quarta-feira, 27 de março de 2013

"Secretário não é autoridade competente", aponta parecer da Procuradoria-Geral do DF

Secretário adjunto recebeu empresa de medicamentos sem ser autoridade competente Foto: Valter Campanato/ABr


Comprar aparelhos, equipamentos e remédios que não estão cadastrados no SUS parece uma cultura dentro da Secretaria de Saúde. No início do mês, o governo começou a vacinar crianças entre 11 e 13 anos contra o HPV – que é causada pelo papiloma vírus humano. O HPV pode levar ao câncer de colo de útero. A iniciativa é boa, mas a forma como foi feita a aquisição foge à regra.

Neste caso, o parecer da Procuradoria Geral do DF elenca 12 pontos que causam estranheza no processo. Um deles é que a vacina anti-HPV também não está cadastrada no Sistema Único de Saúde. Mesmo assim, o secretário Adjunto de Saúde do DF, Elias Miziara, recebeu no dia 11 de abril do ano passado em seu gabinete, a empresa
que fornece as vacinas. “Cumpre ressaltar que o secretário não é autoridade competente para recebimento de propostas”, aponta o texto.

Há ainda um possível direcionamento, já que houve especificação da vacina para os tipos 6, 11, 16 e 18, sem, no entanto, ter ainda uma recomendação do Ministério da Saúde para a aplicação da droga. A compra teve o aval do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos (Sindusfarma) que emitiu uma Declaração de Exclusividade afirmando que a empresa Merck Sharp & Dome Farmacêutica LTDA era fabricante exclusiva das vacinas no Brasil.

Entretanto, o secretário adjunto não se atentou que nas mesmas propostas é informado que a fabricante das vacinas é a empresa Merk & Co.,Inc, e o material é embalado na Holanda. Assim, seria possível então o GDF comprar os medicamentos por meio de importação com a isenção de impostos.

Mais cara - A SES gastou R$ 13 milhões para comprar as vacinas por meio da empresa Merck Sharp. Cada dose custou R$ 72,50. Só que o Fundo Rotatório da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) oferece o mesmo medicamento por R$ 27,6, quase três vezes mais barato.

Segundo uma reportagem do jornal Estado de S. Paulo, o GDF alegou que não comprou pelo Fundo Rotatório por que somente o governo federal poderia fazer isso. Mas ressaltando: a vacina sequer foi regulamentada pelo Ministério da Saúde.

A reportagem diz ainda que não há na região uma incidência preocupante nem um aumento que possa ter despertado a atenção. O câncer de colo de útero é a quinta causa de morte entre mulheres do Distrito Federal, com 84 registros anuais.

Sem concorrência - Durante o processo de compra das vacinas, outra empresa tentou a suspensão do contrato por que ela também fabricava a vacina anti-HPV. O laboratório Glaxo Smith Line disse ser apto a fornecer.

Outro lado - Sobre as vacinas HPV, “a Secretaria de Saúde entende que se uma vida for salva, o investimento já foi válido”, disse à reportagem do Guardião. A SES foi questionada o porquê não realizar procedimento para diagnóstico precoce. A SES argumentou que fez inúmeras ações nesse sentido. “A Carreta da Mulher é um exemplo. Em um ano de atuação (e agora com duas unidades) foram realizados mais de 30 mil exames preventivos”, disse.

Sobre não usar os medicamentos da GSK, a secretaria alegou que o Laboratório GlaxoSmithLine possui a vacina bivalente e o Merck Sharp a quadrivalente – a que foi comprada. E que foi comparado o valor da vacina bivalente e a quadrivalente.

“É natural que a vacina mais completa seja mais cara. Ainda mais em se tratando de compra menor - somente para o DF. (O processo foi) feito via compra regular, com participação de, pelo menos, uma dezena de empresas interessadas em oferecer o produto”, informou a SES.

A reportagem encaminhou uma lista com 13 questionamentos sobre os assuntos referidos na matéria. Apenas duas foram respondidas – a que se refere à vacina anti-HPV. O restante das perguntas, a SES respondeu da seguinte forma: “A Secretaria de Saúde do DF informa que todos os procedimentos foram realizados dentro da regularidade e acompanhados pelos órgãos de fiscalização”. Falta então responder por que a própria PGDF sugeriu representação dos problemas ao TCU?

Por Elton Santos

Fonte: Guardian Noticias