Negociação envolvendo o repasse oficial de recursos
financeiros do PT para o PMDB abriu uma crise entre os dois partidos, os
maiores da coligação pela reeleição da presidente Dilma Rousseff.
Sem aval do comando peemedebista, o presidente do
Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), costurou o recebimento de uma ajuda de
campanha de R$ 35 milhões.
O PT, que arrecadaria o valor por meio de doações
legais de empresas, repassaria a quantia a cinco candidatos do PMDB a governos
estaduais em Rondônia, Amazonas, Paraíba, Pará e Alagoas -onde Renan Filho é o
nome do partido na disputa.
Em quatro desses Estados o candidato peemedebista
tem o apoio oficial do PT (a exceção é em Rondônia)...
O vice-presidente da República, Michel Temer
(PMDB), foi informado da exclusão da maioria do partido no repasse e exigiu que
fosse feita uma distribuição igualitária para todos os candidatos da sigla.
Segundo relatos ouvidos pela reportagem da Folha, a
negociação com Renan foi acertada com Aloizio Mercadante (PT), ministro da Casa
Civil. Por meio de sua assessoria, o ministro negou que tenha tratado do
assunto com Renan ou com "qualquer liderança do PMDB": "A Casa
Civil não trata das finanças de campanhas, sendo este um tema exclusivo dos
partidos".
O mal-estar no PMDB chegou aos ouvidos de
assessores de Dilma. Congressistas afirmam que o imbróglio foi o principal
motivo da volta de Temer à presidência do partido. Porém, a equipe de Temer
nega, alegando que ele voltou ao comando do PMDB para estar à frente da
interlocução política na campanha.
Pelo desenho acordado entre PT e PMDB, seriam
repassados cerca de R$ 8 milhões para Alagoas, Paraíba, Amazonas e Pará.
Rondônia, Estado do então presidente do partido, Valdir Raupp, ficaria com R$ 3
milhões.
"Eles acharam que ninguém ficaria sabendo. Tem
que ser socializado", ironiza um cacique do PMDB à Folha. A cúpula do
partido quer contemplar, entre outros, os candidatos ao governo de Goiás, Iris
Rezende, do Ceará, Eunício Oliveira, e do Rio Grande do Norte, Henrique Eduardo
Alves. Nenhum deles é apoiado pelo PT.
Petistas negam a articulação, mas afirmam que há
pressão de aliados –como PMDB, PR e PP– para ajuda nos Estados.
Um peemedebista da cúpula da legenda explica, sob a
condição do anonimato, a "dependência'' da doação intermediada pelo PT:
segundo ele, o empresário doa com mais facilidade "para quem manda''.
Auxiliares do comitê presidencial afirmam que a ordem é ajudar, mas só depois
que conseguirem resolver a campanha nacional.
Além disso, a orientação é "endurecer'' com
partidos que possuem ministérios, como o PMDB, já que, na avaliação petista, os
titulares das pastas têm interlocução com o empresariado.
Segundo relato de participantes da negociação,
houve acerto e o valor será distribuído de maneira "igualitária''. Outros
peemedebistas afirmam que a negociação não se concretizou. A assessoria do
Temer afirma que os partidos da coligação nacional tentarão auxiliar
"politicamente'' todos os palanques estaduais que estiverem alinhados com
Dilma.
Eunício Oliveira (tesoureiro do PMDB) afirma que o
assunto nunca foi tratado com ele. Já o tesoureiro do PT, João Vaccari, não se
manifestou. Na sexta (25), a Folha tentou, mas não conseguiu falar com Renan
Calheiros.
Fonte: Por ANDRÉIA SADI e RANIER BRAGON, portal UOL - 27/07/2014