Entre, converse, apresente seus
problemas, e vamos trabalhar juntos em busca da melhor solução. A frase que não
foi dita – como diria Ari Cunha, em seu Visto, Lido e Ouvido – martelou a
cabeça de Celina Leão, atravessou o Eixo Mionumental e chegou ao Palácio do
Buriti, onde Rodrigo Rollemberg, agradecido, sorriu. Afinal, a Câmara é do
povo. E nada mais justo que o governador, legítimo representante do povo tanto
quanto os deputados, receba na hora do aperto o socorro dos distritais.
A disposição
do Legislativo em ajudar o Executivo a vencer a crise financeira que se abateu
sobre o Governo do Distrito Federal, foi manifestada nesta quarta-feira 7, pela
presidente da Câmara Legislativa em entrevista a Notibras. “Nós
podemos e vamos ajudar, votando e aprovando democraticamente todos os projetos
que
Rollemberg nos encaminhar para enterrarmos a herança maldita deixada por
Agnelo Queiroz”, disse Celina, que vai presidir a Casa pelos próximos dois
anos.
Se os cofres públicos foram deixados
vazios pelo governo do PT, não foi por falta de aviso. Hoje o GDF sofre
principalmente para pagar os servidores públicos. E a pedetista Celina Leão,
que urrou contra os desmandos de Agnelo Queiroz ao longo dos quatro anos na
Oposição, lembra que quando foram encaminhados os projetos para os reajustes
das categorias, foi ela a primeira a questionar se haveria caixa para cobrir os
contra-cheques.
- O
Palácio do Buriti se fez de surdo às nossas ponderações. Reinou o silêncio. Se
Agnelo tivesse ouvido nossas preocupações teria feito um governo menos ruim e
os servidores e os empregados terceirizados não estariam vivendo o drama
atual, avalia a deputada.
Celina é dócil no falar e nos gestos.
Nada faz lembrar o sobrenome da realeza da selva. Mas nem por isso deixa de ter
o brilho do Sol, estrela central do nosso Sistema que dissipa a obscuridade de
tudo à sua volta. Perto dele só há nudez aos olhos humanos. E é justamente essa
figura, centralizada num quadro abstrato, que ilumina as madeixas loiras e o
mandato de Celina Leão em seu novo aposento da Câmara Legislativa – a
presidência.
Foi em seu
novo e amplo gabinete que a deputada recebeu a equipe de Notibras. Uma
conversa franca, proveitosa e prazerosa. E já na porta, onde nos recebeu com
carinho, a deputada foi enfática: “Disse aos meus assessores que isso aqui não
pode subir à cabeça. As pompas do poder são pó. E de nada vale tudo isso se não
trabalharmos em benefício do povo”, sentenciou.
Quem se
aproxima da sede do Legislativo brasiliense se depara com um grande letreiro. “Pode
entrar que a casa é sua”. Talvez venha daí a inspiração para que
Celina ofereça a Rollemberg toda a parceria necessária para tirar a capital da
República do sufoco. Porém, como se trata da Casa do povo, a presidente também
promete abrir as portas para o humilde brasiliense que não se sente confortado
quando procura por seus representantes.
Por isso, Celina tem sustentado entre
seus pares a ideia de aproximar a Câmara da população. Não só nas palavras, é
claro. Uma das medidas é implantar a leitura digital dos visitantes e reduzir a
rigidez nos trajes. Embora reconheça a possibilidade de receber críticas, ela
entende que a mudança evitará que qualquer pessoa seja impedida de entrar na
própria Casa, ou por esquecer a identidade ou por estar de bermuda, por
exemplo.
- A
Câmara será (de fato) um poder independente. Mas é importante dizer que ela
atuará em harmonia com a sociedade. Vamos aproximar a população das votações,
sublinhou.
Tão fervorosa
na hora de pedir transparência na gestão de Agnelo Queiroz, Celina Leão não
quer ter telhado de vidro. Vai expor à sociedade o Sim e o Não do deputado durante as discussões de
projetos importantes e polêmicos, como a que desejava blindar os parlamentares
contra cassações. Um dos avanços será a implantação do Painel Eletrônico no plenário.
Em outras palavras, transparência total.
Mas há o lado das cobranças, das
correções, de punir o mal feito para evitar que supostos atos de desmandos se
perpetuem. E com tantos insumos produzidos pelo antigo governo, motivos para a
constituição de Comissões Parlamentares de Inquérito, não faltam. Apenas pelas
mãos da agora presidente foram protocolados seis pedidos de CPIs. Entretanto,
praticamente solitária na oposição na legislatura passada, as propostas não
receberam nem número e nem carimbo de processo. Foram, assim, sumariamente
barrados pela base aliada de Agnelo.
De todas as CPIs propostas, talvez a
que pudesse fazer maior barulho e até mesmo estancar uma fenda dispendiosa de
recursos seria a que tem o transporte público como alvo. Durante a licitação
para renovar a frota de ônibus, a deputada fez faz várias denúncias em
Plenário. Muitas delas fizeram o Tribunal de Contas do Distrito Federal
levantar as antenas em sinal de alerta.
Sobre o tema transportes, hoje Celina
defende uma reavaliação da chamada tarifa técnica. Subsidiada em parte pelo
GDF, a passagem custa 80 centavos diretamente para os cofres públicos, enquanto
do bolso do passageiro saem 2 reais.
Fora o
sanguessuga nessa área, o Palácio do Buriti teve seu orçamento desnutrido pela
construção do Estádio Nacional Mané Garrincha. É outro assunto que desperta uma
eventual CPI. Enfim, Celina tem um rol significativo com pautas dignas de
investigação. Contudo, muita coisa vai depender d Câmara que ela preside. “É
uma Casa de colegiado. Se os deputados acharem que é necessário discutir e
abrir as investigações, assim faremos”, garante.
Na legislatura passada, Celina
integrou uma oposição de três distritais. E agora que ocupa o cargo de
presidente da Câmara Legislativa, terá pela frente um grupo de insurgentes de
nove colegas. Mas nada que a preocupe. “Eu não tenho receio dessa oposição”,
revela. E observa: “Agnelo não entendeu a oposição, mas Rollemberg tem essa
intenção”.
Os dois últimos presidentes que
passaram pela cadeira atualmente ocupada por Celina Leão tiveram posturas
diferentes. Enquanto o ex-deputado (e ex-cabo) Patrício, truculento e que pouco
aparecia em Plenário, inventando rondas (como fazia quando policial militar)
para fugir da caserna, seu sucessor Wasny de Roure comandou praticamente todas
as sessões. Mas Celina rebate futuras comparações: “Não quero me balizar por
outros presidentes. Quero deixar a minha marca”, acentua.
Muita gente já aposta que a principal
marca da nova presidente da Câmara Legislativa será a da sensibilidade. Por ser
mulher, Celina acredita que essa característica pode ajudar, ela e sua vice, a
deputada Liliane Roriz (PRTB) a desenvolveram um trabalho que renda frutos para
a sociedade. Há, porém, quem sugira que além da sensibilidade, a deputada
precisará mostrar na selva em que se transformou a política brasiliense, o que
fez durante todo o governo de Agnelo: as garras de uma leoa.
Elton
Santos, com as participações de José Seabra e Kleber Ferriche
Fonte:
Notibras