quinta-feira, 27 de junho de 2013

Doméstico busca outra opção

Dez mil postos desapareceram em dois meses. Os profissionais do ramo procuram carreiras mais promissoras. As famílias, cautelosas, evitam contratar até identificar o tamanho do impacto financeiro de manter um trabalhador em casa

O número de empregados domésticos no Distrito Federal é o menor das últimas duas décadas. Em maio deste ano, 76 mil trabalhavam em casas de família fazendo serviços como o de faxineiras, jardineiros, caseiros e motoristas, por exemplo. No mesmo período, em 1993, eram mil a mais. Em 2007, eles chegaram a 106 mil, um recorde desde os anos 1990. A queda mais acentuada ocorreu neste ano, em que 10 mil postos de trabalho desapareceram desde janeiro, sendo 7 mil entre março e abril. Os dados são da Pesquisa de Emprego e Desemprego divulgada ontem pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). ...

Uma das causas para esse fenômeno pode ser a Emenda à Constituição nº 72, conhecida como a Lei das Domésticas. Para especialistas, a nova regra assustou os empregadores, pois impõe mais obrigações que elevam o custo desse posto de
trabalho. Com isso, as famílias ainda estão testando o quanto as exigências vão pesar no orçamento doméstico.

A advogada Dalila Brandão lembra que, dos 17 direitos a mais conquistados pelas domésticas, sete ainda não estão regulamentados, como, o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), o adicional noturno e o seguro desemprego, o que aumenta a insegurança do empregado. Além disso, os custos com a empregada subiram 10% em relação às regras antigas. Se contabilizar a hora extra diária, o aumento é de 20%. “O Brasil está seguindo o caminho de países desenvolvidos, nos quais ter uma empregada é oneroso. E, nesse primeiro período de mudança, é natural ter menos gente contratando por conta das adaptações”, explica.

Outro motivo para a redução dos postos de trabalho tem a ver com uma decisão dos próprios profissionais. Com mais anos de estudo, eles vislubram outras opções de emprego, que oferecem melhores perspectivas de ascensão profissional. Assim, as vagas de doméstico deixaram de ser atrativas. “A população, em especial, a feminina — que executa a maioria das atividades domésticas —, está com mais anos de estudo por conta dos incentivos para a escolarização, como Prouni, por exemplo. Então, a gente observa uma tendência de saída de profissionais desse ramo”, explica Adalgiza Amaral, coordenadora da PED-DF.

A recepcionista Cyntia Tamires Ferreira de Souza, 22 anos, trabalhou durante seis anos como faxineira. Ela aprendeu o ofício com a mãe. Nos período em que trabalhou limpando apartamentos, Cyntia aproveitou o pouco tempo que sobrava para fazer um curso de técnica de enfermagem. Não surgiu nenhuma oportunidade na nova área, mas Cyntia conseguiu uma vaga de recepcionista. “Tudo na nova carreira é melhor. Tenho hora certinha para sair e para chegar, carteira assinada e férias”, observa. Para um futuro próximo, Cyntia planeja fazer graduação em administração de empresas.

Construção civil

 A construção civil também desacelerou na oferta de empregos e fechou maio com 2 mil postos a menos. Para Clóvis Scherer, supervisor do escritório regional do Dieese-DF, uma das explicações está relacionada à entrega de obras como a do Estádio Nacional Mané Garrincha. “Essa diminuição de vagas pode ser temporária. Com outras grandes obras, a construção deve voltar a empregar. Mas isso abre o debate sobre as obras da Copa, pois tiveram importância na manutenção dos empregos.”

 Na PED divulgada ontem, a taxa de desemprego fechou em 12,2%. Este é o menor índice para o mês de maio. A população desempregada no DF está estimada em 177 mil pessoas, 11 mil a menos do que abril. O tempo de procura por emprego caiu de 42 semanas para 39 na comparação entre maio deste ano com igual período de 2012.

Conquistas

O texto aprovado pelo Congresso Nacional e sancionado pela presidente Dilma Rousseff estende os direitos regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) aos empregados domésticos, como férias remuneradas, jornada de 44 horas semanais e hora extra.

Por Flávia Maia
Fonte: Correio Braziliense - 27/06/2013