Arquivos
apreendidos com Paulo Roberto Costa apontam adulteração em faturas enviadas à
gigante dinamarquesa Maersk, suspeita de pagar comissão a ele pelo aluguel de
navios à Petrobras.
A Polícia Federal obteve indícios de que o ex-diretor
da Petrobras Paulo Roberto Costa fraudava documentos para receber dinheiro
de propina da dinamarquesa Maersk.
Como ÉPOCA revelou em sua última edição, a PF encontrou vasta documentação
digital, na casa de Paulo Roberto. Nela, aparecem evidências que reforçam a
suspeita de que a Maersk pagara propina, entre 2006 e 2010, para alugar navios
à Petrobras. Nesse período, Paulo Roberto era diretor de abastecimento da
estatal e comandava os contratos de afretamento de navios. Segundo os documentos,
extraídos pela PF de um pen drive de Paulo Roberto, a Maersk pagou R$ 6,2
milhões em comissões. O dinheiro era pago numa conta dum amigo de Paulo
Roberto, Wanderley Gandra.

Gandra é piloto de helicóptero e parceiro de carteado
nos jogos de buraco organizados por Paulo Roberto. A PF suspeita, diante das
evidências encontradas na casa de Paulo Roberto, que Gandra seja laranja dele
nas transações com a Maersk. A dinamarquesa Maersk é a maior empresa de navios
do mundo, com faturamento
anual de US$ 47,4 bilhões e ações negociadas na
bolsa. Num dos arquivos, até agora inédito, Gandra presta contas do dinheiro
Os arquivos secretos de Paulo Roberto estão nos
processos da operação Lava Jato, em que a PF investiga uma espécie de sistema
bancário paralelo no Brasil, comandado por quatro doleiros - o mais famoso
deles é Alberto Youssef, de quem Paulo Roberto era sócio informal. ÉPOCA obteve
acesso à íntegra dessa investigação, enviada na semana passada ao Supremo
Tribunal Federal após o ministro Teori Zavascki suspender os processos e
ordenar a libertação de Paulo Roberto. As provas da investigação somam 4
terabytes – o equivalente a 1 milhão de músicas ou 4 mil horas de vídeo.
As provas revelam como Gandra recebia o dinheiro da
Maersk. Havia contratos secretos entre uma empresa controlada pela Maersk e
Gandra. Previam o pagamento de comissão de 1,25% sobre o dinheiro que a Maersk
recebesse para alugar navios à Petrobras. O dinheiro, segundo comprovantes
bancários, vinha diretamente da Dinamarca.
Para receber os pagamentos, descobriu a PF, Gandra e
Paulo Roberto preparavam recibos mensais à Maersk. Ao analisar os documentos de
Paulo Roberto, a PF descobriu evidências de que Paulo Roberto fraudava os
recibos. Num dos arquivos, a PF localizou um documento que continha apenas um
recorte digital da assinatura de Gandra, necessária para enviar os recibos à
Dinamarca. Sem os recibos, o dinheiro não era pago.
A Polícia Federal encontrou indícios de que o
ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa ou alguém de sua confiança fraudava
a assinatura em documentos enviados à Maersk para o recebimento da comissão de
corretagem referente ao aluguel da embarcações pela Petrobras.
A assinatura, nos exatos moldes da encontrada nesse
arquivo, consta das dezenas de recibos apresentados pela empresa de Gandra à
Maersk. Cópias desses recibos também estavam nos pen drives. A análise da PF
nos documentos aponta evidências de que os recibos eram assinados de forma
fraudulenta. Paulo Roberto, diz o relatório, apenas enxertava neles,
digitalmente, a assinatura do amigo. “Existe, portanto, a possibilidade de que
o próprio Paulo Roberto Costa ou alguém de sua confiança seja o responsável
pela confecção das notas de débito”, dizem os peritos da PF no relatório sobre
o caso.
Planilhas encontradas em poder de Paulo Roberto
mostram os valores recebidos pela Gandra Brokerage. O amigo Wanderley Gandra
afirma ter enviado por engano o material ao ex-diretor da Petrobras.
No mesmo pen drive, há numerosos indícios de que a
Gandra Brokerage era apenas uma empresa de fachada do grupo de Paulo Roberto.
Na contabilidade da empresa, apreendida com Paulo Roberto, constam apenas
pagamentos da Maersk. A sede da Gandra Brokerage ficava num apartamento
residencial no bairro do Cosme Velho, no Rio.
A ÉPOCA, Gandra, o amigo de Paulo Roberto, disse que
ele foi o responsável “por trazer a Maersk para o Brasil”, em 2006:
"Expliquei que o Brasil tinha potencial muito grande”. Negou qualquer
irregularidade. E disse que “mandou por engano” ao amigo Paulo Roberto os
arquivos da Maersk. "Nós jogamos buraco, e a gente manda a tabela... quem
ganhou, quem perdeu. Devo ter mandado o e-mail errado para ele, no lugar da
tabela”, disse.
Em nota, a Maersk confirma que tinha contrato com a
Gandra Brokerage, mas não esclarece por que a escolhera para fazer negócios com
a Petrobras. A Maersk nega quaisquer irregularidades. "No Brasil - e
trabalhando estritamente dentro das normas da indústria -, a Maersk
Tankers usou a Corretagem Gandra e pagou uma comissão de 1,25%, que é a padrão
do setor/indústria. A Maersk Tankers é a única empresa da Maersk que tem
realizado negócios com a Corretagem Gandra. A Maersk não tem nenhum contrato
com Paulo Roberto Costa”, diz a nota. A Maersk confirma que só paga a comissão
“após a apresentação de faturas oficiais emitidas pelo corretor em questão”.
Nélio Machado, advogado que assumiu recentemente a defesa de Paulo Roberto
Costa, diz que não ainda conversou com seu cliente sobre a investigação da PF.
Afirma que Paulo Roberto prestará os esclarecimentos quando for necessário.
Fonte: DIEGO ESCOSTEGUY E
MARCELO ROCHA - revista Época