O PSD nasceu para ser grande. Vendeu sua imagem
como a força do novo e ergueu a tal bandeira da independência, que na verdade
encobre sua tendência ao “coringuismo”. E deu certo. Com pouco mais de um ano
de vida, o partido de Gilberto Kassab já é tido como um dos maiores do Brasil.
Atraiu para seus quadros verdadeira salada
ideológica. De extrema-direita aos mais esquerdistas, todos com espaço e
liberdade para atuar. Foi a deixa que muitos precisavam para se
desacorrentarem, respaldados pela lei eleitoral, dos partidos que os prendiam e
passaram a desfrutar da sensação de pertencerem a uma sigla sem dogmas.
Esse era o ideal de Kassab. Ou parece ser. ...
Mas a política é cruel. Com a derrocada na capital
paulista da candidatura de seu aliado, José Serra (PSDB), o ainda prefeito de
São Paulo teve de
se mexer antes de deixar a cadeira. Decidiu declarar apoio ao
eleito Fernando Haddad (PT) e ainda acenar com a possibilidade de embarque na
base de Dilma no Congresso Nacional.
Apesar das discordâncias de alguns, era aceitável.
Afinal, para esses, Dilma faz um governo pouco partidário. Assume a simpatia
por nomes indigestos até para o partido que a elegeu, o de Lula, e não é tão
rigorosa em exigir o companheirismo petista. Além do mais, é uma presidenta que
tem o apoio da maioria da população brasileira. Tudo que o novato PSD precisa
para justificar o mergulho de cabeça no projeto do atual governo federal.
Nessa onda nacional, o PSD do DF tenta surfar da
mesma forma. O ex-governador Rogério Rosso, que ganhou de bandeja a presidência
regional da legenda, sente-se quase uma versão kassabiana no cerrado do
quadrilátero do DF. Com algumas gritantes diferenças.
Enquanto Kassab está no fim de seu mandato, e pelo
jeito já à procura de uma cadeira para ocupar, Rosso já está fora do GDF há
quase dois anos. E sem perspectiva de voltar. Kassab galga uma pasta forte no
governo Dilma para oficializar o apoio ao mandato da primeira presidenta do
Brasil. Rosso diz querer repetir no DF a aliança nacional e acena com a
possibilidade de, em troca de algumas dezenas de cargos, embarcar no projeto
sem norte do governo de Agnelo Queiroz (PT).
Kassab agora negocia a possibilidade de assumir uma
cadeira daqui a três meses, quando deixará a prefeitura paulistana. Rosso deixa
vazar que já se encontrou diversas vezes com Agnelo para tratar do possível
ingresso do PSD na base do petista, sem antes nem ter ouvido a opinião dos parlamentares
de sua bancada. Aliás, a segunda em tamanho e importância na Câmara Distrital.
Enquanto Kassab tenta manter-se no cenário nacional
como liderança política, Rosso engole a seco todos os predicados a ele
atribuídos no passado por Agnelo, ou melhor – seu possível aliado – para
justificar um desejo incontrolável de novamente ser chamado de Vossa
Excelência. Ou então deve haver outro significado para a conhecida e repetida
expressão “herança maldita”.
Se na esfera nacional o prefeito Gilberto Kassab
tenta construir uma das maiores bancadas da Câmara dos Deputados, Rosso corre o
risco de enxotar a representatividade do novato partido no legislativo local.
Enquanto Kassab caminha para integrar o PSD a um projeto que detém mais de 70%
de aprovação do povo, pelo Distrito Federal o ex-governador apanha, quase que
diariamente, para tentar explicar seu gesto de querer ingressar numa gestão que
bate o recorde de rejeição na história política da cidade.
Mas tudo é justificável. Se Rosso pretendesse
realmente ser um Kassab, teria que no mínimo ter passado pelo teste das urnas,
coisa que nunca ocorreu. Sem dúvida, daria mais valor a cada voto de cada
eleitor que acreditasse em um projeto político. Foi secretário de Estado,
presidente de Estatal, administrador de cidade, nunca indicado pelo povo –
sempre por algum aliado maior como Roriz e Arruda. Chegou a ser escolhido duas
vezes para um mandato tampão: a primeira como governador do DF, eleito por
alguns deputados distritais apenas, e outra como deputado federal, por pouco
mais de um mês, devido à renúncia do titular da vaga.
Toda a movimentação nacional de Kassab tenha,
talvez, vendado os olhos do líder maior do partido sobre o que tem acontecido
no Distrito Federal. Mas, se me permitem, e com a licença do ex-governador
Rogério Rosso, se eu fosse o Kassab, eu chamaria imediatamente o presidente
regional da minha legenda para uma reunião a portas fechadas.
Perguntaria a ele, em primeiro lugar, o motivo de
querer colocar no balcão da feira da política três importantes integrantes de
meu partido no DF: Eliana Pedrosa – a segunda mais votada da legislatura –,
Liliane Roriz – herdeira política de mais de 30% de intenção de votos da
família Roriz no DF – e Celina Leão, talvez a mais aguerrida parlamentar da
Câmara do DF. Por que querer ficar apenas com um nome no legislativo
distrital?
Questionaria ainda se, por trás desse suposto plano
de aderir à gestão petista local, estaria o objetivo de ser mais um dos
políticos de ocasião, aqueles que no entra e sai de governo estão sempre no
poder, com cargos no primeiro-escalão. Afinal, esteve com Roriz, com Arruda e
agora parece querer juntar-se ao governo de Agnelo.
E, claro, finalizaria o nobre encontro com uma
pergunta simples: por que nivelar o meu projeto ideológico, que resultou nesse
novo partido, que tanto é elogiado por cacifados políticos e estudiosos
brasileiros, ao daqueles que apenas usam suas legendas em troca de benefícios
pessoais?
Ah, se eu fosse o Kassab...
Por Edson Sombra
Fonte: Editorial / Edson Sombra - 09/11/2012