Comemorada
nesta quarta-feira (23), a data serve para alertar a população sobre os riscos
dessa doença, que atinge cerca de 11 mil crianças brasileiras todos os anos.
Crianças como Guilherme Moretão, que tem sua história contada aqui
“Os
soldadinhos do bem estão lutando contra os vilões que estão querendo crescer
dentro de você.” Foi assim que Mariana Piemonte Moretão explicou ao filho
Guilherme o que era o câncer. Diagnosticado com
leucemia aos 3 anos e 9 meses, ele ainda não compreendia o que estava
acontecendo com seu corpo, muito menos porque tinha de fazer muitos exames e
tomar muitos remédios, mas sereno e inocente, colaborou com os médicos e manteve
em seu rosto um sorriso largo, que deu força a seus pais. “Nunca chorei na
frente dele, sempre me mantive forte, porque ele me mantinha assim”, diz
Mariana.
O surgimento de um pequeno nódulo no pescoço de Guilherme foi o primeiro
sintoma da leucemia, o tipo de câncer mais comum entre
crianças e adolescentes brasileiros, que corresponde a 29% dos casos
registrados no país, de acordo com o último levantamento do Instituto Nacional
do Câncer (INCA). Mariana notou o nascimento da íngua e preocupada o levou ao
médico. Não por desconfiar que ele estivesse com câncer, e sim por acreditar
que se tratava de alguma virose ou infecção. “Fizemos vários exames que não
detectaram nada, mas os nódulos foram se multiplicando e levamos ele a
infectologista”, conta Mariana. Foi essa médica quem alertou que Guilherme
poderia estar com uma doença grave, e apesar de relutante, a mãe – bióloga que
já tinha dedicado duas teses ao estudo do câncer, - já sabia do que se tratava. O surgimento de um pequeno nódulo no pescoço de Guilherme foi o primeiro
O diagnóstico foi confirmado um dia após a primeira visita ao médico, e Guilherme teve de ficar internado no Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba, onde a família mora. “Meu marido ficou no hospital, enquanto fui para a casa arrumar as malas e levar meu outro filho, que tinha 6 meses, até a casa da minha mãe. Foi a pior noite da minha vida”, afirma Marina. Guilherme passou por um tratamento intensivo, que durou 8 meses, os mais longos da vida da família. “Tive que largar meu emprego. Na época, estava fazendo meu pós-doutorado, tive que parar, porque ele ficava uma semana inteira internado, e na outra tinha de ir ao hospital todos os dias”, fala a mãe.
Por ter seu câncer diagnosticado precocemente, Guilherme respondeu bem as sessões de quimioterapia e radioterapia. De acordo com Luiz Fernando Lopes, oncologista do Hospital do Câncer de Barretos, a detecção precoce aumenta as chances de a criança eliminar os tumores e as células tumorais. Atualmente, segundo levantamento do INCA, cerca de 70% das crianças diagnosticadas com câncer conseguem superar a doença. Fato que reforça que o câncer é o prenuncio de uma luta que acomete toda a família, e não uma sentença de morte como foi estigmatizado.
O câncer no Brasil
O câncer infanto-juvenil é considerado raro quando comparado com os tumores de adultos. Ele corresponde a 3% dos casos no Brasil, de acordo com o INCA. Mas merece a mesma atenção, porque ele atinge cerca de 11 mil crianças e adolescente por ano, no Brasil. “O problema é que apenas metade dessas crianças é atendida em centros especializados”, afirma Lopes. Isso se deve, em grande parte, a falta de hospitais especializados e mesmo de um diagnostico preciso. “Tem criança que morre sem ao menos saber que teve câncer”, alerta o oncologista, que acredita que o simples fato de ter uma data para debater o tema e alertar a população já é um grande avanço para a política de saúde nacional.
Não existe uma única causa para o surgimento do câncer e nem um tratamento definitivo, mas os avanços tecnológicos possibilitam que as crianças que tem acesso ao tratamento em tempo hábil, levem uma vida normal, após o término. Atualmente, depois de cinco anos, se a doença não se manifestar de novo, as chances são consideradas menores. “Ainda não podemos falar em cura", diz Flora Watanabe chefe do departamento de oncologia do Hospital Pequeno Príncipe. "A probabilidade diminui, mas não é uma garantia." Hoje, três anos depois do tratamento, Guilherme leva uma vida normal: vai à escola e, como as crianças da idade dele, adora jogar bola. "Convivo com o fantasma do câncer", diz a mãe Mariana. "Mas falo para o meu filho que os soldadinhos do bem sempre vão vencer."
Fonte: Revista Crescer