Para especialista, crise política deverá se agravar
nos próximos dias por conta dos problemas na economia
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Depois de um dia repleto de manifestações
contra o governo federal em todo o país neste domingo (15/03), a presidente
Dilma Rousseff terá uma série de desafios a partir desta segunda-feira (16/03)
para resgatar a credibilidade perdida. O principal deles é administrar a crise
política que se instaurou em apenas três meses de seu segundo mandato e está se
agravando, na avaliação do economista José Luis Oreiro, professor da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)...
"Depois
desses protestos, a crise política vai se aprofundar", afirmou o
acadêmico, que aposta na continuidade da alta do dólar nesta semana. Na última
sexta-feira (13/03), a divisa norte-americana fechou a R$ 3,25, o maior patamar
desde abril de 2003 em meio ao aumento da desconfiança em relação ao governo e
a sua capacidade de
solucionar as questões domésticas e os conflitos com a base
aliada no meio dos escândalos de corrupção na Petrobras.
"Dilma
atravessa uma crise de credibilidade dos mercados que está se refletindo no
câmbio, que sobe muito mais por problemas internos do que externos",
destacou Oreiro. Ele lembrou que, daqui para frente será mais difícil para o
governo conseguir realizar o ajuste fiscal com a colaboração do Congresso
Nacional.
Na avaliação
do especialista, as manifestações deste domingo e o panelaço em algumas
capitais no último dia 8 são reflexos do descontentamento da classe média e dos
remediados que estão perdendo o poder de compra para a inflação. Ele lembrou
que os brasileiros estão sentido no bolso o aumento de impostos que fazem parte
do ajuste fiscal e estão ocorrendo para equilibrar as contas do setor público
que fecharam 2014 com um rombo de R$ 32,5 bilhões.
A multidão
que lotou neste domingo (15) as ruas também agrava os problemas políticos da
presidente Dilma. Ao longo da semana passada, lideranças partidárias do
Congresso ressaltaram que era preciso esperar o tamanho da "voz rouca das
ruas" para mensurar o nível de insatisfação com o Planalto. E a resposta
impressionou os congressistas.
A presidente
tem uma relação conflituosa com o principal aliado, o PMDB. Dilma tentou
corrigir um pouco as distorções, convidando o vice-presidente Michel Temer e o
ministro da Secretaria da Aviação Civil, Eliseu Padilha, para o Conselho
Político. Convidou também Aldo Rebelo (Ciência e Tecnologia) e Gilberto Kassab
(Cidades) para o colegiado. Mas, para avaliar os protestos, manteve o núcleo
petista original.
Além disso,
nesta semana, a CPI da Petrobras ouvirá o depoimento do ex-diretor de Serviços
da Petrobras, Renato Duque, apontado pelo doleiro Alberto Yousseff e o
ex-diretor de Abastecimento, Paulo Roberto Costa, como operador do PT no
esquema de pagamento de propinas.
Ao longo
desta semana, Dilma reunirá seu conselho político e as bancadas do PT, PMDB e
PSDB vão debater os desdobramentos das manifestações e da crise política vivida
pelo governo.
Sem
contornar a crise política, Dilma terá dificuldades para recuperar a combalida
economia brasileira, que, pelas últimas projeções revistas de vários
economistas é de uma queda de 1,5% no Produto Interno Bruto (PIB) deste ano.
Enquanto isso, a inflação oficial deverá ultrapassar 8% este ano, bem acima do
limite de 6,5% que deveria ser perseguido pelo governo. Ao ver de Oreiro, o
discurso de que tudo está bem e que os problemas estão lá fora não estão mais
convencendo. "O governo está tomando a estratégia errada ao lidar com essa
crise. Está sofrendo de dissonância cognitiva em alto grau",
resumiu.
Multidão nas
ruas
As
manifestações cocorreram em 25 cidades brasileiras e em algumas cidades no
exterior, como Miami e Nova York (Estados Unidos), Londres (Inglaterra), Buenos
Aires (Argentina), Sidney (Austrália) e Lisboa (Portugal).
Em Brasília,
mais de 50 mil pessoas ocuparam o gramado em frente ao Congresso Nacional, de
forma pacífica. No entanto, no fim da tarde, houve alguns conflitos entre
manifestantes e a polícia, resultando em 10 prisões e um total de 17 pessoas
feridas.
Protestos em
São Paulo foram os que reuniram maior número de pessoas
São Paulo
foi a cidade que mais teve manifestantes. De acordo com dados da Polícia
Militar, um milhão de pessoas ocuparam a Avenida Paulista em protesto contra
presidente Dilma, mas, pelas contas do Datafolha, o público foi de 210 mil
manifestantes. Não houve incidentes graves, de acordo com as autoridades.
O grande
número de pessoas que foram para as ruas protestar surpreendeu governistas que
tentavam desqualificar o movimento afirmando que apenas eleitores do senador
Aécio Neves (PSDB-MG), derrotado nas urnas em novembro passado, estavam
presentes.
A maioria
dos manifestantes demonstrava insatisfação com os escândalos de corrupção
envolvendo parlamentares do PT e da base aliada e com o descontrole na condução
da política econômica.
O tucano
Aécio Neves não participou das manifestações, mas demonstrou apoio. O Palácio
do Planalto não se pronunciou durante os protestos. Somente, no fim da tarde,
os ministros da Justiça, José Eduardo Cardozo, e da Secretaria-Geral da
Presidência, Miguel Rossetto, concederam uma entrevista coletiva para comentar
os eventos em todo o país.
O ministro
Rossetto afirmou que os protestos partiram de um setor que não votou na
presidente Dilma, mas os qualificou como "legítimos". "As
manifestações contrárias ao governo são legítimas. O que não é legítimo é o
golpismo, a intolerância, o impeachment infundado que agride a
democracia", afirmou.
Na avaliação
de Cardozo, as manifestações ocorreram “dentro da legalidade” e “com mais
absoluto respeito às autoridades”. “A realização dessas manifestações apenas
confirmam que o Brasil vive um estado democrático, um estado que admite a
divergência, que admite a existência de opiniões contrárias, e que de fato está
muito longe de qualquer alternativa golpista”, disse ele acrescentando que o
país está “muito longe de golpismos” e que o governo está disposto a
"ouvir a voz das ruas".
Novo
pacote
Rossetto e
Cardozo informaram que Dilma anunciará "nos próximos dias" um
conjunto de medidas de combate à corrupção e à impunidade. Eles afirmaram que o
governo não quer se limitar a esse pacote e, por isso, estará "aberto ao
diálogo".
Ao destacar
que uma das bandeiras das manifestações foi o combate aos desvios do dinheiro
público, Cardozo destacou que "o governo tem uma clara postura de combate
à corrupção". "Ao longo desse últimos tempos (o governo) tem criado
mecanismos que propiciam as investigações com autonomia”, disse.
O
ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, criticou as
falas do ministro da Justiça em sua página no Twitter. "Cardozo insiste
num erro deliberado e frequente: o de insinuar que as iniciativas do MPF e da
PF são impulsionadas pelo Governo", afirmou.
Com
informações de Guilherme Pera, João Bosco e agências
*Colaborou
Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Por Rosana
Hessel. Foto: Gustavo Moreno/CB/D.A Press - 15/03/2015