quarta-feira, 3 de junho de 2015

CPI vai ouvir responsáveis pela mais recente operação da PF contra fraudes no SUS

Operação Desiderato foi deflagrada pela Polícia Federal nesta terça-feira. Foram 72 medidas judiciais.

A CPI das Órteses e Próteses vai ouvir integrantes do Ministério Público e o delegado que atuaram na operação Desiderato deflagrada pela Polícia Federal nesta terça-feira. Foram 72 medidas judiciais, entre prisão temporária, conduções coercitivas, busca e apreensão e sequestro de bens, nos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina. A operação pretende combater e desarticular organização criminosa composta por médicos, profissionais da saúde e representantes da indústria farmacêutica de próteses cardíacas, que viabilizavam procedimentos cardiológicos sem a real necessidade, com o objetivo de desviar verbas do Sistema Único de Saúde.
Segundo o relator da CPI, deputado André Fufuca (PEN/MA), a ideia é obter mais informações sobre a máfia das órteses e próteses, denunciada, em janeiro, pelo programa Fantástico, da Rede Globo. André Fufuca observou
que pelas notícias divulgadas até agora sobre a operação Desiderato, o esquema é bem maior do que se pensava.
"Eu tenho certeza que a presença deles nessa comissão mais o que eles invesigaram irá nos dar uma diretriz para caminhar e seguir, já que temos um tempo limitado. O relatório deve ser apresentado no dia 17 de julho."
Nesta terça, a CPI ouviu representantes de dois hospitais do Rio de Janeiro onde, segundo a reportagem do Fantástico, ocorreram desvios de materiais, entre outras irregularidades. Tanto Mário José Bueno, do Hospital Federal dos Servidores do Estado do Rio, quanto Luís Carlos Moreno de Andrade, do Hospital de Bonsucesso, disseram não ter conhecimento de qualquer denúncia.
De acordo com Mário José Bueno, depois da reportagem uma sindicância interna foi aberta, mas não existe qualquer documentação que comprove desvios ou superfaturamentos de materiais e equipamentos. Ele afirmou também que há cuidado com as compras da instituição, apesar das dificuldades na condução das licitações causadas pelas poucas opções de preços e fornecedores. Isso ocorre, segundo Bueno, especialmente no caso de órteses e próteses que, em sua maioria, são fabricadas no exterior e vendidas no Brasil por representantes comerciais.
A situação é semelhante no Hospital de Bonsucesso, conforme explicou Luís Carlos Moreno de Andrade. Segundo ele, o Fantástico citou 6 mil desvios, mas não informou qual o tipo de material teria sido retirado da instituição. Andrade disse ainda que sindicância interna, auditoria da Controladoria Geral da União e investigações da Polícia Federal ainda não foram concluídas.
A advogada Nieli de Campos Severo, conhecida no Rio Grande do Sul como rainha das liminares, compareceu como investigada, mas alegou seu direito constitucional de permanecer calada. Criticada por não contribuir com as investigações da CPI, Nieli chorou. O deputado Pompeo de Mattos (PDT/RS) chegou a sugerir, sem sucesso, uma reunião fechada, apenas com a presença de parlamentares, da advogada e de sua defesa.
Diante da negativa da advogada, o deputado João Carlos Bacelar (PR/BA) apresentou requerimento, já aprovado, para uma acareação entre ela, representantes de duas empresas e o médico Fernando Sanchis, que, segundo da reportagem participou do esquema.
"Fazer uma acareação entre os quatro e ver se, a partir daí, se a gente consegue extrair alguma informação que venha a ser útil para a nossa CPI."
João Carlos Bacelar destacou ainda que a advogda Nieli Severo é um elo do esquema que envolve fabricantes, principalmente as multinacionais, que dão vantagens comerciais aos distribuidores que, por sua vez, corrompem médicos e outros profissionais. De outro lado, segundo o deputado, atuam advogados e membros do Judiciário, com o objetivo de conceder liminares para viablilizar cirurgias desnecessárias e fraudar o SUS e também planos de saúde privados.
Reportagem — Idhelene Macedo



Fonte: RADIOAGÊNCIA