quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Lar de idosos precisa de ajuda


Casa que abriga 25 velhinhos em Luziânia enfrenta dificuldades para pagar funcionários, medicamentos e alimentação. Despesa mensal chega a R$ 30 mil

Depois de sofrer um AVC, Maria Francisca ficou com problemas para andar e passou a morar na Ciav

“Moro aqui porque não consigo andar”, conta Maria Francisca de Oliveira Silva, 73 anos. A vida sempre foi dura para mineira de Coromandel, que jamais recusou trabalho. Enquanto teve forças, a mãe solteira trabalhou como empregada doméstica e quituteira, experiências que lhe renderam fama de moça prendada em Minas Gerais. Há seis anos, porém, sofreu um acidente vascular cerebral que lhe tomou a capacidade fazer os movimentos mais simples. A ajuda para se tratar ela encontrou na
Casa do Idoso Amor à Vida (Ciav), que abriga atualmente 25 velhinhos em situação de vulnerabilidade, entre eles, alguns rejeitados por outras instituições devido à severidade de doenças neurodegenerativas, como o mal de Alzheimer. ...

Maria chegou a casa há quatro anos, quando o único filho, hoje com 47 anos, percebeu que não tinha condições de cuidar sozinho da mãe. “A maioria dessas pessoas tem histórias como a dela. As famílias desejam estar com os pais e os avós, mas não têm condições financeiras, físicas e psicológicas para dar atenção em tempo integral”, justifica o fundador da instituição, Celismar Rorigues Nery. Ele decidiu construir a casa depois ver de perto as condições em que viviam os idosos de outras entidades em que trabalhou. “Aqui não é depósito de gente. É o lar deles. Temos dois velhinhos aqui que não têm família e foram enviados pelo governo. Nossa fila de espera tem cerca de 80 pessoas.”

A Ciav foi fundada em maio de 2004 e sobrevive com a ajuda da comunidade. Durante sete anos, a sede ficou em Santa Maria. Sete anos depois, a Defesa Civil condenou o imóvel, que apresentava rachaduras nas paredes e no teto. Desabrigados, os idosos receberam ajuda de um voluntário, que cedeu a chácara localizada no Jardim Ingá, em Luziânia, onde vivem hoje. “Ele nos deu os primeiros meses de aluguel, mas, agora, estamos devendo. Só pagamos quando sobra um dinheirinho”, admitiu Celismar.

A administradora do local, Cláudia de Sousa Dias, conta que equilibrar as despesas no orçamento estreito requer controle e paciência, “pois não são raras as vezes em que os pagamentos ficam atrasados”. Uma das dívidas mais alta é com lavanderia, que passa de R$ 6 mil. Há também a conta de energia elétrica, próxima de R$ 1 mil, enquanto o montante destinado ao pagamento dos 18 funcionários supera R$20 mil. “No total, os gastos alcançam R$ 30 mil”, calcula o fundador. Segundo ele, os idosos que possuem condição financeira confortável ajudam a instituição com parte da aposentadoria.

 
A maioria dos abrigados sofre de doenças neurodegenerativas

Remédios caros
Ele ressalta que o trabalho dos profissionais não é voluntário. “Eles têm uma vida fora daqui, mas passam muito tempo com os velhinhos, que precisam de cuidados durante todo o dia. Temos médico, nutricionista, terapeuta ocupacional, técnicos em enfermagem, cuidadores e enfermeira”, lista. O médico responsável pela casa, David Nasser, ressalta que, além do gasto com pessoal qualificado, há a despesa com medicamentos. “São muitos hipertensos e diabéticos, e a maioria precisa de fraldas geriátricas. Há também casos de Alzheimer. A alimentação de todos precisa ser controlada”, completou.

De acordo com Márcio Borges, médico cardiologista e especialista em geriatria e gerontologia, o mal de Alzheimer é uma das doenças de tratamento mais caro atualmente. “É necessário que alguém da família pare de trabalhar ou que exista condição financeira para contratar um ou dois cuidadores. O custo dos medicamentos é alto”. Márcio ressalta que a doença é a maior causa de internações de idosos no mundo. Hoje, o Brasil possui 1,5 milhão de pessoas com o mal, “o que equivale a quase um novo diagnóstico a cada cinco minutos”, conclui. Um idoso nessa condição gasta até um salário mínimo apenas com remédios.

O especialista afirma que cuidar dos mais velhos requer muita paciência da família. “Nem todos conseguem entender o Alzheimer, por exemplo. Os parentes podem ficar mal-humorados e cansados daquela situação.”

Atenção

Doações podem ser feitas no BRB, conta-corrente nº: 103027880-3, agência nº 103. A Casa do Idoso Amor à Vida fica na Rua Belo Horizonte, Quadra 1, Chácara 1, Setor de Chácaras Marajoara (atrás do supermercado Econômico), no Jardim Ingá, em Luziânia. Telefones: 4102-8792
e 9223-0395

Por Isabela de Oliveira
Fonte: Correio Braziliense - 20/02/2013