante e perigosa intervenção.
Essa possibilidade começou a provocar reações.
Um exemplo é o deputado Alírio Neto, secretário de Justiça. Ele tem confiado a
seus interlocutores que lamenta o quadro existente. Figura respeitada e seguida
pela maioria do PPS brasiliense, o parlamentar diz que a crise está
prejudicando a implantação de políticas públicas em Brasília. Ele cita como
exemplo o projeto antidrogas que envolve 300 mil crianças e adolescentes e
ex-detentos, com mais de 2 mil beneficiários.
Na reunião do dia 26, Alírio vai defender a permanência do partido na base do
governo, segundo confidenciam assessores próximos. Sobre a possibilidade de
deixar a Secretaria de Justiça, isso só acontecerá se o próprio governador
pedir o cargo. “O deputado não teme ser expulso do partido. Ele defende
bandeiras em benefício da sociedade e é avesso a disputas políticas”,
sintetizam seus aliados.
Há alguns dias, quando a crise política que bate nas portas do Buriti ganhou
maiores contornos, Alírio Neto recordou, durante conversa informal, que o PPS
autorizou a coligação com a chapa encabeçada por PT e PMDB e concordou em
compor a equipe de governo.
- Quem está mudando de posição é o partido, não é o deputado. Portanto, mesmo
se houver o rompimento, e ele permanecendo na secretaria, não tem porque temer
um processo de expulsão. Essa é uma hipótese com a qual Alírio não trabalha. E
o deputado será um soldado ferrenho na defesa da continuidade de tudo de bom
que vem sendo feito, enfatiza um membro da equipe do secretário.
Por Karla Maranhão e Felipe Meirelles
Fonte: Notibras -
25/04/2012