sábado, 10 de novembro de 2012

Ah, se eu fosse o Kassab...


O PSD nasceu para ser grande. Vendeu sua imagem como a força do novo e ergueu a tal bandeira da independência, que na verdade encobre sua tendência ao “coringuismo”. E deu certo. Com pouco mais de um ano de vida, o partido de Gilberto Kassab já é tido como um dos maiores do Brasil.

Atraiu para seus quadros verdadeira salada ideológica. De extrema-direita aos mais esquerdistas, todos com espaço e liberdade para atuar. Foi a deixa que muitos precisavam para se desacorrentarem, respaldados pela lei eleitoral, dos partidos que os prendiam e passaram a desfrutar da sensação de pertencerem a uma sigla sem dogmas. Esse era o ideal de Kassab. Ou parece ser. ...

Mas a política é cruel. Com a derrocada na capital paulista da candidatura de seu aliado, José Serra (PSDB), o ainda prefeito de São Paulo teve de
se mexer antes de deixar a cadeira. Decidiu declarar apoio ao eleito Fernando Haddad (PT) e ainda acenar com a possibilidade de embarque na base de Dilma no Congresso Nacional.

Apesar das discordâncias de alguns, era aceitável. Afinal, para esses, Dilma faz um governo pouco partidário. Assume a simpatia por nomes indigestos até para o partido que a elegeu, o de Lula, e não é tão rigorosa em exigir o companheirismo petista. Além do mais, é uma presidenta que tem o apoio da maioria da população brasileira. Tudo que o novato PSD precisa para justificar o mergulho de cabeça no projeto do atual governo federal.

Nessa onda nacional, o PSD do DF tenta surfar da mesma forma. O ex-governador Rogério Rosso, que ganhou de bandeja a presidência regional da legenda, sente-se quase uma versão kassabiana no cerrado do quadrilátero do DF. Com algumas gritantes diferenças.

Enquanto Kassab está no fim de seu mandato, e pelo jeito já à procura de uma cadeira para ocupar, Rosso já está fora do GDF há quase dois anos. E sem perspectiva de voltar. Kassab galga uma pasta forte no governo Dilma para oficializar o apoio ao mandato da primeira presidenta do Brasil. Rosso diz querer repetir no DF a aliança nacional e acena com a possibilidade de, em troca de algumas dezenas de cargos, embarcar no projeto sem norte do governo de Agnelo Queiroz (PT).   

Kassab agora negocia a possibilidade de assumir uma cadeira daqui a três meses, quando deixará a prefeitura paulistana. Rosso deixa vazar que já se encontrou diversas vezes com Agnelo para tratar do possível ingresso do PSD na base do petista, sem antes nem ter ouvido a opinião dos parlamentares de sua bancada. Aliás, a segunda em tamanho e importância na Câmara Distrital.

Enquanto Kassab tenta manter-se no cenário nacional como liderança política, Rosso engole a seco todos os predicados a ele atribuídos no passado por Agnelo, ou melhor – seu possível aliado – para justificar um desejo incontrolável de novamente ser chamado de Vossa Excelência. Ou então deve haver outro significado para a conhecida e repetida expressão “herança maldita”.

Se na esfera nacional o prefeito Gilberto Kassab tenta construir uma das maiores bancadas da Câmara dos Deputados, Rosso corre o risco de enxotar a representatividade do novato partido no legislativo local. Enquanto Kassab caminha para integrar o PSD a um projeto que detém mais de 70% de aprovação do povo, pelo Distrito Federal o ex-governador apanha, quase que diariamente, para tentar explicar seu gesto de querer ingressar numa gestão que bate o recorde de rejeição na história política da cidade.

Mas tudo é justificável. Se Rosso pretendesse realmente ser um Kassab, teria que no mínimo ter passado pelo teste das urnas, coisa que nunca ocorreu. Sem dúvida, daria mais valor a cada voto de cada eleitor que acreditasse em um projeto político. Foi secretário de Estado, presidente de Estatal, administrador de cidade, nunca indicado pelo povo – sempre por algum aliado maior como Roriz e Arruda. Chegou a ser escolhido duas vezes para um mandato tampão: a primeira como governador do DF, eleito por alguns deputados distritais apenas, e outra como deputado federal, por pouco mais de um mês, devido à renúncia do titular da vaga.

Toda a movimentação nacional de Kassab tenha, talvez, vendado os olhos do líder maior do partido sobre o que tem acontecido no Distrito Federal. Mas, se me permitem, e com a licença do ex-governador Rogério Rosso, se eu fosse o Kassab, eu chamaria imediatamente o presidente regional da minha legenda para uma reunião a portas fechadas.

Perguntaria a ele, em primeiro lugar, o motivo de querer colocar no balcão da feira da política três importantes integrantes de meu partido no DF: Eliana Pedrosa – a segunda mais votada da legislatura –, Liliane Roriz – herdeira política de mais de 30% de intenção de votos da família Roriz no DF – e Celina Leão, talvez a mais aguerrida parlamentar da Câmara do DF.  Por que querer ficar apenas com um nome no legislativo distrital?

Questionaria ainda se, por trás desse suposto plano de aderir à gestão petista local, estaria o objetivo de ser mais um dos políticos de ocasião, aqueles que no entra e sai de governo estão sempre no poder, com cargos no primeiro-escalão. Afinal, esteve com Roriz, com Arruda e agora parece querer juntar-se ao governo de Agnelo.

E, claro, finalizaria o nobre encontro com uma pergunta simples: por que nivelar o meu projeto ideológico, que resultou nesse novo partido, que tanto é elogiado por cacifados políticos e estudiosos brasileiros, ao daqueles que apenas usam suas legendas em troca de benefícios pessoais?

Ah, se eu fosse o Kassab...


Por Edson Sombra

Fonte: Editorial / Edson Sombra - 09/11/2012