Em depoimento de
oito horas e meia à CPI que investiga as relações do bicheiro Carlinhos Cachoeira com políticos e empresários nesta
terça-feira (12), o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB-GO), negou
envolvimento pessoal com o contraventor e também rejeitou suspeitas de que o
grupo que explorava o jogo ilegal no estado tivesse algum tipo de influência em
sua gestão.
"Não
há nenhum ato do governo de Goiás, no meu governo, em beneficio ou na direção
do que suscita os diálogos divulgados na imprensa sobre a Operação Monte
Carlo", disse Perillo no depoimento sobre a operação da Polícia Federal
que prendeu Cachoeira. Servidores de seu governo, como a ex-chefe de
gabinete,
um assessor direto e o presidente do Detran, pediram demissão após divulgação
do suposto elo com o grupo do bicheiro.
"Eu
rechaço veementemente a possibilidade de corrupção no meu governo",
completou o governador.
Investigação
da Polícia Federal apontou suposta influência de
Cachoeira no governo de Goiás. O bicheiro teria relações com auxiliares do
governador. Em uma das gravações de escutas telefônicas autorizadas pela
Justiça, a PF capturou um telefonema em que Perillo cumprimenta Cachoeira pelo
aniversário do contraventor. Há suspeita de que uma casa vendida pelo
governador tenha sido comprada indiretamente por Cachoeira, numa transação que
teria envolvido assessores de Perillo. Em fevereiro, durante a Operação Monte
Carlo, a Polícia Federal prendeu Cachoeira nessa casa.
Perillo
começou a depor às 10h30 e falou por pouco mais de uma hora antes de começar a
responder perguntas de deputados e senadores. Em suas considerações iniciais,
ele afirmou que se sente "vítima de uma grande injustiça".
Por
volta das 11h45, passou a ser questionado pelo relator da CPI, deputado Odair
Cunha (PT-MG), e em seguida pelos demais parlamentares. Sobre a venda de sua
casa, na qual Cachoeira foi preso pela PF, ele negou que haja contradições nas versões - há ao menos quatro
versões para a venda do imóvel.
Durante
o depoimento, Perillo citou ainda que "muitas pessoas gostariam de
desestabilizar" seu governo. "Acho que muitas pessoas gostariam de
desestabilizar o meu governo. Agora, eu jamais diria que essa é a intenção da
CPI."
Bate-boca na CPI
Uma pergunta do relator desencadeou um tumulto e um bate-boca entre os parlamentares na sessão. Cunha perguntou a Perillo, que depôs na condição de testemunha, se o governador estaria disposto a autorizar a quebra de seu sigilo telefônico.
De
imediato, parlamentares da oposição se dirigiram aos gritos ao relator,
reclamando da indagação de Odair Cunha. "Ele [Perillo] nao é investigado.
[...] O relator se perde, ele está aqui como testemunha", gritou o
deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP."O governador Marconi Perillo é, sim,
investigado pela CPI", respondeu Cunha. Depois, o presidente da comissão
esclareceu que o governador não era investigado, mas sim testemunha.
Relações com Cachoeira
Em sua fala, Perillo destacou que "não há fato concreto" nas interceptações telefônicas que apontam o envolvimento de servidores em irregularidades.
"Não
há consequência prática entre as conversas e as ações do meu governo. Por uma
razão muito simples: nunca tive proximidade com o Sr. Cachoeira."
Ainda
segundo governador, na investigação da Polícia Federal não há registro de
nenhum telefonema que ele tenha recebido de Cachoeira. Ele contou que, no
telefonema que fez ao bicheiro, estava na casa de um amigo, durante uma reunião
social, quando alguém lembrou que era dia do aniversário de Cachoeira e
perguntou a ele se não gostaria de cumprimentá-lo. Perillo disse ter o hábito
de parabenizar as pessoas pelos aniversários.
"Não
estava telefonando para o contraventor, mas para o empresário", declarou
Perillo, em referência aos negócios de Cachoeira na área da indústria
farmacêutica em Goiás
De
acordo com Marconi Perillo, o único encontro formal entre ele e Carlinhos
Cachoeira se deu na sede do governo. "Ocorreu no Palácio das Esmeraldas,
em audiência, como empresário, formalmente solicitada para tratar de assuntos
da Vitapan (empresa farmacêutica)." A Vitapan é oficialmente da ex-mulher
de Cachoeira, mas, segundo a PF, continua sendo comandada pelo bicheiro.
