quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Rollemberg veta compra de R$ 648 mil em motos BMW para controle de trânsito

Segundo consulta feita pelo Correio, a primeira revisão do equipamento é feita aos mil quilômetros e custa R$ 750 
GDF descartou as motos, já com a marca do Detran, e pediu que as novas sigam
"princípios de austeridade e de economicidade"
A compra das 14 motocicletas da marca alemã BMW — modelo F 800 GS —, que iam para o Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran-DF), está suspensa. A decisão é do governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg (PSB). O socialista pediu ao órgão justificativas técnicas para aquisição das unidades. E, na manhã de ontem, após analisar o material e ouvir especialistas sobre a possibilidade de adquirir outras mais econômicas, terminou com o processo. O valor de cada uma ficou em R$ 46.324 e o preço total alcançou a cifra de R$ 648.536.

A previsão era de que as motocicletas chegassem ao Detran até a segunda quinzena de fevereiro. Elas já estavam com o nome e o emblema do órgão. O GDF não soube detalhar o que vai fazer com as motocicletas. Sobre o trâmite, o Executivo informou que o dinheiro do órgão fiscalizador brasiliense ainda não havia sido
liquidado para a compra. O processo será encaminhado para análise da Procuradoria-Geral do Distrito Federal (PGDF). Até a tarde de ontem, a documentação não tinha chegado ao órgão.

Em nota, o governo detalhou que o Detran deverá reavaliar as especificações das motocicletas. “As novas unidades terão de observar os critérios técnicos para reposição da atual frota, de forma a atender adequadamente às necessidades para fiscalização de trânsito em todo o Distrito Federal, mas também devem seguir princípios de austeridade e de economicidade.”

Mas não é só a venda das motos de luxo que pesa no orçamento público. A revisão do veículo de luxo duas rodas ultrapassa a média de manutenção de um quatro rodas. Uma pesquisa feita pelo Correio em concessionárias especializadas na marca revela que a motocicleta BMW F 800 GS tem dois anos de garantia. No entanto, a primeira revisão (e mais barata) precisa ser feita com mil quilômetros e custa R$ 750. Depois, a manutenção é feita a cada 10 mil quilômetros.

Quanto maior a quilometragem, mais alto é o custo. Na mesma empresa consultada, no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA), a revisão da mesma motocicleta com 40 mil quilômetros rodados custa entre R$ 1,3 mil e R$ 1,6 mil, com base no plano de manutenção da marca. Se tiver peças desgastadas, o valor aumenta. Em outra concessionária especializada, em Goiânia, só a vistoria da moto com 40 mil quilômetros fica em R$ 923. Segundo uma das funcionárias, o trabalho básico envolve troca de óleo, filtro de ar e óleo do cardan. O preço dos três serviços juntos, mais a manutenção, chega a R$ 1,2 mil. Para se ter uma ideia, a revisão de um HBV 20 Hatch 1.6 automático, de 40 mil quilômetros, custa R$ 577, com peças, mão de obra e lavagem.

Pistolas taser
Segundo o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Atividades de Trânsito, Policiamento e Fiscalização de Trânsito das Empresas e Autarquias do DF (Sindetran-DF), Fábio Medeiros, a entidade vai acompanhar os desdobramentos com a direção do órgão. “Ficamos sabendo pela imprensa. Essa é uma decisão precipitada porque o governador se baseia em informações da mídia e pressão popular. Não procurou ver o processo nem as necessidades do órgão”, reclamou.

Não é a primeira vez que o Detran adquire equipamentos e não os utiliza. Em 2011, o órgão comprou 220 pistolas tasers, cada uma avaliada na época em, aproximadamente, R$ 1.416. A discussão de porte de arma de agentes e a reação da sociedade e de entidades contra o uso do material levaram o governo a suspender a medida. As pistolas ficaram encaixotadas. O Correio tentou falar com algum porta-voz do Detran para esclarecer a suspensão, mas a informação foi de que o governo se pronunciaria apenas por meio de nota. O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) confirmou que a denúncia do morador do DF contra a aquisição das unidades para o Detran chegou ao setor de apoio da Promotoria de Justiça de Defesa do Patrimônio Público e Social (Prodep), será cadastrada e, depois, distribuída ao promotor.


Fonte: Correio Braziliense