terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Fraga assume lado coronel e prega ordem unida para 2014

O ex-deputado sinalizou que no quadro atual seu partido pode ter uma candidatura própria. Fraga avalia, sem citar nomes de ‘governáveis’, que a curto prazo as ações individuais devem ser deixadas de lado (foto: reprodução)
Todas as faces de um político que frequentou a escola do ‘prometer e cumprir’ e não aquela do ‘afagar cabeças em troca de votos fáceis’, vão aparecer para o eleitor nas inserções que o Democratas fará na televisão a partir desta quinta-feira 5. É Alberto Fraga, 56 anos, coronel da reserva da Polícia Militar, deputado federal por três vezes e que surpreendeu até aos mais céticos ao receber próximo de 600 mil votos no último pleito para o Senado.

Em 2010 Fraga viu o cavalo passar selado na frente dele. No entanto, faltou coragem – ou uma ampla coligação partidária – capaz de alimentar uma disputa pelo Palácio do Buriti. Mas hoje ele vê o quadro diferente. Admite haver um vácuo na oposição. E que
não há, entre as pré-candidaturas lançadas, um nome novo e suficientemente forte para enfrentar Agnelo Queiroz nas urnas em 2014.

Presidente regional do DEM, Alberto Fraga abriu as portas da nova sede do partido, na Quadra 513 Sul, Residencial, para uma conversa com Notibras. Como não poderia deixar de ser, de cada 10 frases, foram 10 sobre política.

O ex-deputado sinalizou que no quadro atual seu partido pode ter uma candidatura própria. Fraga avalia, sem citar nomes de ‘governáveis’, que a curto prazo as ações individuais devem ser deixadas de lado. E defende que na hora de bater o martelo, aquele que estiver mais bem posicionado nas pesquisas deve encabeçar uma chapa capaz de tirar o PT do Palácio do Buriti.

Veja trechos da conversa:

As mágoas - Alberto Fraga garante que não é truculento, contrariando contemporâneos seus da época da Polícia Militar. Se diz pragmático, idealista e condena político que troca cargos por apoio ao governo.

Sente orgulho em manter vivo seu ‘lado’ coronel. E enfatiza que “isso evita que me venham com propostas indecorosas, promíscuas”.

Empresta total solidariedade aos colegas de farda, vítimas, diz, “de estelionato eleitoral do governador Agnelo Queiroz”. Por essas e outras garante que faz política “de modo verdadeiro; minha escola não é a de prometer e não cumprir. De afagar cabeças apenas para ter votos”.

Quem ‘abandonou o barco’ no auge da crise do Democratas “não passa de cara de pau”. Nesse aspecto, o presidente do partido faz questão de citar nomes. E ataca o oportunismo de Raad Massouh (ex-deputado distrital do PPL, cassado por corrupção), Paulo Roriz (eleito pelo DEM, hoje no PP, trocando favores com o governo do PT) e Paulo Octávio, ex-vice-governador, também eleito pelo Democratas e que recentemente se instalou confortavelmente na base aliada do Palácio do Buriti. Esses, nas palavras de Fraga, vestiram a capa do cinismo.

A advertência - A oposição só derrotará Agnelo Queiroz em 2014 se marchar unida. É o alerta do lado coronel de Fraga. Se não for assim, adverte, “podemos dar adeus ao Palácio do Buriti”.

Fraga entende que é preciso haver consenso entre as pré-candidaturas. “Individualismo é coisa do passado, dos currais eleitorais. Quem está levando a campanha a ferro e fogo pode se queimar”.

O ex-deputado reconhece que há candidaturas economicamente fortes entre seus aliados. “É gente capaz de sacar 5 milhões da conta sem abalar as finanças da família”, observa. Quanto ao próprio bolso dele, diz, não pode dispor “sequer de 100  mil reais para iniciar uma campanha.”

Mas na hora de entrar em cena, de quem estiver mais bem posicionado nas pesquisas, apoio financeiro não será problema. É o que afirma Fraga, sustentando ter o apoio de Luiz Estevão (PRTB, ex-senador cassado) e do grupo de José Roberto Arruda, desde que o ex-governador não viabilize sua candidatura.

