Na BR-080, bandido bateu em dois veículos antes de
morrer e ainda matar um inocente.
Dois ataques foram praticados em uma hora. Em um dos
casos, assaltante roubou carro, provocou acidente e matou motociclista. No
outro, mãe viu o filho de 3 anos ser levado. ...
Dois sequestros relâmpagos levaram pânico a pelo
menos três regiões do Distrito Federal. No primeiro caso, por volta das 12h30
de ontem, um bandido armado com uma faca rendeu mãe e filho em Taguatinga.
Depois de abandonar as vítimas, o assaltante, em alta velocidade, provocou um
acidente na BR-080, em Brazlândia, e bateu em dois veículos. Ele e um
motoqueiro morreram na hora. Menos de uma hora depois, outro roubo com
restrição à liberdade. Desta vez, em Santa Maria. Uma vendedora de 35 anos viu dois
bandidos levarem o filho, de 3, que estava dentro do carro da família (leia
reportagem abaixo).
No ataque de Taguatinga, mesmo com a movimentação do
horário de almoço, o suspeito, não identificado até o fechamento desta edição,
abordou a mulher e o filho do sargento da Polícia Militar Antônio Cícero de
Orlanda. As vítimas estavam dentro do veículo, em frente a uma loja, no Pistão
Sul. Quando saiu, minutos depois, o militar não encontrou os familiares nem o
carro. “Do jeito que as coisas estão, já pensei no pior. Tentei ligar para a
minha mulher e não consegui. Aí, liguei para a polícia. Como pai de família, a
gente se preocupa e fica pensando no que pode acontecer”, contou o PM.
Segundo a PM, o criminoso envolvido na colisão fatal
na BR-080 atingiu a traseira de um Chevette antes de rodar na pista.
A mulher de 42 anos e o garoto, de 18, foram deixados
ainda em Taguatinga. Durante a fuga, o criminoso dirigiu em alta velocidade e
tentou fugir por Brazlândia, segundo a Polícia Militar. Perto da entrada da
cidade, ele bateu na traseira de um Chevette e rodou na pista. William Militão
de Azevedo, 25 anos, vinha de moto no sentido contrário e bateu na lateral do
veículo roubado. Ele e o assaltante morreram na hora. Os ocupantes do outro
carro, um casal e uma criança de 2 anos, foram levados para o hospital, mas não
só tiveram ferimentos leves.
O sargento Jesus Silva, do Batalhão de Policiamento
Rodoviário (BPRv), informou que, depois de abandonar as vítimas, o assaltante
seguiu pela BR-080. “Ele corria muito e fazia atrocidades no trânsito. Uma
viatura da PM tinha sido avisada sobre o roubo em Taguatinga e acompanhava o
criminoso, mas não houve perseguição”, disse o PM.
Moto e rock
O motociclista que morreu no acidente, William
Militão, havia saído de casa pouco antes, em Brazlândia, para ir ao trabalho,
em Taguatinga. Filho de policial militar, o jovem era um condutor de
motocicletas experiente. Não tinha passagens pela polícia e, de acordo com o
primo Robson Militão, sempre reclamou da BR-080 não ser duplicada. “Não só ele,
como eu e todos os nossos primos que têm motos. É uma pista que sempre tem
acidentes”, reclamou.
Amigos de William contaram ao Correio que ele era
apaixonado por motos e por música, principalmente rock. Ele fazia parte de um
grupo de motociclistas, que deve participar do enterro com faixas pretas. Até o
fechamento desta edição, a data e o local do sepultamento ainda não haviam sido
definidos.
A vítima
William Militão de Azevedo
» Tinha 25 anos
» Morava em Brazlândia e trabalhava na área de
informática em Taguatinga
» Era o mais velho de três irmãos
» Gostava de moto e de rock
» Sempre reclamou da falta de duplicação na BR-080
Criança é mantida refém
Dois bandidos armados sequestraram um menino de 3
anos em frente a um posto de saúde de Santa Maria. De longe, a mãe acompanhou,
em desespero, toda a ação. A vendedora Érica Sousa havia saído do carro para
pegar um remédio e deixou o garoto com o motorista do veículo, um vizinho,
amigo da família. Em poucos minutos, os criminosos abordaram Edmilson do
Nascimento, 34 anos, e anunciaram o assalto. Ele foi para o banco de trás da
Parati prata e ficou ao lado da criança. A mulher viu o veículo arrancar. “Na
hora, percebi que era um sequestro”, contou ao Correio.
O ataque aconteceu por volta das 13h na Quadra 217.
Foram 50 minutos de terror até que o menino e Edmilson fossem encontrados. Os
assaltantes não feriram as vítimas, deixadas em um posto de combustível
desativado na entrada de Valparaíso, perto do monumento Solarius, conhecido
como Chifrudo. Segundo Edmilson, durante todo o tempo em que estiveram em poder
dos assaltantes, os dois ficaram com uma arma apontada para a cabeça. “Eles
disseram que o carro era uma encomenda e que não nos machucariam”, detalhou.
Mesmo assim, a criança não parou de chorar. Em um
primeiro momento, os bandidos pensaram que o vizinho fosse o pai do menino.
Tanto que, ao rendê-lo, mandaram que passasse para o banco traseiro e abraçasse
a criança. Ele cumpriu as ordens e não olhou para os assaltantes. Enquanto
isso, Érica entrou em contato com familiares, que acionaram a polícia. Uma
equipe de PMs localizou as vítimas no posto de gasolina de Valparaíso.
Ameaças
Ao ver o filho, a vendedora se emocionou. “Eu não
conseguia parar de chorar”, disse a mãe (leia Depoimento). O menino relatou à
mãe ameaças. “Ele disse: ‘Os homens malvados levaram a minha cobertinha,
mamãe’”, revelou Érica. Até o fechamento desta edição, não havia informações
sobre os suspeitos nem sobre a Parati prata. A 33ª Delegacia de Polícia (Santa
Maria) investiga o caso. Se encontrados, os suspeitos responderão por roubo com
restrição à liberdade e emprego de arma de fogo. A pena máxima prevista chega a
15 anos de prisão.
Depoimento
“Não conseguia parar de chorar”
“Foram 10 minutos. Saí do carro para pegar o remédio
no posto e, quando olhei para trás, estavam arrancando com o carro em alta
velocidade. Pensei por que o Edmilson, o meu vizinho, sairia naquela
velocidade, mas, quando olhei para a janela, ele estava no banco de trás com o
meu filho. Um homem estranho estava na direção. Desesperei-me. Corri para
tentar alcançar o veículo nem sei por que pensei que conseguiria. Só pensava:
‘Levaram, levaram o meu filho’. Ele está doente. O meu maior medo era de ele
chorar e irritar os bandidos. Eles podiam atirar nele, matar. Liguei para a
minha mãe, para o meu pai. Não conseguia pensar direito. Os meus parentes
chamaram a polícia, e os militares chegaram muito rápido. Rodamos por quase 50
minutos na tentativa de achar o meu filho. Pareceu uma eternidade. Tanto coisa
passou pela minha cabeça. Não conseguia parar de chorar. Apeguei-me a Deus, fiz
orações, a minha família também rezou. Só pensava que a minha vida havia
acabado. Ele é tão indefeso. Por fim, conseguiram encontrar os dois. Só pensava
em abraçar e beijar o meu filho. Chorei tanto, que ele olhou para mim e disse:
‘Calma, mamãe. Está tudo bem’".
Érica de Sousa, 35 anos, vendedora
Fonte: Correio Braziliense -
19/02/2014