A soja que sai
de uma plantação no Mato Grosso para a mesa do consumidor chega com o custo do
frete encarecido pelas más condições das estradas. Mais de 730 mil crianças
ainda estão fora da escola no Brasil, em parte devido à falta de vagas e à
distância das instituições de ensino, aponta o Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (Ipea). Na área da habitação, o país acumula um déficit de 8
milhões
de moradias, estima o IBGE. ...Atrasos assim, que contrastam com as ambições de sexta economia do mundo, seriam amenizados e, em alguns casos, até resolvidos com o dinheiro despejado na vala da corrupção.
Segundo pesquisa da Federação das Industrias do Estado de São Paulo (Fiesp), beira os R$ 50 bilhões por ano, mais do que, por exemplo, o Produto Interno Bruto (PIB, a soma das riquezas produzidas) da Bolívia (R$ 45 bilhões).
A Fiesp chegou àquele montante com base em estudo que avaliou a percepção da corrupção no país. Com R$ 50 bilhões, equivalente a 1,38% de toda a riqueza produzida no país, poderíamos construir mais de 57 mil escolas e 918 mil moradias do programa Minha Casa Minha Vida. O valor também corresponde à verba que o governo federal consumiu no PAC entre 2007 e 2010, com rodovias, ferrovias, aeroportos, portos, marinha mercante e hidrovias. O investimento em infraestrutura poderia, portanto, se multiplicar se a corrupção deixasse de sangrar os cofres públicos.
Embora especialistas em contas públicas divirjam quanto à eficácia dos métodos de análise relativos à da corrupção, eles concordam que o dinheiro desviado faz uma falta danada aos investimentos em infraestrutura de transporte, educação, saúde e habitação. Áreas cujas condições ainda exigem um avanço compatível com os planos de desenvolvimento econômico e social.
O secretário e fundador da ONG Contas Abertas, Gil Castelo Branco, considera confiáveis os números apresentados pela Fiesp. Ele observa que o ônus da “roubalheira da máquina pública” acaba na conta do consumidor:
– A corrupção gasta aquilo que poderia ser investido. O chamado “Custo Brasil” está calcado em cima do quanto se gasta para transportar uma mercadoria pelas rodovias precárias, o sucateamento dos aeroportos e a falta de linhas ferroviárias. Isso envolve diretamente o dia a dia do cidadão. 50 bilhões de reais é um valor significativo. Esta é uma verba próxima à dos grandes ministérios, como o da Saúde e da Educação. É um dinheiro que faz falta.
Já o diretor executivo da ONG Transparência Brasil, Claudio Weber Abramo, pondera que “avaliar em números aquilo que acontece às escondidas não é possível”. Segundo ele, os casos detectados pelos órgãos públicos e pela imprensa mostram-se insuficientes para quantificar a conta da corrupção:
– Não se conhece a corrupção sem detectá-la. Esta é a única incidência concreta de corrupção. Não é possível uma avaliação objetiva. O que se pode fazer é a partir de indicações indiretas, intuir ou induzir que existe maior ou menor vulnerabilidade da corrupção em determinados tipos de atividades no Estado.
Tiago Coelho (Portal PUC Rio digital)
Fonte: Blog da
Tribuna - 26/05/2012