domingo, 14 de agosto de 2016

Distritais querem acesso a provas de suposta fraude no transporte do DF



Presidente da Câmara Legislativa afirma não descartar reabertura de CPI. Deputados pretendem ir ao MP de Curitiba em até um mês, diz Celina Leão.

Foto de arquivo mostra o plenário da Câmara Legislativa do Distrito Federal (Foto: Renato Araújo/Agência Brasília)

A presidente da Câmara Legislativa do Distrito Federal, Celina Leão (PSS), disse que pretende visitar promotores do Ministério Público do Paraná em até um mês para ter acesso a documentos das investigações sobre fraude na licitação do transporte público da capital. Ela também não descartou a possibilidade de a Casa reabrir a CPI dos Transportes – encerrada em abril, após 11 meses de trabalho, pedindo o indiciamento de 17 pessoas.
A ideia surgiu depois de Celina se reunir com o presidente da CPI, Bispo Renato Andrade (PR), para tratar de reportagens publicadas pelo G1no dia 3 de agosto, que indicam "manipulação" da licitação dos transportes. Documentos obtidos com exclusividade mostram que o advogado Sacha Reck, o pai dele, Garrone Reck, servidores públicos e empresários combinavam os termos do edital de licitação antes do lançamento da concorrência. O esquema investigado pelo MP paranaense indica que as fraudes ocorriam em pelo menos 19 cidades de sete estados e no DF.

“Vamos encaminhar todos os documentos [em posse da CPI] oficialmente para a promotoria do caso em Curitiba, mas também queremos ir lá pessoalmente e pegar um pouco desse material”, declarou. “Não está
descartada a reabertura da CPI. A gente pode reabrir porque [a denúncia] chega com mais materialidade.”

A presidente da Câmara Legislativa confirmou a intenção, que já tinha sido adiantada pelo então presidente da CPI, de convocar os envolvidos na licitação supostamente fraudada. Entre eles estão o ex-secretário de Transportes José Walter Vazquez. “O MP local já pediu indiciamento dessas pessoas. Também quero fazer uma visita oficial ao Ministério Público, que é responsável pela ação civil pública desse certame”, disse Celina.

Celina afirmou que não ficou surpresa com a troca de e-mails que põem sob suspeita a licitação no DF. “Nada me surpreendeu. Isso demonstra que a corrupção continua acontecendo, os cofres públicos tendo prejuízo de R$ 1 bilhão por ano”, declarou. “Existe decisão judicial mandando anular a licitação. O que há é omissão por parte do governo. O que estão esperando? Delação premiada para tomar tomar providência?”, continuou.

Em janeiro deste ano, a Justiça mandou anular a licitação do transporte e deu 180 dias para que um novo sistema fosse escolhido. Como a decisão é de primeira instância, só passa a valer quando não couber mais recurso. As empresas e o governo recorreram, mas o caso não voltou a ser julgado.

Na última terça-feira (9), o G1 revelou que a Secretaria de Mobilidade pretende contratar até o fim de setembro uma consultoria externa para fazer uma análise detalhada nos contratos com as cinco empresas de ônibus que operam no DF. O objetivo do pente-fino é oferecer até o primeiro trimestre de 2017 um relatório com possíveis "vícios ou imprecisões" nos contratos.

Entenda as denúncias

Entre as irregularidades apontadas pelos documentos a que o G1 teve acesso estão as suspeitas de que o advogado Sacha Reck direcionou o certame para beneficiar as empresas Marechal, da família Gulin, do Paraná, e Pioneira e Piracicabana, ligadas à família Constantino, com presença em Brasília. As empresas negam envolvimento com irregularidades.

Conforme troca de e-mails e investigações de promotores, a Logitrans, empresa da qual o engenheiro Garrone Reck foi sócio, era contratada pelas prefeituras para fazer estudos de logística e projeto básico de mobilidade, enquanto o filho dele, Sacha Reck, advogava para empresas interessadas.

De acordo com as investigações, com apoio de funcionário do governo, Sacha Reck tinha acesso antecipado ao edital e, inclusive, ajudava na elaboração do documento. Os documentos permitem deduzir que o esquema existe, pelo menos, desde 2007.

O suposto esquema em Brasília

>> Documentos demonstram que o edital de licitação de 2011 para transporte público do Distrito Federal foi elaborado pela empresa Logitrans, de Garrone Reck, em conjunto com Sacha Reck e Melina Reck, advogados de empresas dos grupos Gulin e Constantino.

>> Saíram vencedoras da concorrência a Viação Marechal, representada por Melina Reck em licitação de Marília (SP), e duas empresas ligadas aos Constantino – viações Piracicabana e Pioneira.

>> Há indícios de fraude até mesmo antes da elaboração do edital, na contratação do advogado Sacha Reck para atuar na licitação.

>> E-mails obtidos pelo G1 mostram que os sócios Sacha Reck e Danielle Cintra elaboraram ofício em nome do governo do Distrito Federal convidando o próprio escritório de advocacia para prestar consultoria no processo de licitação da capital federal.

>> Os indícios de crime foram investigados pelo Ministério Público do Distrito Federal e, em abril do ano passado, a 2ª Vara Criminal de Brasília aceitou denúncia contra o ex-secretário de Transportes José Walter Vazquez e mais cinco pessoas por envolvimento em suposta fraude na licitação que renovou a frota de ônibus do DF.

>> Em janeiro deste ano, a 1ª Vara da Fazenda Pública do Distrito Federal anulou a licitação por entender que havia irregularidades no processo e deu 180 dias para que o governo contratasse novas empresas de ônibus, o que ainda não foi feito.


Fonte: G1