O
líder do PT na Câmara, deputado Jilmar Tatto, ironizou as declarações de
Perillo. "No mínimo, o senhor nao tem muita sorte. [...] O senhor vende
uma casa, quem compra é o Cachoeira. Num momento de descuido, o sr. liga pro
Cachoeira e a PF grampeia. E agora, por um azar do destino, a filha do senhor é
colega da sobrinha do Cachoeira."
Jogo ilegal
Perillo disse que não tem vínculos com Cachoeira e que, durante o governo dele, houve combate à contravenção e apreensão de máquinas caça-níqueis.
"O
senhor nunca foi informado sobre as ações do principal contraventor do seu
estado?”, perguntou o deputado Filipe Pereira (PSC-RJ). “Esse é um juízo de
valor que o senhor está fazendo. Eu conheci como empresário”, respondeu o
governador.
Depois,
ao ser perguntado sobre sua posição a respeito do jogo, Perillo respondeu:
"Não jogo e sou contra o jogo. Entre a hipocrisia reinante e a
legalização, talvez fosse mehlor que uma providência como essa fosse tomada.
Embora repita: se fosse votar aqui no congresso, votaria contra".
Venda da casa
O governador negou ainda que existam contradições em relação à versão que apresentou sobre a venda da casa da qual era proprietário, em Goiânia. "Na minha opinião, essa história da casa está absolutamente explicada", declarou.
Há
quatro versões para a venda da casa. Em depoimento à CPI, no último dia 10, o
delegado Matheus Mella, da PF, que coordenou a Operação Monte Carlo, disse que
a casa foi comprada pelo sobrinho de Carlinhos Cachoeira e que o governador Marconi Perillo recebeu R$ 1,4 milhão em três cheques.
Na
versão de Perillo, quem intermediou a venda foi o ex-vereador de Goiânia
Wladimir Garcez, mas a escritura saiu em nome do empresário Walter Paulo
Santiago. Afirmou que recebeu R$ 1,4 milhão em três cheques.
Perillo
voltou a afirmar que Perillo afirma que seu ex-assessor Lúcio Fiúza estava
presente no ato da venda da casa de Garcez para Walter Paulo apenas para
"dar legitimidade".
Garcez disse que
comprou a casa para si e que pediu dinheiro emprestado a Cachoeira e a Cláudio
Abreu, ex-diretor da empresa Delta. Depois, teria verificado não que a quantia
que possuia não suficiente para pagar a dívida e disse que revendeu o imóvel a
Walter Paulo Santiago.
À
CPI, Santiago afirmou que pagou em dinheiro pela casa para Lúcio Fiúza,
ex-assessor do Perillo, e para Wladimir Garcez. Disse que, depois de comprar,
emprestou a casa a Garcez, que, por sua vez, a emprestou a uma amiga, Andressa
Mendonça, mulher de Cachoeira.
O relator Odair Cunha questionou sobre o fato da escritura a casa não ter saído em nome de Garcez. "Durante longo tempo cogitou-se que vendi para o Cachoeira. Restou provado que não foi. Ocorre que não adianta forçar a barra. Quem pediu para comprar a casa foi o Garcez. Acertamos o valor e ele ficou de pagar com cheques pré-datados. Não tinha como eu escriturar a casa sem ter os cheques pagos. Segundo, eu não tinha como, não tinha bola de cristal, que o sr. Garcez tinha recorrido aos seus patrões", respondeu Perillo.
O relator Odair Cunha questionou sobre o fato da escritura a casa não ter saído em nome de Garcez. "Durante longo tempo cogitou-se que vendi para o Cachoeira. Restou provado que não foi. Ocorre que não adianta forçar a barra. Quem pediu para comprar a casa foi o Garcez. Acertamos o valor e ele ficou de pagar com cheques pré-datados. Não tinha como eu escriturar a casa sem ter os cheques pagos. Segundo, eu não tinha como, não tinha bola de cristal, que o sr. Garcez tinha recorrido aos seus patrões", respondeu Perillo.
O governador
disse que não viu quem eram os emitentes dos cheques. Nas cópias dos cheques
entregues por Perillo à CPI, o emitente é a Excitant Indústria e Comércio,
empresa que, de acordo com a PF, pertence a uma cunhada de Cachoeira - segundo
a investigação da Polícia Federal, a Excitant recebeu depósitos da Alberto e
Pantoja, empresa fantasma que supostamente abastecia as contas do grupo de
Cachoeira.
