quarta-feira, 20 de julho de 2016

O vice sempre está preparado para assumir o governo

Mais investigação, sem espetáculo

Não passa despercebido a muitos auxiliares do governador que no início do ano foi detectada uma mobilização, de alguns deputados distritais e federais e dirigentes sindicais, para viabilizar o impeachment de Rodrigo Rollemberg (foto). Animados pelo processo contra a presidente Dilma Rousseff, esse grupo conversava sobre como aproveitar a onda e fazer o mesmo aqui.
O principal pretexto para o impeachment seriam possíveis irregularidades no Iprev, o instituto de previdência dos servidores. Outros motivos poderiam ser buscados, mas o importante era criar na cidade um ambiente profundamente negativo para Rollemberg, que o deixasse isolado e vulnerável. ...
 Não foi sem motivo que, na conversa gravada por Marli Rodrigues, um dos participantes pergunta a Renato Santana se ele está preparado para assumir o governo. 
Aliás…
Mudanças feitas na direção do Iprev pela secretária de Planejamento, Leany Lemos, dificultaram os planos dos articuladores do impeachment de usar o instituto como pretexto.
A presidente da Câmara intercedeu para o antigo diretor ficar, sem sucesso. O quadro lá, hoje, é outro. 
Mais espetáculo que investigação
A Câmara Legislativa, e mais especificamente a CPI da Saúde, têm todo o direito de investigar os fatos revelados na gravação de
conversas do vice-governador Renato Santana e do então secretário Fábio Gondim com a presidente do SindSaúde, Marli Rodrigues.
Os distritais devem mesmo ouvir os envolvidos e tentar apurar o que há de fato no que foi dito. Mas quem conhece a Câmara sabe: o que realmente move os distritais que suspenderam o recesso para reabrir a CPI é desgastar o governo e aproveitar o momento para aparecer na mídia. Como o governo não soube se investigar, deu essa oportunidade aos distritais.
Mais investigação, sem espetáculo
Quem pode investigar de verdade e longe das luzes são a Polícia Civil, o Ministério Público de Contas e o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios. Os dois ministérios públicos já anunciaram que investigarão conjuntamente as denúncias. A Polícia Civil foi tardiamente acionada pelo
governador Rodrigo Rollemberg, mas já investigava por iniciativa de Marli Rodrigues.
A Câmara, no pleno exercício de suas prerrogativas, vai só fazer barulho.
Todos contra as mordomias, mas…
Muitos leitores se manifestaram sobre os comentários nesta coluna acerca de mordomias. Todos, sem exceção, criticando o privilégio concedido aos que exercem funções públicas. Alguns citaram exemplos de outros países, nos quais as autoridades andam de transporte coletivo ou bicicleta e parlamentares moram em quitinetes e lavam a própria roupa.
Privilégios são inaceitáveis, e as mordomias são privilégios que já deveriam ter acabado. Não tem sentido o Estado arcar com carros oficiais exclusivos para autoridades e com residências funcionais. É absurdo também arcar com refeições de autoridades, seja nas residências oficiais ou mediante ressarcimentos com verba indenizatória ou pagamento com suprimento de fundos. O problema é que quem pode acabar com as mordomias não quer perder os benefícios.
Bons e maus exemplos
Há secretários e presidentes de empresas do governo de Brasília que dispensam os carros oficiais para ir para o trabalho e voltar para casa. Um deles é o presidente da Caesb, Maurício Ludovice, que mora na Asa Sul e vai de metrô para a sede da empresa. Ultimamente não tem feito isso porque os metroviários estão em greve.
O presidente da Codeplan, Lucio Rennó, mora na Asa Norte e vai de bicicleta para o trabalho, atrás do Palácio do Buriti. Em contraponto, o carrão preto que serve ao presidente de uma agência chega cedo em sua casa na Asa Sul, mas raramente sai antes de 9h30, 10 horas. Geralmente o presidente volta para almoçar em casa e retorna do trabalho por volta de 18 horas.
E a excelência ainda faz questão de andar no banco de trás, com pompa e circunstância.
Bem menos, mais ainda muito
O coronel PM Jair Tedeschi lembra que o então governador José Ornellas, de quem foi ajudante de ordens, organizava partidas de vôlei em Águas Claras e depois fazia o rateio das despesas. Ornellas, do tempo em que os governadores eram nomeados, não aceitava que o tesouro arcasse com as comidas e bebidas.
Outro leitor observa que apenas dois governadores eleitos e uma vice-governadora que assumiu o posto moraram de fato em Águas Claras: Cristovam Buarque (foto), Agnelo Queiroz e Maria de Lourdes Abadia.
Mas todos os governadores usaram a “residência” para reuniões, audiências, cafés da manhã, almoços e jantares, mobilizando enorme equipe para servir comes e bebes e um gigantesco aparato de segurança.
No governo de Agnelo, a manutenção de Águas Claras custava R$ 400 mil mensais. Baixou no atual governo para R$ 180 mil, mas esse valor ainda é absurdo.

POR HÉLIO DOYLE

Fonte: Edson Sombra