O que é
corrupção? Qual o ato mais grave? Uma pesquisa encomendada pelo Ministério
Público de Pernambuco (MPPE) busca mostrar como a população enxerga a
corrupção, como lida com ela e em que níveis ocorre em dez cidades do estado.
Elaborada pelo Grupo de Estudo do Macroambiente Empresarial de Pernambuco
(Gemepe), da Faculdade Frassinette do Recife (Fafire),
a pesquisa aponta que os
entrevistados se mostram mais tolerantes com a corrupção cotidiana, vista
muitas vezes como algo aceitável, do que com as vindas dos políticos.A pesquisa servirá como um apoio ao MPPE na campanha "O que você tem a ver com a corrupção?", que prevê ainda palestras, debates, cartilha e visitas a escolas e universidades. O promotor Maviael Souza lembra que o papel do MPPE vai muito além da repressão ao ato da corrupção. "Essa pesquisa complementa a nossa ação, vem para auxiliar na hora de mostrar às pessoas que é preciso mudar essa cultura. Quem comete um pequeno ato de corrupção hoje, vai cometer um maior amanhã se surgir a oportunidade", pondera.
Um
questionário foi aplicado em 700 pessoas nas cidades de Camaragibe, Olinda,
Paulista, Abreu e Lima, Igarassu, Jaboatão dos Guararapes, Moreno, Cabo de
Santo Agostinho, Ipojuca e Recife, entre 05 e 12 de março de 2012. A pesquisa foi dividida
em três temas maiores: a corrupção cotidiana; aquela que o indivíduo pratica
contra o estado - como não pedir nota fiscal ou pagar para não receber multa; e
a corrupção vinda dos políticos. "Percebemos que o nível de intolerância é
muito maior quando a atitude vem dos políticos", conta o professor
Uranilson Carvalho, que coordenou a pesquisa.
Para
99,12% dos entrevistados, a compra de votos em eleições utilizando verbas
públicas é apontada como grave ou muito grave. "Uma das formas de combater
a corrupção de políticos é a punição, mas essa pesquisa aponta que, mesmo não
sendo punidos, há graves danos à imagem do político se for veiculado na
imprensa que ele é corrupto", analisa o professor.
Em
contrapartida, baixar músicas e livros de sites da internet é uma atitude
aceitável para 55,25% dos entrevistados, sendo até mesmo correta para 28,43%
deles. Comprar produtos piratas, para 45,92% das pessoas abordadas pela
pesquisa é algo aceitável, mas 39,26% veem isso como uma atitude grave. "A
população tem uma certa dificuldade de entender pequenas práticas rotineiras do
dia a dia como corrupção. Por exemplo, comprar produtos piratas. Quando você
faz isso, alimenta todo um mercado criminoso, que vai desde a subtração dos
direitos autorais, até dar dinheiro para o crime organizado. Nós temos que
começar a mostrar à população que pequenas práticas transformam você em uma
pessoa melhor ou fazem de você, desculpem a expressão, mais um mau
caráter", acredita o promotor Maviael Souza.
A
pesquisa aponta que muitas pessoas acham grave ou muito grave o ato de furar a
fila quando surge a oportunidade, mas não apontam maiores problemas em
abrir mão do cupom fiscal para obter desconto na compra de uma mercadoria.
"Quando é afetada diretamente, a população tende a ver a situação como
mais grave", analisa o professor. Outro ponto abordado pela pesquisa é a
quantidade de pessoas que admite ter cometido algum ato de corrupção: 28% dos
entrevistados assume ter cometido, em algum momento. "Esse é um dado
importante, porque é muito difícil as pessoas admitirem", lembra Uranilson.