Operação Desiderato foi
deflagrada pela Polícia Federal nesta terça-feira. Foram 72 medidas judiciais.
A CPI das Órteses e Próteses vai ouvir integrantes
do Ministério Público e o delegado que atuaram na operação Desiderato deflagrada
pela Polícia Federal nesta terça-feira. Foram 72 medidas judiciais, entre
prisão temporária, conduções coercitivas, busca e apreensão e sequestro de
bens, nos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina.
A operação pretende combater e desarticular organização criminosa composta por
médicos, profissionais da saúde e representantes da indústria farmacêutica de
próteses cardíacas, que viabilizavam procedimentos cardiológicos sem a real
necessidade, com o objetivo de desviar verbas do Sistema Único de Saúde.
Segundo o relator da CPI, deputado André Fufuca
(PEN/MA), a ideia é obter mais informações sobre a máfia das órteses e
próteses, denunciada, em janeiro, pelo programa Fantástico, da Rede Globo.
André Fufuca observou
que pelas notícias divulgadas até agora sobre a operação
Desiderato, o esquema é bem maior do que se pensava.
"Eu tenho certeza que a presença deles nessa
comissão mais o que eles invesigaram irá nos dar uma diretriz para caminhar e
seguir, já que temos um tempo limitado. O relatório deve ser apresentado no dia
17 de julho."
Nesta terça, a CPI ouviu representantes de dois
hospitais do Rio de Janeiro onde, segundo a reportagem do Fantástico, ocorreram
desvios de materiais, entre outras irregularidades. Tanto Mário José Bueno, do
Hospital Federal dos Servidores do Estado do Rio, quanto Luís Carlos Moreno de
Andrade, do Hospital de Bonsucesso, disseram não ter conhecimento de qualquer
denúncia.
De acordo com Mário José Bueno, depois da
reportagem uma sindicância interna foi aberta, mas não existe qualquer
documentação que comprove desvios ou superfaturamentos de materiais e
equipamentos. Ele afirmou também que há cuidado com as compras da instituição,
apesar das dificuldades na condução das licitações causadas pelas poucas opções
de preços e fornecedores. Isso ocorre, segundo Bueno, especialmente no caso de
órteses e próteses que, em sua maioria, são fabricadas no exterior e vendidas
no Brasil por representantes comerciais.
A situação é semelhante no Hospital de Bonsucesso,
conforme explicou Luís Carlos Moreno de Andrade. Segundo ele, o Fantástico
citou 6 mil desvios, mas não informou qual o tipo de material teria sido
retirado da instituição. Andrade disse ainda que sindicância interna, auditoria
da Controladoria Geral da União e investigações da Polícia Federal ainda não
foram concluídas.
A advogada Nieli de Campos Severo, conhecida no Rio
Grande do Sul como rainha das liminares, compareceu como investigada, mas
alegou seu direito constitucional de permanecer calada. Criticada por não
contribuir com as investigações da CPI, Nieli chorou. O deputado Pompeo de
Mattos (PDT/RS) chegou a sugerir, sem sucesso, uma reunião fechada, apenas com
a presença de parlamentares, da advogada e de sua defesa.
Diante da negativa da advogada, o deputado João
Carlos Bacelar (PR/BA) apresentou requerimento, já aprovado, para uma acareação
entre ela, representantes de duas empresas e o médico Fernando Sanchis, que,
segundo da reportagem participou do esquema.
"Fazer uma acareação entre os quatro e ver se,
a partir daí, se a gente consegue extrair alguma informação que venha a ser
útil para a nossa CPI."
João Carlos Bacelar destacou ainda que a advogda
Nieli Severo é um elo do esquema que envolve fabricantes, principalmente as
multinacionais, que dão vantagens comerciais aos distribuidores que, por sua
vez, corrompem médicos e outros profissionais. De outro lado, segundo o
deputado, atuam advogados e membros do Judiciário, com o objetivo de conceder liminares
para viablilizar cirurgias desnecessárias e fraudar o SUS e também planos de
saúde privados.
Reportagem — Idhelene Macedo
Fonte:
RADIOAGÊNCIA