quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Horror e sequestros à luz do dia. Criança é mantida refém


Na BR-080, bandido bateu em dois veículos antes de morrer e ainda matar um inocente.

Dois ataques foram praticados em uma hora. Em um dos casos, assaltante roubou carro, provocou acidente e matou motociclista. No outro, mãe viu o filho de 3 anos ser levado. ...

Dois sequestros relâmpagos levaram pânico a pelo menos três regiões do Distrito Federal. No primeiro caso, por volta das 12h30 de ontem, um bandido armado com uma faca rendeu mãe e filho em Taguatinga. Depois de abandonar as vítimas, o assaltante, em alta velocidade, provocou um acidente na BR-080, em Brazlândia, e bateu em dois veículos. Ele e um motoqueiro morreram na hora. Menos de uma hora depois, outro roubo com restrição à liberdade. Desta vez, em Santa Maria. Uma vendedora de 35 anos viu dois
bandidos levarem o filho, de 3, que estava dentro do carro da família (leia reportagem abaixo).

No ataque de Taguatinga, mesmo com a movimentação do horário de almoço, o suspeito, não identificado até o fechamento desta edição, abordou a mulher e o filho do sargento da Polícia Militar Antônio Cícero de Orlanda. As vítimas estavam dentro do veículo, em frente a uma loja, no Pistão Sul. Quando saiu, minutos depois, o militar não encontrou os familiares nem o carro. “Do jeito que as coisas estão, já pensei no pior. Tentei ligar para a minha mulher e não consegui. Aí, liguei para a polícia. Como pai de família, a gente se preocupa e fica pensando no que pode acontecer”, contou o PM.

Segundo a PM, o criminoso envolvido na colisão fatal na BR-080 atingiu a traseira de um Chevette antes de rodar na pista.

A mulher de 42 anos e o garoto, de 18, foram deixados ainda em Taguatinga. Durante a fuga, o criminoso dirigiu em alta velocidade e tentou fugir por Brazlândia, segundo a Polícia Militar. Perto da entrada da cidade, ele bateu na traseira de um Chevette e rodou na pista. William Militão de Azevedo, 25 anos, vinha de moto no sentido contrário e bateu na lateral do veículo roubado. Ele e o assaltante morreram na hora. Os ocupantes do outro carro, um casal e uma criança de 2 anos, foram levados para o hospital, mas não só tiveram ferimentos leves.

O sargento Jesus Silva, do Batalhão de Policiamento Rodoviário (BPRv), informou que, depois de abandonar as vítimas, o assaltante seguiu pela BR-080. “Ele corria muito e fazia atrocidades no trânsito. Uma viatura da PM tinha sido avisada sobre o roubo em Taguatinga e acompanhava o criminoso, mas não houve perseguição”, disse o PM. 

Moto e rock
O motociclista que morreu no acidente, William Militão, havia saído de casa pouco antes, em Brazlândia, para ir ao trabalho, em Taguatinga. Filho de policial militar, o jovem era um condutor de motocicletas experiente. Não tinha passagens pela polícia e, de acordo com o primo Robson Militão, sempre reclamou da BR-080 não ser duplicada. “Não só ele, como eu e todos os nossos primos que têm motos. É uma pista que sempre tem acidentes”, reclamou.

Amigos de William contaram ao Correio que ele era apaixonado por motos e por música, principalmente rock. Ele fazia parte de um grupo de motociclistas, que deve participar do enterro com faixas pretas. Até o fechamento desta edição, a data e o local do sepultamento ainda não haviam sido definidos.

A vítima

William Militão de Azevedo

» Tinha 25 anos

» Morava em Brazlândia e trabalhava na área de informática em Taguatinga

» Era o mais velho de três irmãos

» Gostava de moto e de rock

» Sempre reclamou da falta de duplicação na BR-080

Criança é mantida refém

Dois bandidos armados sequestraram um menino de 3 anos em frente a um posto de saúde de Santa Maria. De longe, a mãe acompanhou, em desespero, toda a ação. A vendedora Érica Sousa havia saído do carro para pegar um remédio e deixou o garoto com o motorista do veículo, um vizinho, amigo da família. Em poucos minutos, os criminosos abordaram Edmilson do Nascimento, 34 anos, e anunciaram o assalto. Ele foi para o banco de trás da Parati prata e ficou ao lado da criança. A mulher viu o veículo arrancar. “Na hora, percebi que era um sequestro”, contou ao Correio.

O ataque aconteceu por volta das 13h na Quadra 217. Foram 50 minutos de terror até que o menino e Edmilson fossem encontrados. Os assaltantes não feriram as vítimas, deixadas em um posto de combustível desativado na entrada de Valparaíso, perto do monumento Solarius, conhecido como Chifrudo. Segundo Edmilson, durante todo o tempo em que estiveram em poder dos assaltantes, os dois ficaram com uma arma apontada para a cabeça. “Eles disseram que o carro era uma encomenda e que não nos machucariam”, detalhou.

Mesmo assim, a criança não parou de chorar. Em um primeiro momento, os bandidos pensaram que o vizinho fosse o pai do menino. Tanto que, ao rendê-lo, mandaram que passasse para o banco traseiro e abraçasse a criança. Ele cumpriu as ordens e não olhou para os assaltantes. Enquanto isso, Érica entrou em contato com familiares, que acionaram a polícia. Uma equipe de PMs localizou as vítimas no posto de gasolina de Valparaíso.

Ameaças
Ao ver o filho, a vendedora se emocionou. “Eu não conseguia parar de chorar”, disse a mãe (leia Depoimento). O menino relatou à mãe ameaças. “Ele disse: ‘Os homens malvados levaram a minha cobertinha, mamãe’”, revelou Érica. Até o fechamento desta edição, não havia informações sobre os suspeitos nem sobre a Parati prata. A 33ª Delegacia de Polícia (Santa Maria) investiga o caso. Se encontrados, os suspeitos responderão por roubo com restrição à liberdade e emprego de arma de fogo. A pena máxima prevista chega a 15 anos de prisão.

Depoimento

“Não conseguia parar de chorar”

“Foram 10 minutos. Saí do carro para pegar o remédio no posto e, quando olhei para trás, estavam arrancando com o carro em alta velocidade. Pensei por que o Edmilson, o meu vizinho, sairia naquela velocidade, mas, quando olhei para a janela, ele estava no banco de trás com o meu filho. Um homem estranho estava na direção. Desesperei-me. Corri para tentar alcançar o veículo nem sei por que pensei que conseguiria. Só pensava: ‘Levaram, levaram o meu filho’. Ele está doente. O meu maior medo era de ele chorar e irritar os bandidos. Eles podiam atirar nele, matar. Liguei para a minha mãe, para o meu pai. Não conseguia pensar direito. Os meus parentes chamaram a polícia, e os militares chegaram muito rápido. Rodamos por quase 50 minutos na tentativa de achar o meu filho. Pareceu uma eternidade. Tanto coisa passou pela minha cabeça. Não conseguia parar de chorar. Apeguei-me a Deus, fiz orações, a minha família também rezou. Só pensava que a minha vida havia acabado. Ele é tão indefeso. Por fim, conseguiram encontrar os dois. Só pensava em abraçar e beijar o meu filho. Chorei tanto, que ele olhou para mim e disse: ‘Calma, mamãe. Está tudo bem’".

Érica de Sousa, 35 anos, vendedora


Fonte: Correio Braziliense - 19/02/2014