Delta
Perillo negou que Garcez o tenha procurado para falar de pleitos de Cachoeira ou da Delta que, segundo a PF, ajudava o esquema do bicheiro.
Ele
disse, porém, ter conhecimento de que Garcez procurava órgãos do governo com
essa intenção.
"Garcez
nunca me levou pleito algum de Cachoeira. Sei que levou a alguns órgãos do
governo pleitos da Delta. Ele recebia um valor da Delta e um menor do
Cachoeira. A mim, ele nunca levou pleito da Delta e do Cachoeira".
Segundo
o governador, a Delta recebeu R$ 14 milhões em 2011 e R$ 4 mihões em 2012 por
obras resultantes de contratos com o governo de Goiás.
Nomeações
O governador também foi perguntado sobre se foram nomeadas pessoas a pedido do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO), que responde no Conselho de Ética por supostamente ter beneficiado o bicheiro, ou de Wladimir Garcez.
Sobre
Garcez, ele disse que o ex-vereador afirmou à CPI não ter feito nomeações. A
respeito de Demóstenes, ele respondeu que sim. "Pessoas qualificadas, que
estão em vários órgãos. Mas nunca tratou comigo de qualquer pleito relacionado
a Cachoeira."
Auxiliares exonerados
Perillo comentou sobre a sua ex-chefe de gabinete, que pediu exoneração após divulgação de áudios que apontavam que ela recebia informações privilegiadas sobre operações policiais cujo alvo seria o grupo de Cachoeira.
"A
sra. Eliane Pinheiro era encarregada dos assuntos partidários. Trabalhou
durante 20 anos em vários governos, inclusive no meu. Ela trabalhava atendendo
aos partidos e aos parlamentares, em sala distante da minha. Nunca pediu pra
favorecer nada a nenhuma pessoa ligada aos investigados. Ela saiu do meu
governo por se sentir contrangida. Eu não sabia das relações dela com o
Cachoeira", declarou.
Sobre
o presidente do Departamento de Trânsito em Goiás (Detran-GO), Edivaldo
Cardoso, que pediu exoneração após denúncia de elo com Cachoeira, Perillo
afirmou que nunca recebeu pedidos do auxiliar.
"Edivaldo
nunca me apresentou qualquer pedido de interesses de outra pessoa. A única
conversa que teve comigo sobre o Cachoeira foi quando me convidou para um
jantar em sua residência e disse que entre os convidados estaria o sr. Carlos
Augusto Ramos. Nesse contato informal, ouvi do convidado propostas de isenção
fiscal [relativas ao laboratório]", afirmou.
Jornalista
O governador também falou sobre suposto pagamento recebido pelo jornalista Luiz Carlos Bordoni, que atuou em sua campanha eleitoral. Bordoni diz ter recebido da campanha de Perillo pagamento depositado na conta de sua filha de uma empresa apontada pela PF como laranja que abastecia o esquema de Cachoeira.
O
relator Odair Cunha disse que Bordoni afirmou que prestou serviço por R$ 170
mil enquanto que o governador afirma que pagou R$ 33 mil. Cunha destacou fala
de Bordoni, de que recebeu R$ 40 mil em dinheiro da mão do governador e que
Perillo teria tirado dinheiro de um frigobar.
"Bordoni
disse que recebeu do sr. R$ 40 mil em dinheiro, foi o primeiro pagamento, disse
que o senhor tirou o dinheiro dentro de um frigobar. Disse Bordoni: só podia
estar desligado porque o dinheiro não estava gelado", afirmou o relator,
que arrancou risadas dos demais parlamentares.
Perillo
rebateu: "Ele tem que provar isso na Justiça. Nesse escritório tem um
pequeno gabinete, que tem frigobar, quadros, mas que todo mundo conhece. Claro
que qualquer pessoa que tenha passado por lá tem condições de descrever essse
ambiente."
Doações
O relator citou que a PF afirma que Rossini Guimarães, sócio de Cachoeira em empresa de segurança, doou recursos para campanhas do PSDB em Goiás. Perillo afirmou que recebeu doações de Rossini e que constam na prestação de contas. Perillo diz que desafia qualquer pessoa a provar que houve direcionamento em licitações no seu governo.
Perillo
nega que tenha recebido doações da Delta para sua campanha. "Mas eles
podem ter feito colaboração através da empresa de Rossini’, pergunta Odair
Cunha. “Pode ter. Não sei”, disse Perillo.