Embaixadores monitoravam brasileiros considerados
subversivos pelo regime. Comissão Nacional da Verdade revelou casos em
relatório apresentado ao governo
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Leonel Brizola foi um dos políticos espionados por integrantes do MRE durante o exílio no Uruguai |
Um embaixador escondido atrás das
pilastras do Hotel Bristol, em Paris, para observar os encontros da esposa do
ex-presidente Juscelino Kubitschek, Sarah Kubitschek. Os estreitos laços entre
a polícia política uruguaia e a embaixada brasileira em Montevidéu, que
vigiavam os movimentos do então ex-deputado Leonel Brizola, exilado no país. O
cônsul-geral de Santiago, no Chile, atento aos passos dos brasileiros que
recebiam aulas de caratê em um clube da capital chilena. Essas são algumas das
ações da rede de espionagem montada pelo Ministério das Relações Exteriores
(MRE) durante a
ditadura militar (1964-1985) e que estão descritas no relatório
final da Comissão Nacional da Verdade (CNV).
A atuação do Itamaraty e a participação dos embaixadores é detalhada
pelos pesquisadores da CNV, que tiveram acesso a documentos do MRE e do Arquivo
Nacional. Com o levantamento, eles concluíram que “o Itamaraty desvirtuou suas
funções a ponto de envolver-se diretamente com a violência ilegal e com a
exceção”. Os postos do Itamaraty no exterior e os diplomatas nas embaixadas e
nos consulados, segundo documentos obtidos pela CNV, foram instrumentos da
política repressiva.
“Muitos diplomatas e funcionários de outras categorias do serviço exterior desempenharam funções de espionagem de brasileiros que se opunham ao regime: restringiram-lhes o exercício de direitos fundamentais, criaram embaraços à vida cotidiana deles nos países em que residiam, impediram seu retorno ao Brasil, mantiveram os órgãos repressivos informados de seus passos e atividades no exterior e chegaram a interagir com autoridades de outros países para que a repressão brasileira pudesse atuar além das fronteiras. Inegavelmente, o MRE funcionou, naqueles anos, como uma das engrenagens do aparato repressivo da ditadura”, aponta o relatório da CNV.
No organograma elaborado pela comissão sobre os órgãos de repressão, a pasta das Relações Exteriores estava no mesmo patamar dos ministérios do Exército, da Aeronáutica, da Marinha e da Justiça. O principal braço do Itamaraty era o Centro de Informações do Exterior do Ministério das Relações Exteriores (Ciex) . O relatório aponta, porém, que a atuação não se limitou apenas ao Ciex. Havia ainda, como nos outros ministérios civis, uma Divisão de Segurança Interna (DSI).
“Muitos diplomatas e funcionários de outras categorias do serviço exterior desempenharam funções de espionagem de brasileiros que se opunham ao regime: restringiram-lhes o exercício de direitos fundamentais, criaram embaraços à vida cotidiana deles nos países em que residiam, impediram seu retorno ao Brasil, mantiveram os órgãos repressivos informados de seus passos e atividades no exterior e chegaram a interagir com autoridades de outros países para que a repressão brasileira pudesse atuar além das fronteiras. Inegavelmente, o MRE funcionou, naqueles anos, como uma das engrenagens do aparato repressivo da ditadura”, aponta o relatório da CNV.
No organograma elaborado pela comissão sobre os órgãos de repressão, a pasta das Relações Exteriores estava no mesmo patamar dos ministérios do Exército, da Aeronáutica, da Marinha e da Justiça. O principal braço do Itamaraty era o Centro de Informações do Exterior do Ministério das Relações Exteriores (Ciex) . O relatório aponta, porém, que a atuação não se limitou apenas ao Ciex. Havia ainda, como nos outros ministérios civis, uma Divisão de Segurança Interna (DSI).
Fonte: Correio Braziliense