domingo, 28 de setembro de 2014

Assassinado sobrinho de Frejat. Polícia faz críticas ao uso político

Jofran Frejat compareceu ao velório e ao enterro do estudante, no Cemitério Campo da Esperança Estudante da Universidade de Brasília, o parente do candidato ao GDF foi atingido por um tiro na entrada de uma festa no Setor de Clubes Sul. Duas pessoas ficaram feridas por disparos que partiram de um veículo que passava pelo local

A alegação de que a morte de Victor seja decorrência de problemas da segurança pública, conforme disse o candidato Jofran Frejat, na noite do crime, foi criticada por representantes das polícias Civil e Militar. A Polícia Militar descartou que a ação visasse assalto ou sequestro relâmpago. “A pessoa atirou indiscriminadamente, de dentro do veículo, e foi embora. Foi uma ação totalmente isolada”, explica a comandante do 1º Batalhão (Asa Sul), tenente-coronel Sheila. Ela afirma que o fato não tem relação com falta de policiamento. “Não podemos associar o episódio à falta de policiamento, uma vez que não é uma situação que possa ser prevenida. Uma pessoa que sai armada de casa e desfere tiros contra um grupo de jovens não há como relacionar com a falta de efetivo”, diz a tenente. ...

No dia do crime, havia duas viaturas e oito policiais militares destacados exclusivamente para o Setor de Clubes Sul, segundo a comandante. Assim, das 10h às 18h, uma viatura e três PMs faziam a ronda. Das 22h às 6h, por sua vez, eram duas viaturas, sendo que uma delas tinha três policiais e, outra, dois militares. Durante a
semana, o foco é a ronda durante o dia, período de maior movimento, por causa dos restaurantes. O policiamento noturno costuma ser reforçado, de sexta-feira a domingo, em razão dos eventos que ocorrem na área”, completa. A corporação não havia sido informada da ocorrência da festa, diz a tenente-coronel. “Nós sempre recebemos uma lista de eventos que ocorrerão no dia e essa festa não constava na nossa relação”, afirma. O Correio tentou contato com a organização do evento, mas ninguém retornou às ligações.

O uso político do crime também foi questionado pelo diretor-geral da Polícia Civil do DF, Jorge Xavier. “Lamento que (o homicídio) tenha sido trazido para o debate eleitoral. Trata-se de um oportunismo barato”, afirmou. Segundo ele, as taxas de homicídio têm diminuído nos últimos anos. “ A PCDF não olha CPF nem CEP da vítima. Toda vítima é vítima”, disse. Sobre a identificação de um suspeito para o fato, o diretor-geral preferiu não comentar. “A Polícia Civil vai identificar, prender o autor e apresentar o motivo. Este é um trabalho que está sendo feito pela 1ª DP”, garantiu.



Assassinado sobrinho de Frejat 

Estudante da Universidade de Brasília, o parente do candidato ao GDF foi atingido por um tiro na entrada de uma festa no Setor de Clubes Sul. Duas pessoas ficaram feridas por disparos que partiram de um veículo que passava pelo local

O assassinato do estudante Victor Barbosa Gaze Sobral, 21 anos, provocou comoção entre amigos e familiares e foi um dos principais temas abordados pelos candidatos ao governo do Distrito Federal ontem. O estudante, que era sobrinho-bisneto de Jofran Frejat (PR), foi atingido por um tiro, na porta de uma festa universitária, no Setor de Clubes Esportivos Sul, na última sexta-feira. Ele e a namorada conversavam na calçada quando suspeitos passaram, em um veículo, e dispararam contra um grupo de 50 pessoas. Victor morreu no local, e duas vítimas foram atingidas e levadas a hospitais.



O crime ocorreu por volta das 22h, no Espaço Orla, próximo ao Clube de Engenharia e ao shopping Pier 21. O rapaz e a namorada estavam sentados no meio-fio e decidiam se entrariam na Calourada do DCE UniCeub quando os tiros foram disparados de dentro de um Fiat Uno prata. Um prójetil de pistola calibre .380mm, de uso permitido a civis, perfurou o tórax, atingiu o pulmão e o coração de Victor e provocou uma hemorragia interna. Outros dois rapazes, cujas identidades não foram divulgadas, se feriram, um na coxa e outro na cabeça, de raspão. No momento dos tiros, houve correria e muitas pessoas se jogaram no chão de acordo com o vendedor de cachorro-quente Bernardo Gomes, 53 anos. “Não vi o carro, só a movimentação. Estava muito cheio e as pessoas começaram a correr, assustadas, se jogando nas mesas. Nunca tinha visto algo assim, porque a galera que vem nessas festas é muito do bem”, disse. Na confusão, testemunhas anotaram a placa do veículo.

Uma das hipóteses é de que Victor tenha sido atingido acidentalmente durante um acerto de contas entre criminosos que estavam no local, de acordo com o tio-avô do jovem, o advogado Themóstecles Rocha, 75 anos. “O que soubemos é que um bandido estava à procura de um desafeto na festa e passou atirando. Parece que tanto o alvo quanto o autor são do Guará. O desafeto chegou a ir para o hospital, mas fugiu de lá”, afirmou. 

A 1ª Delegacia de Polícia (Asa Sul), que investiga o caso, não confirmou se há suspeito identificado nem qual a motivação para o crime. O delegado de plantão da unidade afirmou que agentes da Polícia Civil passaram parte do dia na rua, ontem, apurando o caso. “Os homens foram a campo atrás de mais informações para elucidar o caso. A investigação corre em sigilo. Assim que chegarmos aos culpados, revelaremos quem eles são”, disse. Ele, porém, não é o responsável pelo caso. “A doutura Mabel de Farias, delegada-chefe da 1º DP, que está à frente das investigações”, explicou.

