O anúncio de José
Serra de que estaria desistindo de seu projeto de candidatar-se à Presidência
pelo PSDB intensificou na legenda o debate sobre seu futuro político. Ontem,
dirigentes do partido em São Paulo já defendiam que ele disputasse uma vaga à
Câmara dos Deputados e, assim, atuasse como uma espécie de puxador de votos. Em
conversas recentes, no entanto, ele demonstrou resistência a essa alternativa.
— Essa decisão
ainda não está na cabeça dele, mas ele não tem demonstrado muita intenção de
disputar um cargo na Câmara — contou um serrista.
Serra não se
pronunciou ontem sobre o caso. Segundo dirigentes tucanos, Serra está
atualmente mais propenso a uma disputa ao Senado, hipótese que
já conta com o
apoio do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que disse ontem que essa
opção seria "muito honrosa" e "importante para São Paulo".
Em estratégia
conjunta com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Alckmin foi uma das
lideranças tucanas que pressionaram Serra a anunciar sua decisão ainda este
ano.
— À medida que o
Serra não é candidato, o Aécio (Neves) já é o candidato, mas isso formalmente
pode ser feito a qualquer momento. O Serra é preparado para disputar qualquer
cargo — disse Alckmin.
Caso Serra opte por
candidatu ra ao Senado, a questão terá de ser pacificada no partido. Outros
tucanos demonstraram interesse pelo posto.
Ontem, no evento em
que brilhou como única estrela do PSDB na apresentação de uma prévia da
plataforma de governo do partido, o senador mineiro Aécio Neves, provocado,
elogiou a decisão de Serra. Mas, em uma demonstração de que a corda ainda está
esticada entre os dois, Serra não compareceu ao evento, e Aécio, por sua vez,
não citou o colega em sua fala. Somente quando questionado posteriormente,
elogiou a postura de Serra, mas sem admitir que já é o candidato do PSDB.
O senador disse que
a atitude do ex-governador, afirmando nas redes sociais que o partido confirme,
"sem demora" a candidatura de Aécio, foi um um gesto de
"desprendimento" "na direção da unidade partidária" O
senador também tentou minimizar as especulações de que a decisão teria sido
tomada sem aviso prévio,
— Há uma ideia
disseminada de que nós não conversamos. Ao contrário, conversamos muito mais do
que muitos imaginam. Não deixo de reconhecer que é um gesto importante na
direção da unidade partidária, que eu diria, de desprendimento do
ex-governador, que não nos surpreende, principalmente nós que temos conversado
com ele ultimamente. Só que o PSDB tem uma agenda e vai definir o momento de
lançamento a partir da sua direção partidária, ouvindo cada um dos estados
brasileiros — afirmou Aécio Neves, em entrevista coletiva.
Aécio apontou, no
entanto, que, apesar do sinal verde dado por Serra, o PSDB pode não lançar
imediatamente seu nome para a disputa ao Palácio do Planalto, O momento em que
isso será feito dependerá de uma decisão mais ampla do partido, afirmou Aécio,
negando que sua candidatura esteja desde já definida.
Entre serristas e
aecistas, o clima era de alívio pela decisão do ex-governador de São Paulo de
sair do cenário da disputa presidencial. Embora Aécio tenha construído maioria
no PSDB e sua candidatura já fosse dada como certa, o acerto era que o partido
só bateria o martelo em março. A combinação fazia parte do esforço para não
melindrar Serra e convencê-lo a se engajar na campanha do tucano.
Em entrevista,
Aécio usou o recuo de Serra como trunfo em relação ao adversários, afirmando
que a unidade do PSDB existe, ao contrário dos sinais que vinham sendo emitidos
nos últimos meses por causa do racha entre os dois tucanos.
— A nossa unidade é
real. Para dissabor, desalento de muitos dos nossos adversários, o PSDB vai
estar unido nas próximas eleições, vai apresentar projeto claro de alternância
de eficiência na gestão pública, ético e ousado e, por isso, vai para o segundo
turno e vai vencer as eleições — afirmou Aécio.
Fonte: O Globo