quinta-feira, 26 de março de 2015

Empresa investigada pela Lava Jato pede recuperação judicial

Galvão Engenharia citou 'atual condição financeira' como justificativa. Problemas foram agravados por inadimplência da Petrobras, diz a empresa.

Uma das empresas investigadas pela Lava Jato, a Galvão Engenharia informou nesta quarta-feira (25) que entrou com pedido de recuperação judicial. Segundo comunicado divulgado pela empresa, a decisão é resultado de sua “atual condição financeira”, “agravada pela inadimplência de alguns de seus principais clientes, dentre eles a Petrobras. A companhia estatal não honrou pagamentos de serviços adicionais executados, por ela solicitados e atestados”.
Procurada pelo G1, a Petrobras não se pronunciou sobre o caso até as 22h desta quarta-feira.
A Galvão Engenharia teve o nome relacionado à Operação Lava Jato em novembro de 2014, quando a Polícia Federal deflagrou a sétima fase da investigação. Na ocasião, o diretor deNegócios da empresa, Erton Medeiros, foi detido pelos policiais. Ele ficou detido inicialmente na Superintendência da Polícia Federal, mas na terça-feira (24) foi transferido para o Complexo Médico Penal de Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba. Atualmente, ele responde a um processo com outros seis acusados, pelos crimes de corrupção passiva, corrupção ativa, uso de documento falso, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro.
A recuperação judicial é uma medida para evitar a falência de uma empresa. É pedida quando a empresa perde a capacidade de pagar suas dívidas. É abordada no
capítulo três da lei Lei de Falências e Recuperação de Empresas (LFRE), de 2005. De acordo com a lei, a recuperação judicial tem como objetivo viabilizar que a empresa supere a situação de crise econômico-financeira, buscando evitar a falência.
Com isso, a empresa mantém sua produção, o emprego dos trabalhadores e o interesses dos credores (que querem ser pagos), “promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica”, diz a lei.

Segundo a Galvão Engenharia, a partir do final de 2013 houve atrasos recorrentes em pagamentos devidos pela Petrobras em diversos contratos”. A empresa também cita “retração do mercado de crédito para o segmento de infraestrutura, fortemente impactado pela Operação Lava Jato”.

“O Grupo Galvão declara que sempre esteve à disposição das autoridades para colaborar com as investigações e que jamais participou de qualquer tipo de suposto ‘cartel’ de empresas em prejuízo dos interesses de seus clientes”, disse a empresa em nota. “Em depoimento, testemunha de acusação no processo judicial em curso, confirma que a Galvão Engenharia não participava do suposto ‘clube’ sob investigação.”
A empresa diz que “todos os seus contratos foram obtidos dentro da legislação vigente e com significativas vantagens para a Petrobras”. “O Grupo Galvão declara que está atento aos processos judiciais a que respondem seus executivos. Vale destacar que nessas ações há diversas depoimentos (Declarações do Ex-Diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa e do Senhor Alberto Youseff) evidenciam desvios na gestão, que permitiram que a Galvão Engenharia fosse vítima de extorsão, conforme exposto na defesa de seus executivos.”

Propina
A defesa de Erton Medeiros Fonseca, diretor da Galvão Engenharia preso pela Operação Lava Jato, admitiu que o cliente pagou propina ao esquema de corrupção que atuava na Petrobras, com objetivo de evitar que a Galvão Engenharia fosse prejudicada em contratos que mantinha com a estatal do petróleo. Os advogados chegaram a protocolar comprovantes de pagamentos de R$ 8.863.000.
Segundo os advogados de Fonseca, os pagamentos foram feitos ao empresário Shinko Nakandakari – apontado pelo dirigente da Galvão Engenharia como operador da Diretoria de Serviços da Petrobras, à época comandada por Renato Duque.

O documento anexado ao processo da Lava Jato pela defesa de Fonseca mostra que a Galvão Engenharia efetuou 20 transferências para a LFSN Consultoria, nas contas de Luis Fernando Sendai Nakandakari e Juliana Sendai Nakandakari, sócios da empresa. Os repasses foram feitos entre 8 de janeiro de 2010 e 25 de junho de 2014.

O empresário Shinko Nakandakari, por sua vez, enviou à Justiça Federal do Paraná uma petição na qual nega ter cobrado propina de empreiteiras que prestam serviços à estatal. "Shinko Nakandakari precisa ser ouvido pelas autoridades a fim de trazer os fatos de volta à realidade [...] Diante do exposto, o Peticionário [Nakandakari] requer lhe seja deferida a extração de cópia integral dos autos da investigação, notadamente do(s) depoimento(s) prestado(s) por Erton Medeiros Fonseca e de tudo o mais que envolva o seu nome, a fim de que possa ter ciência de todos os fatos e, ainda, prestar às autoridades os esclarecimentos necessários", ponderou à Justiça Federal o advogado de Nakandakari, à época.





Fonte: G1