Kátia Abreu, Eduardo Braga e Helder Barbalho foram anunciados ante ontem
Ao menos
três dos novos nomes do Ministério do segundo governo da presidente Dilma
Rousseff respondem a processos judiciais. Todos são do PMDB. A senadora Kátia
Abreu (TO), cotada para ser ministra da Agricultura, responde a um inquérito no
Supremo Tribunal Federal (STF) por falsificação de selo público. O senador
Eduardo Braga (AM), que deve assumir o Ministério de Minas e Energia, também é
investigado em um inquérito no STF. Ele é suspeito de ter cometido crime
eleitoral. Helder Barbalho, o provável novo titular da Pesca, é investigado por
improbidade administrativa na Justiça Federal do Pará. Anteontem, Dilma afirmou
que consultaria o Ministério Público antes de indicar novos ministros...
O inquérito
contra Kátia Abreu chegou ao STF em outubro deste ano e está sob a relatoria do
ministro Celso de Mello. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil
(CNA), presidida pela parlamentar, é suspeita de emitir demonstrativos de
débitos e contribuições sindicais em papel timbrado com o brasão da República.
O inquérito
contra Eduardo Braga foi aberto no Amazonas em outubro de 2008, quando o
senador era governador do estado. Ele foi acusado de ter enviado a Parintins 15
policiais militares em dois aviões fretados para fazer segurança pessoal de
Enéas Gonçalves, o candidato à prefeitura que apoiava. O caso chegou ao STF em
agosto de 2012 e está sob a relatoria do ministro Teori Zavascki.
Helder
Barbalho responde por improbidade administrativa perante a 5a Vara Federal do
Pará. Uma investigação iniciada no Departamento Nacional de Auditoria do SUS
constatou a irregularidade na aplicação de recursos do Ministério da Saúde em
Ananindeua entre janeiro de 2004 e junho de 2007. Barbalho foi prefeito do
município a partir de 2005. No ano anterior, ocupava o cargo Clóvis Manoel de
Melo Begot, que é investigado no mesmo processo.
De acordo
com o processo, foram destinados ao município R$ 94,8 milhões para financiar
programas de saúde. Não ficou comprovado o gasto de R$ 2,7 milhões nas duas
gestões. Houve também fraudes e irregularidades em licitações. O Ministério
Público chegou a pedir a indisponibilidade dos bens dos investigados, mas a
Justiça negou em junho de 2012. O fundamento foi o de que ainda não havia sido
apurado o valor do dano causado por cada um dos suspeitos.
Ex-dona de
casa, Kátia Abreu tem 52 anos e construiu um império pecuário depois da morte
do marido, no final dos anos 1980. Sem experiência na área, dedicou-se à
produção nas terras em Tocantins e desde então foi se fortalecendo como
liderança política no setor. Presidiu sindicatos locais até chegar à
presidência da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), cargo
que ocupa desde 2008 e para o qual foi eleita pela terceira vez este ano.
Senadora de
oposição aguerrida pelo DEM até 2011, Kátia começou a cair nas graças de Dilma
durante a votação do Código Florestal no Congresso, em 2012, quando já estava
no PSD, partido criado por Kassab para apoiar o governo. Kátia trabalhou pela
aprovação do texto e chegou a concordar com alguns dos vetos que Dilma fez
posteriormente ao projeto. No ano passado, deixou o PSD e migrou para o PMDB,
após disputa por protagonismo com Kassab.
Filho do
senador Jader Barbalho (PMDB-PA), Helder Barbalho foi escolhido ministro da
Pesca como compensação pela derrota sofrida para o governo do Pará — Simão
Jatene (PSDB) foi reeleito — e por influência de seu pai. Um dos caciques do
PMDB, Jader tem atuação pública discreta desde que renunciou ao mandato em 2000
para evitar a cassação, no escândalo da Superintendência do Desenvolvimento da
Amazônia (Sudam), mas continua com forte atuação nos bastidores.
Em outubro,
o STF abriu ação penal para investigar Jader por peculato e lavagem de
dinheiro. Segundo a denúncia apresentada pelo Ministério Público Federal, o réu
contribuiu para que fossem desviados R$ 22,8 milhões da Sudam entre 1997 e
2000. As investigações mostram que o parlamentar cobrava dinheiro para garantir
a aprovação de projetos. A propina era de 20% do valor do contrato.
Helder
fechou aliança com o PT para disputar o governo do Pará neste ano, depois da
interferência do ex-presidente Lula. Os petistas paraenses queriam lançar
candidatura própria para governador. Em maio, ainda na pré-campanha, Helder
compareceu em um jantar do PMDB, em Brasília, com a presidente Dilma Rousseff,
que pedia apoio dos peemedebistas à sua reeleição. Na ocasião, ao cumprimentar
os pré-candidatos presentes, a petista aproveitou para homenagear Jader.
— Tenho
também um grande respeito pelo Jader Barbalho — afirmou Dilma.
Depois de
deixar a prefeitura de Ananindeua, em 2013, o novo ministro da Pesca passou a
ter um programa de rádio em uma emissora do Pará, no qual prestava serviços à
população como atendimento médico e odontológico. O programa foi ao ar até
junho deste ano, quando Helder se lançou ao governo do estado.
Eduardo
Braga saiu derrotado na disputa deste ano pelo governo do Amazonas, que
comandou durante dois mandatos, entre 2003 e 2010. Escolheu sua esposa, Sandra
Braga, para ser sua suplente na vaga do Senado. Foi nomeado líder do governo
pela presidente Dilma em 2012, quando o então líder Romero Jucá (PMDB-RR) foi
destituído depois de enfrentar Dilma em uma votação no Senado.
Fonte: O Globo, por por
Carolina Brígido, Vinícius Sassine, Fernanda Krakovics e Júnia Gama -
25/12/2014