Por meio de
contas na Suíça, cartel teria pago propina para ganhar licitação de manutenção
de trens entre 2001 e 2002
O depósito de 181 mil estaria na conta em nome de um diretor da CPTM e de sua filha. Uma outra conta seria ligada a outro diretor da empresa e também teria recebido depósitos das offshores Leraway e Gantown, que, por sua vez, mantinham contratos de consultoria com a Siemens no valor de até 5% de cada negócio fechado com governos no Brasil. Os contratos da alemã com as offshores seriam uma cobertura para justificar o pagamento de propinas para agentes públicos. Cópias desses documentos estão em poder da Polícia Federal, que abriu inquérito na Superintendência de São Paulo. ...
Os federais ouviram diretores e ex-diretores da Siemens. Buscam, a exemplo dos promotores do Ministério Público Estadual (MPE), provas de pagamento de propina, evasão de divisas, lavagem de dinheiro e enriquecimento ilícito de agentes públicos. Documentos obtidos pelo Estado mostram que o cartel denunciado pela Siemens agiu em cinco casos, obtendo contratos com os governos de São Paulo e do Distrito Federal que, somados, chegam a R$ 1,925 bilhão (valores atualizados). Os papéis mostram que os governos podiam ter economizado até 30% desse total (R$ 557 milhões) caso o esquema não tivesse praticamente eliminado a livre concorrência.
Suíça. É para obter os dados dessas contas bancárias de forma oficial que os promotores de São Paulo decidiram pedir à Justiça da Suíça os dados cadastrais e mais informações sobre essas movimentações suspeitas. Um dos interessados no caso recorreu da decisão do MPE em uma corte daquele país e, agora, o caso aguarda julgamento.
A suspeita é que o dinheiro tenha sido pago para que o cartel do trem obtivesse um contrato assinado ainda durante a gestão de Mário Covas (PSDB), de
Além da movimentação bancária dos diretores, os promotores e a PF têm em mãos documento do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) no qual os supostos integrantes do cartel do trem se encontram com os irmãos Teixeira a fim de definir o resultado das licitações da CPTM S2100 (reforma de 48 trens) e S3000 (reforma de dez trens).
Os irmãos teriam decidido intervir no caso para resolver um conflito criado por um diretor da Siemens que tentou romper o acordo entre as grandes empresas - participavam do cartel nesse caso a Alstom, a CAF, a Mitsui, a Bombardier e Temoinsa. Ao término do encontro, ficou acertado que a Siemens receberia o contrato S3000 enquanto as demais dividiriam a S2100.
Luxemburgo. A PF apura ainda a ação de outras offshores no caso. Elas teriam como sede Luxemburgo. Uma delas, a Singel, teria como proprietários outras offshores, entre elas a Zupparolo e a Frida, com sedes no Panamá, Uruguai, Cayman e Curaçau. Por uma conta administrada pela Singel teriam passado 8 milhões - atualmente, apenas 16 mil estão na conta. A operação seria mantida por um ex-diretor da Siemens.
Por Bruno Ribeiro, Marcelo
Godoy
Fonte: Jornal Estado de São
Paulo - 08/08/2013