terça-feira, 15 de outubro de 2013

Eles não sabem o que fazem

Interior da igreja quando a reconstrução foi autorizada,
em janeiro: pedido para restauração era antigo
Inaugurada, ontem, como se estivesse totalmente restaurada, a Igreja de São Sebastião, no Setor Tradicional, em Planaltina DF, ainda tem 15 pontos de pendência na estrutura física. É o que conclui a avaliação feita pela Associação dos Amigos do Centro Histórico de Planaltina (AACHP), que encontrou inadequações no piso, no forro, na parte elétrica, entre outros. O local foi fechado para obras em janeiro deste ano e, em princípio, deveria ser devolvido à população em julho. Três meses depois do prazo previsto para a entrega, o que se vê é apenas um salão com bancos de madeira e alguns lustres. Uma mesa, coberta por forro branco, compõe o altar. Isso porque todo o acervo — incluindo a imagem do santo que dá nome à paróquia — foi retirado do local e, até
semana passada, estava abandonado no chão.

Os reparos na fachada, no telhado e nas paredes custaram cerca de R$ 500 mil, oriundos do Fundo de Desenvolvimento do DF (Fundhurb), da Secretaria de Habitação, Regularização e Desenvolvimento Urbano do DF (Sedhab). O corpo técnico responsável pela reforma, por sua vez, ficou a cargo da Secretaria de Cultura (Secult). O investimento atende  uma reivindicação da população, que há seis anos denunciava o risco de desabamento a que estava sujeita a edificação, de acordo com a presidente da AACHP, Simone dos Santos Macedo. “Há anos nós lutamos para que a igreja seja restaurada. Isso aqui é parte da história da cidade e do Distrito Federal”, defende. Ela explica que o problema era mais grave na parede dos fundos, em que as rachaduras expunham o adobe do século 19 às intempéries.  ...

O levantamento apresentado pela AACHP é assinado pelo arquiteto Rogério Carvalho, que visitou a igreja, nos últimos meses, a convite da associação. A última avaliação ocorreu na semana passada e seu veredicto é nada positivo. “O que está lá é uma barbaridade. O piso está irregular e não é possível andar sem tropeçar. O forro está completamente desigual porque foi usada madeira verde. Aí empena mesmo. Além disso, os níveis de acabamento são muito ruins”, criticou.

Por ser a igreja mais antiga do DF, a população de Planaltina preocupa-se com a manutenção de sua história. “A (igreja) São Sebastião é importante por causa da crença, pelo patrimônio que ela guarda. Nós todos somos ligados a ela”, conta a dona de casa Alessandra Cauren, 42 anos. Os meses em que o templo ficou fechado obrigaram a mulher a mudar de local de refúgio espiritual. “Eu gostava de vir aqui para rezar, conversar com Deus. Com as portas fechadas, tive que procurar outra igreja para estar em comunhão”, contou.

Ponto turístico

A capela é parte da vida de Salviano Guimarães, arquiteto e pioneiro da cidade. “Meus pais casaram-se aqui. Eu e minha esposa também. Além disso, meus antepassados foram velados neste salão. É por isso que eu digo que a história de minha família confunde-se com a da São Sebastião”, afirma Guimarães. Ele defende, ainda, que ela é o marco da cidade, uma vez que o município se desenvolveu em torno desse símbolo de fé. “É uma joia plantada no coração de Planaltina. Ela reflete o equilíbrio da arte colonial, com suas linhas e formas discretas”, afirma.

Justamente por causa da arquitetura, a capela é hoje um ponto turístico. “Vejo muitas pessoas de outras cidades do DF e até mesmo de outros estados passarem aqui para vê-la”, conta a psicopedagoga Kátia de Paula, 43 anos. Kátia acredita que o lugar poderia atender mais as atividades religiosas da comunidade. “Aqui é mais para turismo do que para missa. De vez em quando, tem velório de pessoas ilustres da cidade. Mas acho que poderia ter novenas, celebrações. Hoje, fica tudo centralizado na Matriz ou em outras paróquias”, sugere.

A reinauguração de ontem é parte do programa de recuperação do patrimônio histórico de Brasília, de acordo com o governador Agnelo Queiroz. “É uma honra para nosso governo entregar para a população um templo de Deus que faz parte não só da história de Planaltina, como também de Brasília”, disse Agnelo, durante a solenidade.

Lista de problemas


» Piso empenado

» Forro do teto torto

» Parte elétrica sem revisão

» Imagens sacras e bancos sem higienização

» Pedras da parte externa com manchas de cimento

» Banheiro de segurança distante do público

» Remoção da vegetação na parte posterior do templo

» Distribuição inadequada dos extintores de incêndio

» Falta de nicho que caiba a imagem de São Sebastião

» Falta de rampas de acessibilidade

» Piano sem afinação nem local que o caiba

» Realinhamento da calçada do sino com a calçada da igreja

» Devolução da imagem do Cristo para a Matriz

» Falta de projeto de manutenção e de uso da obra restaurada

» Falta de placas indicativasa

Por Maryna Lacerda
Fonte: Correio Braziliense - 15/10/2013