Pelo menos um terço dos 32 titulares da
Comissão Parlamentar inquérito (CPI) mista que investigará as ligações do
contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, com políticos e
empresários já estiveram do outro lado do balcão, expostos a denúncias e
desconfiança da opinião pública. A personificação das reviravoltas políticas é
o ex-presidente da República e agora senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL).
Vinte anos depois de descer a rampa do Palácio do Planalto pela última vez,
como unanimidade nacional, ele volta à cena para investigar um de seus pares, o
senador Demóstenes Torres (sem partido-GO). Na lista de representantes do
Congresso indicados para buscar a verdade, há ex-fichas sujas, aliados de
figuras controversas, nomes envolvidos em escândalos nacionais e até deputado
pego no bafômetro.
Collor subiu à tribuna do Senado esta semana para anunciar que trabalhará contra o vazamento de informações à imprensa. Ele confidenciou a aliados que uma de suas motivações na CPI será colocar luz nas relações de repórteres e veículos de comunicação com a quadrilha de Cachoeira. A antiga condição de vidraça, no entanto, não é exclusividade do senador alagoano. Relator do colegiado, o deputado federal Odair Cunha (PT-MG) foi acusado de usar sua cota de passagens aéreas para financiar a viagem de um amigo entre Buenos Aires e o Rio. Cunha nega, argumentando que o bilhete foi adquirido com milhas e que pagou a taxa de embarque legalmente, segundo ele.