Mais investigação, sem espetáculo
Não
passa despercebido a muitos auxiliares do governador que no início do ano foi
detectada uma mobilização, de alguns deputados distritais e federais e
dirigentes sindicais, para viabilizar o impeachment de Rodrigo Rollemberg
(foto). Animados pelo processo contra a presidente Dilma Rousseff, esse grupo
conversava sobre como aproveitar a onda e fazer o mesmo aqui.
O
principal pretexto para o impeachment seriam possíveis irregularidades no
Iprev, o instituto de previdência dos servidores. Outros motivos poderiam ser
buscados, mas o importante era criar na cidade um ambiente profundamente
negativo para Rollemberg, que o deixasse isolado e vulnerável. ...
Não
foi sem motivo que, na conversa gravada por Marli Rodrigues, um dos
participantes pergunta a Renato Santana se ele está preparado para assumir o governo.
Aliás…
Mudanças
feitas na direção do Iprev pela secretária de Planejamento, Leany Lemos,
dificultaram os planos dos articuladores do impeachment de usar o instituto
como pretexto.
A
presidente da Câmara intercedeu para o antigo diretor ficar, sem sucesso. O
quadro lá, hoje, é outro.
Mais
espetáculo que investigação
A
Câmara Legislativa, e mais especificamente a CPI da Saúde, têm todo o direito
de investigar os fatos revelados na gravação de
conversas do vice-governador
Renato Santana e do então secretário Fábio Gondim com a presidente do
SindSaúde, Marli Rodrigues.
Os
distritais devem mesmo ouvir os envolvidos e tentar apurar o que há de fato no
que foi dito. Mas quem conhece a Câmara sabe: o que realmente move os
distritais que suspenderam o recesso para reabrir a CPI é desgastar o governo e
aproveitar o momento para aparecer na mídia. Como o governo não soube se
investigar, deu essa oportunidade aos distritais.
Mais
investigação, sem espetáculo
Quem
pode investigar de verdade e longe das luzes são a Polícia Civil, o Ministério
Público de Contas e o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios. Os
dois ministérios públicos já anunciaram que investigarão conjuntamente as denúncias.
A Polícia Civil foi tardiamente acionada pelo
governador
Rodrigo Rollemberg, mas já investigava por iniciativa de Marli Rodrigues.
A
Câmara, no pleno exercício de suas prerrogativas, vai só fazer barulho.
Todos
contra as mordomias, mas…
Muitos
leitores se manifestaram sobre os comentários nesta coluna acerca de mordomias.
Todos, sem exceção, criticando o privilégio concedido aos que exercem funções
públicas. Alguns citaram exemplos de outros países, nos quais as autoridades
andam de transporte coletivo ou bicicleta e parlamentares moram em quitinetes e
lavam a própria roupa.
Privilégios
são inaceitáveis, e as mordomias são privilégios que já deveriam ter acabado.
Não tem sentido o Estado arcar com carros oficiais exclusivos para autoridades
e com residências funcionais. É absurdo também arcar com refeições de
autoridades, seja nas residências oficiais ou mediante ressarcimentos com verba
indenizatória ou pagamento com suprimento de fundos. O problema é que quem pode
acabar com as mordomias não quer perder os benefícios.
Bons
e maus exemplos
Há
secretários e presidentes de empresas do governo de Brasília que dispensam os
carros oficiais para ir para o trabalho e voltar para casa. Um deles é o
presidente da Caesb, Maurício Ludovice, que mora na Asa Sul e vai de metrô para
a sede da empresa. Ultimamente não tem feito isso porque os metroviários estão
em greve.
O
presidente da Codeplan, Lucio Rennó, mora na Asa Norte e vai de bicicleta para
o trabalho, atrás do Palácio do Buriti. Em contraponto, o carrão preto que
serve ao presidente de uma agência chega cedo em sua casa na Asa Sul, mas
raramente sai antes de 9h30, 10 horas. Geralmente o presidente volta para
almoçar em casa e retorna do trabalho por volta de 18 horas.
E a
excelência ainda faz questão de andar no banco de trás, com pompa e
circunstância.
Bem
menos, mais ainda muito
O
coronel PM Jair Tedeschi lembra que o então governador José Ornellas, de quem
foi ajudante de ordens, organizava partidas de vôlei em Águas Claras e depois
fazia o rateio das despesas. Ornellas, do tempo em que os governadores eram
nomeados, não aceitava que o tesouro arcasse com as comidas e bebidas.
Outro
leitor observa que apenas dois governadores eleitos e uma vice-governadora que
assumiu o posto moraram de fato em Águas Claras: Cristovam Buarque (foto),
Agnelo Queiroz e Maria de Lourdes Abadia.
Mas
todos os governadores usaram a “residência” para reuniões, audiências, cafés da
manhã, almoços e jantares, mobilizando enorme equipe para servir comes e bebes
e um gigantesco aparato de segurança.
No
governo de Agnelo, a manutenção de Águas Claras custava R$ 400 mil mensais.
Baixou no atual governo para R$ 180 mil, mas esse valor ainda é absurdo.
POR
HÉLIO DOYLE
Fonte:
Edson
Sombra