Ontem e hoje - Fraga chegou mesmo a ser pré-candidato ao governo nas últimas eleições, no conturbado cenário em que seus pares do Partido Democratas foram afastados do GDF pela operação Caixa de Pandora. Entretanto, após diversas negociações com outras legendas, não obteve o apoio que desejava e desistiu do pleito. Restou-lhe concorrer a uma vaga ao Senado no bloco de Joaquim Roriz.

O publicitário Kleber Ferriche, profissional contratado que havia preparado uma campanha diferenciada que exaltava o perfil combativo de Fraga, recorda que a última eleição em Brasília poderia ter tido outro resultado. Ou na pior das hipóteses, um segundo turno diferente: “Naquele cenário, mesmo sem uma grande coligação, havia uma real possibilidade de êxito e os cerca de 600 mil votos dele comprovam isso”, lembra.

Uma grande estrutura estava de plantão, os apoiadores e setoriais de Arruda estavam reunidos no projeto e a cidade lamentava a interrupção do trabalho que era feito até aquele momento. As pesquisas indicavam que na pior fase da investigação, a sociedade mantinha o absoluto apoio às obras do governo desinstalado.

– Fraga poderia ter representado para a população a continuidade das obras que tinham um alto índice de aprovação, independente da Caixa de Pandora, lembra Ferriche. “Além disso, observamos depois, ele teria uma participação enérgica nos mornos debates que foram promovidos entre os candidatos. Teria dado muito trabalho aos demais candidatos nos confrontos e entrevistas.”

As últimas palavras de Fraga em 2010, quando do encerramento do prazo legal e após receber uma negativa do PPS, o derradeiro partido aguardado, foram: “Vocês são testemunhas de que eu tentei de todas as formas, mas sem o PPS não podemos enfrentar as eleições”.

Depois disso ele deixou o QG eleitoral e foi ao encontro de Roriz para tentar garantir sua vaga ao Senado.

O que pesou também entre os coordenadores do projeto eleitoral foi o restrito tempo de rádio e TV que teria o DEM sem coligar com outros partidos. No entendimento de Fraga, os poucos minutos destinados ao partido seriam insuficientes para sustentar uma boa campanha.

Contudo, sobre isso também houve um equívoco, diz, do alto da sua experiência, Kleber Ferriche. Mesmo porque, é notório que qualquer tempo acima de dois minutos é mais que suficiente se a comunicação for original e envolvente.

O momento agora é outro, o cenário após a criticada passagem de Rosso pelo GDF está modificado e Agnelo Queiroz tem um farto cardápio de obras estruturantes e grandes eventos para o Distrito Federal.

Como profissional de comunicação, Ferriche percebe que mais uma vez o Distrito Federal terá um outro desenho eleitoral, como acontece de quatro em quatro anos. E avisa que quem apostar agora em tempo TV poderá cometer um grave erro.

– Quem não souber utilizar a mídia on line com a criatividade que a mídia off line exige, também não vai encontrar espaço para convencimentos. Os tempos são outros, embora sejam recorrentes em qualquer pesquisa os mesmos nomes e personagens de outras gerações.

Ferriche, após a desistência de Fraga de disputar o GDF, foi levado para o PSL e produziu a campanha Chega de Azul, Chega de Vermelho, que ironizava em tom jocoso o rorizismo e o petismo.  O trabalho foi contratado por Newton Lins, que desistiu às vésperas da eleição para ajudar a construir o Novo Caminho ao lado do PT e PMDB – e é hoje secretário no governo Agnelo.

Coincidência ou não, o mesmo PPS que negou apoio a Fraga para disputar o Buriti em 2010, está nas mãos de uma velha aliada, a deputada distrital Eliana Pedrosa. Justamente a única pré-candidata lançada oficialmente para disputar a cadeira de Agnelo Queiroz.

A tendência é que os dois se unam. Mas quem vai saltar na sela do puro-sangue para concorrer ao governo, ou na de um pangaré, para disputar a senatoria, só o tempo dirá.

Fonte: Notibras