Cláudio Monteiro, Marcello de Oliveira, Paulo
Tadeu, Rafael Barbosa e João Feitoza, o Zunga: contatos do grupo com a máfia
incluem menções a propina
Ainda não surgiu um elo definitivo e pessoal do governador do
Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), com a quadrilha do contraventor
Carlinhos Cachoeira. Mas diálogos obtidos pela Polícia Federal (PF) tornam
delicada a situação da gestão petista na capital do país, que ainda não
respondeu de forma contundente às acusações. Ao menos cinco figuras do primeiro
e segundo escalões do governo mantiveram contatos suspeitos
com o bando. São
relações que podem ser esclarecidas pela CPI do Cachoeira no Congresso.
O chefe de
gabinete do governador, Cláudio Monteiro, caiu por suspeita de recebimento de
propina. João Carlos Feitoza, o Zunga, foi subsecretário de Esporte. Também
deixou o cargo quando surgiram indícios de que havia recebido dinheiro da
quadrilha. Marcello de Oliveira, o Marcellão, foi assessor especial da
Casa Militar. Acabou exonerado porque os investigadores descobriram que atuava
como uma ponte entre o grupo de Cachoeira e o governo.
Ao trio somam-se
dois integrantes do primeiro-time de Agnelo: o secretário de Governo, Paulo
Tadeu, e o de Saúde, Rafael Barbosa. A dupla se encontrou com Cláudio Abreu,
então diretor da Delta no Centro-Oeste, para tratar do contrato de coleta de
lixo na capital. Abreu relatou o encontro em um telefonema ao próprio Cachoeira.
E contou que a dupla pretendia se aproximar do contraventor.
Propina - Os indícios de corrupção são fortes: os
diálogos da quadrilha revelam que um pagamento de 3 000 reais a Zunga entrou na
contabilidade do bando. O próprio Zunga aparece em diálogos cobrando o
adiantamento "daquele negócio". Cláudio Monteiro, por sua vez, é citado
como o destinatário de um "presente" pela indicação de um aliado da
quadrilha no comando do Serviço de Limpeza Urbana da capital: 20 000 reais de
imediato e uma mesada de 5 000 reais.
Em um diálogo
posterior, integrantes do grupo revelam uma mudança de estratégia. Cláudio
Monteiro não receberia mais propina. O alvo seria Rafael Barbosa. Ambos têm
ligações estreitas com Agnelo. Monteiro foi número 2 de Agnelo no Ministério do
Esporte. Barbosa foi número 2 de Agnelo na Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
Em 2010, Monteiro
foi candidato a deputado distrital. Agnelo gravou um vídeo ao lado do amigo e
pediu votos: Cláudio Monteiro seria, segundo ele, "um deputado de quem nós
não teremos surpresa. Competente, de trabalho, comprometido com a nossa cidade
e que honrará o seu mandato". Monteiro ocupava outro cargo-chave: o
de secretário-executivo do Comitê Organizador da Copa do Mundo de 2014.
Do
quinteto-problema de Agnelo, três integrantes foram convocados para falar à CPI
do Cachoeira: Monteiro, Zunga e Marcellão. Será uma chance de esclarecer o grau
de infiltração do grupo de Cachoeira no governo do Distrito Federal. Até agora,
Cláudio Monteiro, Paulo Tadeu e Rafael Barbosa alegam inocência. Zunga e
Marcellão sumiram.
É difícil
imaginar que o grupo, especialmente Cláudio Monteiro, tenha agido à revelia do
chefe do governo. Diante das denúncias contra seu braço-direito, Agnelo se vê
contra a parede: se sabia das irregularidades, prevaricou. Se não sabia, não
mantém controle sobre a antessala do próprio gabinete.
Resposta - A assessoria de Agnelo alega que o
governo não tomou qualquer decisão que beneficiasse o grupo de Cachoeira.
Lembra que o contrato com a Delta já estava em vigor e foi questionado pela
gestão petista. E afirma que o nome pretendido pela quadrilha para o comando do
SLU não foi nomeado.