Diante de dúvidas da
sociedade e questionamentos trazidos ao Conselho Federal de Química (CFQ) sobre
os mais diversos assuntos relacionados ao COVID-19, bem como a propagação nas
redes sociais de informações inverídicas ou incorretas, viemos a público trazer
alguns esclarecimentos:
1) Álcool Gel é eficaz
contra o novo coronavirus?
Sim. Além de ser recomendado pelas autoridades nacionais e
internacionais de saúde, como a Organização Mundial de Saúde – OMS e o
Ministério da Saúde do Brasil, o CFQ emitiu uma nota em 28/02/2020 onde fala
mais sobre o assunto. Leia-a aqui.
2) Posso produzir meu
próprio álcool gel em casa?
Algumas receitas caseiras estão circulando na internet e, em
geral, recomendam a produção do álcool em gel a partir do álcool líquido
concentrado. O CFQ preza pela segurança da população brasileira, por isso, não
recomenda essa prática tanto pelos riscos associados quanto por confrontar a
legislação brasileira.
3) Quais os riscos
associados à produção caseira de álcool em gel?
Quando se utiliza álcool líquido em elevadas concentrações,
aumenta-se bastante o risco de acidentes que podem provocar incêndios,
queimaduras de grau elevado e irritação da pele e mucosas. A venda de álcool
líquido em concentrações superiores a 54 °GL está, inclusive, desautorizada
pela ANVISA desde 2013, conforme resolução RDC nº 46, de 20 de fevereiro de
2002, que considerou os riscos oferecidos à saúde pública decorrentes de
acidentes por queimadura e ingestão. Para soluções com graduação acima de 54
°GL, a norma permite a forma em gel.
Além disso, a depender do que se utiliza como espessante, ao invés
de eliminar microrganismos pode-se potencializar sua proliferação.
Os produtos industrializados passam por rigoroso processo de
produção, onde há padrões a serem seguidos, todas as etapas são monitoradas e
passam por controles de modo a haver padronização, regularidade e qualidade dos
produtos disponibilizados ao consumidor final. Já o álcool em gel fabricado a
partir de receitas e métodos caseiros não passa por nenhum controle de
qualidade, por isso sem garantia de eficácia.
4) O que significam as
siglas INPM e GL nos rótulos do álcool em gel?
Ambas se referem ao grau alcoólico da solução. INPM significa
Instituto Nacional de Pesos e Medidas e o °INPM observado nos rótulos indica
uma relação percentual de massa. GL é a abreviação de Gay-Lussac e o °GL
observado nos rótulos refere-se a uma relação percentual de volume. Assim,
quanto maior a graduação, maior a quantidade percentual de álcool.
5) Há diferença entre °INPM
e °GL?
Sim, pois as unidades medem a razão entre grandezas diferentes,
massa e volume. Para relacionar massa e volume utiliza-se a densidade. O álcool
etílico possui densidade igual a 0,789 g/cm³, isso significa que a massa de
álcool presente numa solução 70 °INPM é maior que aquela massa presente numa
solução 70 °GL. Elas somente seriam iguais se a densidade fosse igual a 1 (um).
6) Por
que usar álcool em gel contra o novo coronavírus?
O álcool gel, por ser considerado antisséptico, ajuda na prevenção
ao contágio pelo coronavírus e sua indicação pauta-se nas medidas de prevenção
ao contágio de doenças respiratórias. Estudos demonstram melhor eficácia do
produto em soluções 70%, que é o recomendado pela ANVISA para os serviços de
saúde brasileiros e o indicado pela OMS na Lista de Medicamentos Essenciais.
7) O que significa dizer que
um produto é antisséptico?
Quando se fala de desinfecção, fala-se do uso de métodos físicos
ou químicos com a intenção de eliminar boa parte dos microrganismos
patogênicos. Os produtos químicos utilizados para tal fim são chamados de
germicidas e podem ser desinfetantes ou antissépticos. Os desinfetantes tem seu
uso voltado para superfícies e objetos inanimados, já os antissépticos são
aplicados em tecidos vivos como pele e mucosas, e por isso sua composição deve
ser pensada de modo a não causar irritação.
8) Existem outros produtos
antissépticos que posso utilizar contra o novo coronavírus, em substituição ao
álcool etílico?
Sim. As recomendações das autoridades de saúde para higienização
das mãos são tanto o álcool gel quanto a lavagem com água e sabão. Sabões e
detergentes de um modo geral, graças às suas propriedades químicas, removem a
maior parte da flora microbiana na superfície da pele. Eles são compostos de
moléculas que apresentam em sua estrutura uma parte apolar e outra polar. A
parte apolar, lipofílica, é quimicamente atraída pelas moléculas apolares dos
lipídios constituintes da membrana celular dos microrganismos. Simultaneamente,
a parte polar interage com as moléculas de água (que também é polar). Essas
interações simultâneas fazem com que os microrganismos sejam envolvidos pelo
sabão, retirados da pele e levados embora com a água.
Apesar de haver outras substâncias elencadas pela literatura como
antissépticos (como clorexidina, compostos clorados, quaternários de amônio,
dentre outros), o CFQ reforça a importância de seguir as orientações da OMS e
do Ministério da Saúde do Brasil e recomenda o álcool etílico, em gel.
O álcool isopropílico tem sido sugerido como alternativa ao álcool
etílico, entretanto, ressalva-se que este álcool provoca maior secura da pele,
é duas vezes mais tóxico e sua atividade sobre vírus é inferior ao álcool
etílico.
Ressalta-se, ainda, que não é recomendado o uso do vinagre contra
o novo coronavírus.
9) Como higienizar meus
equipamentos eletrônicos?
O mais recomendado para equipamentos eletrônicos seria o álcool
isopropílico, uma vez que, por possuir um carbono a mais que o etanol na cadeia
carbônica, é menos miscível em água, dificultando a oxidação das peças. Deve-se
ter cuidado com a quantidade de produto aplicada, não devendo molhar o
equipamento e bastando aplicar com um pano/lenço/papel embebido no álcool.
Fonte:
CFQ