Inocente

Victor era tido como um rapaz tranquilo e tímido. Estudante de letras na Universidade de Brasília, atuava como professor de inglês na escola de idiomas do pai. Os dois moravam na 715 Sul; a mãe do garoto é também professora a serviço do Itamaraty, na Indonésia. Ela foi comunicada da morte do filho e deve chegar ao Brasil ainda hoje. “Ele era um menino muito bom, nunca teve desavenças com ninguém. Lembro-me de ele ser calado, muito discreto e falar pouco. Estava sempre com o pai na casa de meus cunhados, aos sábados à noite, quando toda a família se reunia”, detalhou o tio-avô Themóstecles Rocha.

A dedicação ao trabalho era uma característica marcante do rapaz, de acordo com a administradora Isabella Leão, 21 anos. Ela assistiu à última aula de Victor, no sábado passado. “Era muito inteligente e as aulas dele eram conhecidas por serem muito boas. Ele me deu a aula de despedida, porque a partir de agora, ele queria se dedicar exclusivamente ao curso de Letras”, contou. Isabella se lembra da gentileza de Victor. “Era muito educado conosco”, afirma. A dentista Regina Cardos, 25, se emociona ao lembrar a personalidade do jovem. Ela é neta da madrinha de Victor e costumava encontrá-lo na casa de parentes. “Era um menino muito calmo, muito querido. Não conseguimos entender como uma coisa dessas pôde acontecer a ele. Ele era muito estudioso e tinha um grande futuro pela frente”, lamentou. 

Velório e enterro ocorreram ontem à tarde, no Cemitério Campo da Esperança, na Asa Sul. Por volta das 14h, o corpo chegou e foi velado até as 17h. Cerca de 150 pessoas, entre amigos e familiares, compareceram à cerimônia. O clima era de comoção e indignação pela morte repentina. Um amigo, que preferiu não se identificar, criticou a segurança pública. “Estudei com ele no ensino médio e sempre tentávamos marcar de reencontrar a turma. Infelizmente, nos reencontramos no velório. Como pode uma pessoa sair para uma festa e acabar morta? Não temos mais tranquilidade”, reclamou. 


Baleado na porta de casa
Por volta das 14h de ontem, João Vitor da Silva, 54 anos, foi atingido por um tiro no peito. O crime aconteceu na porta da casa dele, na Quadra 308 de Santa Maria. De acordo com vizinhos, foram ouvidos vários tiros, mas ninguém viu quem disparou. A vítima foi socorrida por um vizinho, que o levou para o Hospital Regional de Santa Maria. João Vitor não resistiu ao ferimento. Até o fechamento desta edição, a polícia não havia identificado o autor ou os autores dos disparos. 


Perfil




Victor Barbosa 
Gaze Sobral

Idade: 21 anos
Naturalidade: Brasília
Residência: 715 Sul
Profissão: estudante de letras na Universidade de Brasília e professor de inglês
Hobbies: era músico, tocava guitarra em uma banda de heavy metal

Repercussão  

Rodrigo Rollemberg 

Rodrigo Rollemberg (PSB) ligou para o adversário ontem pela manhã, logo que soube da notícia. “Falei com ele para prestar solidariedade. Como pai de família, manifestei minhas condolências. Um momento como esse nunca é fácil de superar”, afirmou, ontem, em caminhada em Ceilândia. Ele aproveitou para criticar o atual governo e disse que isso é um reflexo do “caos que vive a cidade”. “O fato demonstra o ambiente de insegurança em que vive Brasília”, declarou.


Agnelo Queiroz

Agnelo Queiroz, após reunião com líderes comunitários, afirmou que “não politarizaria” a morte do jovem, sobrinho de Frejat, em resposta à acusação dos advesários de que falta segurança pública no DF. “Aconteceu um crime, uma tragédia. Está sendo investigado. Tenho certeza de que a nossa polícia tem capacidade de prender o criminoso. Sentimos muito pelo acontecimento. Sou solidário à família. Isso de um criminoso dar um tiro a esmo temos que lamentar, mas jamais politizar o fato. Isso seria um crime do mesmo tamanho do acontecimento.”


Toninho do PSol
Toninho do PSol, em campanha por Taguatinga, comentou a morte do sobrinho de Frejat. “É uma tragédia sem precedentes. Queria registrar meu pesar pela brutal morte de um jovem com a vida toda pela frente. É um absurdo e, infelizmente, pode acontecer com qualquer um de nós. É mais uma prova da banalização da violência na capital federal. A situação da segurança pública não vai bem. Se, em uma área nobre, isso vem ocorrendo com frequência, imagina nas periferias como está o grau de insegurança da população.”


Luiz Pitiman
O candidato Luiz Pitiman (PSDB) lembrou que estava com Jofran Frejat (PR), ontem, horas antes de o familiar do candidato ser assassinado. “Estávamos no debate que a TVRecord promoveu. Foi um verdadeiro absurdo o que aconteceu. É uma pena”, lamentou. “É mais um sinal da violência geraralizada que vive Brasília. Em uma cidade em que caixas eletrônicos são arrombados e pessoas são mortas por balas perdidas, significa que não temos mais a segurança que orgulhava a capital. Precisamos de uma mudança de comando, tanto no Executivo local quanto na chefia das polícias”, disse.


Fonte: Correio Braziliense. Por MARYNA LACERDA, MATHEUS TEIXEIRA e PALOMA SUERTEGARAY - 28/09/2014