Atriz estará nesta
quarta-feira (22/1) em Brasília para conhecer a estrutura da Secretaria
Especial de Cultura, órgão em que fará ''testes'' antes de assumir o comando.
Expectativa de artistas é de que, com ela à frente, a pasta valorize a classe e
as produções
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Regina Duarte disse que vive sonho, mas ressaltou estar ciente de que pode ser atacada em função do cargo(foto: Estevam Avelar/Globo) |
A
possibilidade de Regina Duarte assumir a Secretaria Especial de
Cultura foi recebida com otimismo por representantes da classe artística,
após a grave crise que culminou na demissão do dramaturgo Roberto Alvim. A
atriz desembarca nesta quarta-feira (22/1) em Brasília para conhecer a
estrutura do órgão, antes de responder ao convite do presidente Jair
Bolsonaro. Embora ainda não tenha batido o martelo, ela afirmou, nas redes
sociais, estar “de corpo e alma com esse governo” e prometeu dar o melhor de si
para a causa do setor. A artista também disse que “as relações precisam passar
pelo noivado” para evitar o risco de “dar com os burros n’água”.
Regina
Duarte foi convidada para substituir Alvim, exonerado do cargo na sexta-feira,
após a repercussão do vídeo que ele publicou, no qual parafraseava o ideólogo
nazista Joseph Goebbels. Caso aceite o convite de Bolsonaro, ela terá a missão
de pacificar a relação entre a Secretaria Especial de Cultura — órgão abalado
por seguidas crises — e a classe artística.
Nas
postagens que fez nas redes sociais, a atriz da Rede Globo indicou que deve
aceitar o convite do presidente. “Tem horas que eu nem acredito. Parece um
sonho. Deixa eu curtir um pouquinho mais a alegria de sentir que posso ser
respeitada no meu amor pelo Brasil e pelo povo brasileiro....?!”, escreveu a
artista no Instagram. “Daqui a pouco, sei que posso vir a ter que me blindar
das redes sociais onde, talvez, quem sabe? podem me atacar mais ainda em função
do cargo (…). Vou ter muito trabalho pela frente”, acrescentou, no post que é
acompanhado da foto do encontro, ocorrido na segunda-feira, no Rio de Janeiro,
entre ela, Bolsonaro e o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo
Ramos.
Em
outro post, ela escreveu: “Tô de corpo e alma com esse governo, vcs já sabem,
apaixonada como sempre pelo meu país, louca pra contribuir com a produção da
alegria e felicidade geral... me entrego ao que Deus e o destino reservam pra
mim, muito grata pela confiança de todos”. A mensagem foi acompanhada de uma
ilustração da artista norte-americana Carey Armstrong-Ellis e que é capa do
livro Miss Tutu’s Star, de Lesléa Newman. A imagem, que mostra uma bailarina
entre um gato e um rato, foi alterada por Regina Duarte, que inseriu uma
bandeira do Brasil.
As
publicações da artista receberam comentários elogiosos dos internautas,
incluindo a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, os atores Ary Fontoura e Thiago
Rodrigues, o apresentador Márcio Garcia e as atrizes Beth Goulart e Maitê
Proença. “Dentro do cenário sinistro que tivemos até agora, vc é o melhor dos
mundos!! Torço por vc à frente da Cultura de nosso país. Vai com tudo
querida!”, escreveu Maitê Proença.
Perseguição
A
Secretaria Especial de Cultura é acusada, por representantes do setor, de
cometer atos de perseguição e de censura contra artistas e produções culturais.
“Eu me sinto desprotegido como produtor de cultura, diante da violência com que
se tem tratado a Cultura no país”, disse ao Correio o cineasta Cacá Diegues.
“Espero que a Regina Duarte aceite o convite e faça um bom trabalho,
principalmente com liberdade para os artistas. Não a conheço bem, nem sua
ideologia, não sou seu amigo, mas tenho certeza de que ela é muito melhor do
que o Alvim.”
Diegues
não quis falar em nome da classe artística, mas disse que, para seu trabalho
como cineasta, o mais importante é ter “liberdade e as condições de produzir”.
Ele também elogiou os projetos desenvolvidos pela Empresa de Cinema e
Audiovisual de São Paulo (SPcine), da prefeitura da capital paulista. Entre as
ações está o Circuito Cineclubista, desenvolvido em 16 espaços da cidade,
sempre com sessões gratuitas seguidas de debate.
A
diretora-presidente da SPcine, a também cineasta Laís Bodansky, afirmou que “o
mais importante para o setor do audiovisual é a continuidade das políticas
públicas, já que se trata de uma das mais importantes ramos da indústria
brasileira e contribui fortemente para o Produto Interno Bruto”. Segundo ela,
“qualquer interrupção representa um verdadeiro desmonte de conquistas de anos”.
Expectativa
O
ator e comediante da Rede Globo Welder Rodrigues, que iniciou a carreira em
Brasília como integrante do grupo Os Melhores do Mundo, destacou que “pior do
que está não dá para ficar”, referindo-se às sucessivas crises na Cultura.
“Espero que a Regina Duarte faça um bom trabalho, principalmente porque sabe
que os colegas dela não são vagabundos. Espero que o governo deixe de ver o
artista e a imprensa como inimigos”, ressaltou.
Já
o produtor teatral Eduardo Barata, afirmou que, embora não concorde com o
perfil conservador da atriz, tem esperança de que ela faça um bom trabalho. “A
Regina Duarte é do nosso meio, tem 50 anos de carreira, defende a liberdade de
expressão e, no passado, participou da campanha das Diretas Já e pela abertura
política no país”, argumentou. “Espero também que o governo compreenda a
cultura não como um partido político, mas como o petróleo do novo século, que
representa, no país, 2,74% do PIB e emprega, direta e indiretamente, 6 milhões
de pessoas.”
Fonte:
Correio Braziliense